O filme “Matrix” completou 25 anos de lançamento na semana passada. E, um quarto de século após estrear nos cinemas, nunca essa película foi tão atual. “Matrix” toca em temas que são discutidos praticamente em nosso dia a dia, como a inteligência artificial e os limites que os humanos precisam estabelecer nas máquinas que aprendem a pensar sozinhas.
Além disso, a estética vista em “Matrix” tem um legado que dura até hoje e vai sobreviver por muito mais tempo. A cena em que Neo (Keanu Reeves) desvia das balas, jogando o corpo para trás, é uma das mais vistas da história cinematográfica e utilizada em inúmeros memes.
Além disso, a primeira cena de luta marcial, com acrobacias registradas em slow-motion e utilizando uma lente que captura diversos ângulos em sequência, ficou em nossas memórias para sempre (com a atriz Carrie-Ann Moss, vivendo Trinity). Tanto que os diretores de transmissão que transmitiram os jogos olímpicos de Paris usaram o mesmo conceito para registrar momentos de ginástica olímpica e de ginástica rítmica.
No quesito inteligência artificial, porém, o roteiro nos brinda com uma possibilidade que é bastante debatida nos dias de hoje: o implante de habilidades que podem surgir instantaneamente no cérebro humano. Isso ocorre quando Neo recebe o upload de um programa com técnicas de golpes marciais e, um tanto surpreso, murmura para Morpheus (Laurence Fishburne): “Eu sei kung-fu”.
Outro tema que hoje é muito discutido diz respeito ao que as máquinas que utilizam inteligência artificial podem fazer – e quais seriam esses limites. Em filmes como “Matrix” e o “Exterminador do Futuro”, computadores pensantes dominam ou escravizam a humanidade. Quando se pensa em se regular quais seriam as fronteiras da IA, o objetivo é um só: evitar que os computadores subjuguem os humanos.
Além disso, o filme nos confronta com uma certa nostalgia dos tempos analógicos, antes que isso viesse ocorrer. O agente Smith (Hugo Weaving) diz a Neo que o auge da humanidade se deu nos anos 1990 – e é por isso que as máquinas que utilizam seres humanos como baterias projetam nas mentes de seus escravos um programa no qual as pessoas vivem em um mundo ambientado trinta anos atrás.
De fato, os anos 1990 carregavam ainda a ingenuidade pré-digital e, ao mesmo tempo, já ensaiava o uso de ferramentas que são a base da civilização atual: a internet e o telefone celular. Ainda não havia o smartphone: os aparelhos utilizados por Neo e sua turma são da linha Stiletto da Nokia, que fizeram muito sucesso na época.
A obra explora uma dicotomia típica de Hollywood: o bem contra o mal, que simula perfeitamente a polarização de nossa vida atual. Mas é sutil o suficiente para introduzir o personagem Morpheus – um herói sinistro e calejado pela falta de esperança. Para Fishburne, que deu vida ao chefe daqueles que se rebelam contra as máquinas, “Morpheus era como Obi-Wan Kenobi e Darth Vader coexistindo na mesma pessoa”, citando duas grandes referências da série “Guerra nas Estrelas”.
Por fim, Morpheus nos brinda com a escolha que Neo deve fazer: optar pela pílula azul (permanecer na ignorância) ou pela vermelha (conhecer a dolorosa realidade). Diariamente, somos colocados diante de desafios dessa estirpe – com maior ou menor importância. Muitos de nós preferem o conforto do desconhecimento. Mas nada é mais importante que enfrentar a realidade, por pior que ela seja.
E vocês, escolheriam a pílula azul ou a vermelha?