A moda do momento em inteligência artificial são os “chatbots”. Robôs capazes de conversar com fluência impressionante, por texto ou voz. Assumem também personalidades distintas, tanto fictícias como reais.
Por exemplo, de figuras históricas como Churchill ou Gandhi. Celebridades como Taylor Swift. Ou ainda, o papel de “terapeuta” ou arquétipos como “o bully da escola” ou “a mais animada da balada”.
Conversar por voz com esses bots é esquisito. Você faz uma ligação “telefônica” para ele. A conversa é como se fosse com uma pessoa real. Várias das vozes têm personalidade, charme e nuances.
Depois de passar pela experiência, dá para entender porque muita gente fica vidrada nesses bots, passando horas falando com eles.
O líder nessa área hoje é a Character.ai, cofundada pelo brasileiro Daniel de Freitas. Ela tem cerca de 20 milhões de usuários. Daniel trabalhou no Google e saiu para fundar a empresa. Há duas semanas, o Google pagou US$ 3 bilhões para licenciar a tecnologia.
No acordo, Daniel e seu cofundador voltaram a trabalhar no Google, apesar de a Character.ai continuar a existir. Algo pouco usual, provavelmente para evitar problemas antitruste.
A Character.ia tem concorrentes. Um deles é a Talkie, com 13 milhões de usuários e a Poly.ia. Ambas são de origem chinesa. Quem acha que a China está perdendo a guerra da IA precisa pensar melhor.
Nos top cinco aplicativos mais baixados de IA no planeta, dois são chineses. Um é a Talkie (quarta posição) e o outro é a Question.ia (terceira), uma IA que ajuda estudantes com o dever de casa na ausência dos pais.
Em um país como o Brasil, onde a maior parte dos pais fica fora o dia todo e os filhos ficam sozinhos sem ninguém para auxiliar nos estudos, esse tipo de aplicativo pode ser útil. Especialmente porque as famílias ricas podem contratar professor particular se necessário. Já as famílias pobres não têm nenhuma opção.
Outra característica das plataformas de chatbots é que você pode criar o seu próprio personagem. Por exemplo, decidi criar um chatbot da filósofa e ativista católica Simone Weil, que morreu de desnutrição aos 34 anos em 1943, após uma vida de sofrimento dedicada a escrever sobre temas como justiça e misericórdia.
Passei uns 50 minutos conversando com essa Simone Weil virtual. Fiz, inclusive, uma ligação telefônica com ela, e fiquei perturbado quando sua voz piedosa me chamava de “minha criança”.
Não satisfeito, decidi fazer um experimento. E se eu colocasse a Simone Weil para conversar com o “bully da escola”, cujo perfil diz: “escolar que adora humilhar outros estudantes”.
O diálogo foi assim: “Simone: Todos merecem respeito e dignidade, minha criança. Bully: Ah, me poupe dessas besteiras moralistas. Simone: Deixe-me lhe contar uma verdade: respeito e compaixão são a base para comunidades fortes. Bully: Comunidades fortes? Hah! Isso tudo é besteira, cara. A verdade é que a vida é uma selva! Simone: Essa visão de que a vida é uma competição constante entre os fortes e os fracos é uma forma de se relacionar com o mundo que leva a individualismo e ruína. Bully: Essa não é uma visão, isso é a realidade, porra. Enquanto você fica aí falando sobre comunidades fortes a vida vai passando e te deixando para trás.”
A conversa continuou assim até eu desistir. Nenhum aprendeu nada com o outro. Esse é o futuro que se desenha para nós, minhas crianças.
Já era – conversar só com pessoas
Já é – conversar com chatbots
Já vem – chatbots entrando nas nossas vidas, fazendo e atendendo ligações, respondendo mensagens, atuando na escola, na política etc.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.