Think Tank de Inovação da Anatel realizou debate sobre a Segurança Cibernética da Inteligência Artificial — Agência Nacional de Telecomunicações

O Centro de Altos Estudos em Comunicações Digitais e Inovações Tecnológicas (Ceadi) celebrou seu primeiro ano de existência na última segunda-feira, 2 de setembro, com um workshop virtual focado na segurança cibernética aplicada à inteligência artificial (IA). O evento, que reuniu especialistas de renome nacional e internacional, enfatizou a importância de se ter um ambiente digital mais seguro e resiliente, bem como a necessidade crescente da soberania digital, especialmente no setor de telecomunicações.

O presidente da Anatel, Carlos Baigorri, abriu o evento destacando o momento crucial para debater a segurança cibernética, citando os recentes ataques sofridos pelas redes da Anatel devido ao cumprimento de uma decisão judicial para bloqueio de uma grande plataforma digital. “O tema está diretamente ligado à soberania digital e à capacidade do Estado brasileiro de impor suas decisões no ambiente digital”, ressaltou Baigorri​.

O Conselheiro Alexandre Freire, anfitrião do evento, em sua fala inicial, salientou a importância da reestruturação do Ceadi, ocorrida em 2023, para que ele se tornasse um Tthink Tank de destaque no Brasil e na Comunidade Internacional, promovendo a inovação e a regulação no ecossistema digital.

Destacou que a escolha do tema refletiu essa natureza do Ceadi e decorre da necessidade urgente de se debater o impacto da inteligência artificial na cibersegurança. Para o conselheiro, “este diálogo é essencial para garantirmos que as inovações tecnológicas contribuam para um ambiente digital mais seguro e resiliente, possibilitando que se identifique a melhor forma de maximizar as oportunidades oferecidas pela IA, enquanto trabalhamos juntos para minimizar seus riscos”.

Reconhecimento aos Avanços do Ceadi

Durante o evento, o conselheiro Vicente de Aquino, vice-presidente do Ceadi, destacou o papel fundamental que o Centro desempenhou ao longo do último ano. “Por meio dos seus eventos, cursos, painéis, simpósios, parcerias e grupos de pesquisa, o Ceadi se destacou como um fórum de excelência para discussões atuais e profundas, mas conduzidas de forma leve e interativa, contribuindo de forma excepcional para o aperfeiçoamento técnico dos nossos servidores”, afirmou Aquino, enaltecendo a contribuição do Ceadi para a formação e capacitação na área de telecomunicações​.

A conselheira Cristiana Camarate também fez questão de elogiar as realizações do Ceadi, mencionando iniciativas como o Programa Anatel de Intercâmbio Acadêmico em Ecossistema Digital (P@ed) e o Prêmio Mérito Rondon. “Essas iniciativas são exemplos claros de como o Ceadi tem promovido não apenas o desenvolvimento técnico, mas também a troca de conhecimentos e experiências entre profissionais de diversas áreas”, disse Cristiana, evidenciando a importância dessas ações para o fortalecimento da soberania digital do país​.

O conselheiro Artur Coimbra, por sua vez, destacou o sucesso do curso Desafios Contemporâneos do Ecossistema Digital, promovido pelo Ceadi, que reuniu reguladores de telecomunicações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). “Esse curso não só ampliou a compreensão sobre os desafios que enfrentamos, mas também reforçou a colaboração entre países lusófonos, essencial para a construção de uma estratégia comum de soberania digital”, afirmou Coimbra​.

Discussões e Inovações na Segurança Cibernética

O workshop seguiu com apresentações e painéis que exploraram as interseções entre IA e segurança cibernética. Barbara Marchiori de Assis, da Deloitte Itália, iniciou as discussões com uma análise das tendências internacionais em segurança cibernética.

Barbara Marchiori de Assis destacou três áreas fundamentais para o futuro da segurança cibernética na era da IA: a definição e compreensão da taxa de risco, a importância dos modelos de governança internacional em cibersegurança, e o aspecto humano, enfatizando que todas as iniciativas e regulamentos devem focar na criação de um sistema seguro e confiável para beneficiar a sociedade, especialmente no mercado de trabalho, segurança e educação.

Em seguida, John Banghart, da Venable LLP, apresentou o “Framework for Improving Critical Infrastructure Cybersecurity” do NIST, abordando sua aplicação global e os desafios específicos enfrentados por diferentes nações​.

John Banghart ressaltou o aumento dramático dos ataques cibernéticos nos últimos anos, destacando que o Brasil é o segundo país mais atacado, atrás apenas dos Estados Unidos. Ele apontou que grande parte desses ataques é conduzida por criminosos organizados, visando roubo de informações e interrupções. Banghart enfatizou a necessidade crucial de colaboração global em cibersegurança, pois as redes e sistemas estão cada vez mais interdependentes, tornando impossível a defesa eficaz de forma isolada.

Nos painéis, especialistas discutiram os riscos enfrentados pelos sistemas de IA, como manipulação de dados e ataques adversariais. No painel moderado por Vanessa Coppetti Cravo, da Anatel, Marcelo Motta, diretor de cibersegurança da Huawei, e Nina da Hora, pesquisadora em IA, compartilharam estratégias para mitigar essas ameaças.

Vanessa Coppetti Cravo destacou que a inteligência artificial (IA) trouxe um novo paradigma para a segurança cibernética, marcado pela imprevisibilidade e rapidez das ameaças. Ela enfatizou a necessidade de compreender e gerenciar esses novos riscos, reconhecendo que, embora não seja possível eliminá-los completamente no ecossistema digital, é crucial mitigar adequadamente as vulnerabilidades associadas ao uso de IA e outras tecnologias emergentes, como a computação quântica.

Marcelo Motta discutiu os riscos técnicos associados aos sistemas de inteligência artificial (IA), destacando problemas como acidentes causados por falhas em veículos autônomos e erros em recomendações médicas. Motta enfatizou a necessidade de compreender as limitações técnicas desses sistemas e a importância de regulamentações para definir responsabilidades.

Nina da Hora destacou que a inteligência artificial (IA) acelera a evolução das ameaças cibernéticas, tornando-as mais imprevisíveis e difíceis de acompanhar. Ela alertou que, enquanto a IA é frequentemente vista pelos seus benefícios, seu impacto na cibersegurança exige revisões constantes das práticas de proteção, especialmente porque a IA reduz drasticamente o tempo disponível para responder a essas novas ameaças.

No segundo painel, moderado por Gustavo Santana Borges, explorou a colaboração intersetorial necessária para fortalecer a segurança da IA, com contribuições de Sandro Mendonça, ex-conselheiro da ANACOM, e Larissa Schneider Calza, do Ministério das Relações Exteriores​.

Durante o painel, Gustavo Santana Borges destacou a importância do papel do Ceadi na liderança e condução desses debates essenciais. “O Ceadi, com o workshop ‘Cybersecurity of Artificial Intelligence’, exerce mais uma vez sua liderança, selecionando e guiando debates qualificados sobre os desafios emergentes, que trazem por consequência a constante capacitação e atualização da Agência e stakeholders, algo muito necessário em tempos de constantes mudanças no ecossistema digital”, afirmou Borges​.

O ex-conselheiro da Autoridade Nacional de Comunicações de Portugal, Sandro Mendonça, destacou que “num mundo de interconexões, a soberania digital tem de ser vista como “soberania partilhada”. Para ele, o Brasil se tornou um caso exemplar de como lidar com essa questão. O “exercício da soberania deve ser visto como uma lógica compartilhada, e uma primeira esfera de atuação seria com os demais países de língua portuguesa”, indicou.

Larissa Schneider Calza abordou o impacto geopolítico da segurança cibernética, destacando que a inteligência artificial emergiu recentemente como um tema central nesse contexto. Ela enfatizou a tensão geopolítica nos debates internacionais sobre a regulação de tecnologias digitais, onde é vantajoso para os Estados terem controle sobre as tecnologias que utilizam. No entanto, reconheceu que poucos países possuem esse domínio e que até as nações mais ricas dependem significativamente de tecnologias estrangeiras. Nesse cenário, Larissa defendeu a importância da cooperação internacional e de estratégias conjuntas para lidar com a natureza transfronteiriça das tecnologias digitais.

White Paper

O presidente do Ceadi, Alexandre Freire, encerrou o evento com a apresentação do White paper “Cibersegurança & Inovação: Perspectivas para o Setor de Telecomunicações”. O documento é fruto de um extenso processo de revisão do Regulamento de Segurança Cibernética Aplicada ao Setor de Telecomunicações (R-Ciber) e foi elaborado com base em estudos e colaborações com 35 instituições públicas e privadas de nove países.

As principais conclusões do documento são que a Agência está alinhada às melhores práticas mundiais, apesar de enfrentar desafios também presentes às instituições de inúmeros países, como capacitação de pessoal, desenvolvimento de conhecimentos em hardware e software essenciais ao domínio de aplicações de IA, além do aperfeiçoamento constante de práticas de monitoramento, respostas e recuperação de incidentes, entre outros. O documento está disponível no Portal da Anatel.

Ao final, Freire salientou que o White Paper de Cibersegurança demonstra o compromisso da Agência com a promoção de práticas robustas de segurança cibernética e estabelecimento de diretrizes importantes para o fortalecimento da infraestrutura crítica no Brasil. “Acredito que este estudo será uma referência para todos os envolvidos no setor e contribuirá significativamente para a construção de um ambiente digital mais seguro”, concluiu.

O workshop está disponível na página da Anatel no YouTube com áudio em português e em inglês



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