Governo belga proíbe uso de celulares nas escolas – Educação – CartaCapital

Escolas belgas francófonas proíbem o uso de celulares para alunos dos ensinos infantil, fundamental e médio durante o horário escolar. Cada vez mais países criam restrições a respeito dos smartphones nas salas de aula. Os aparelhos são considerados prejudiciais para a concentração e socialização das crianças e jovens.

Três meses após as eleições, os novos governos francófonos da Bélgica concluíram um acordo de coalizão com ênfase em mudanças na área da educação. Para proteger melhor o bem-estar mental dos alunos, os dois partidos agora no poder – MR e Les Engagés – aprovaram um decreto para proibir smartphones nas escolas maternais, primárias e secundárias – correspondente no Brasil aos ensinos infantil, fundamental e médio.

O decreto, que funciona como uma lei regional, será aplicado nos colégios oficiais onde o francês é o idioma principal na capital Bruxelas e na Valônia, região sul do país. Mais de 130 mil alunos do maternal ao sexto ano secundário dos 373 estabelecimentos oficiais da rede de ensino Bruxelas-Valônia serão afetados pela interdição dos smartphones nas classes, durante os intervalos das aulas e recreios. Algumas escolas já adotaram a nova regra no início da semana passada, quando começou o ano letivo, e o restante dos colégios deverá implementá-la nos próximos meses.

Flandres, região norte do país, onde se fala e se ensina em flamengo, não é a favor da proibição dos celulares nas escolas. Na prática, as instituições de ensino em Flandres são livres para determinar suas próprias políticas sobre o uso dos smartphones. Há alguns colégios mais restritivos, mas cada um desenvolve sua política de forma independente.

A autoridade educacional de Flandres – Onderwijsvereniging van Steden em Gemeenten – ressalta a autonomia das escolas que supervisiona: “Algumas escolas não querem proibir os smartphones porque os alunos desfavorecidos os usam como calculadoras, por exemplo”. A ministra da Educação belga, Valérie Glatigny, lembra que “os celulares podem atrapalhar a concentração, mas há também a questão do bullying escolar”.

Reações mistas

Quem não respeitar a nova regra de manter o seu smartphone dentro da mochila durante o horário escolar pode ter o aparelho confiscado. As reações sobre a interdição entre os alunos são mistas. Para alguns, houve uma melhora nas interações sociais: “agora nos comunicamos muito mais com nossos amigos porque antes ficávamos muito no celular. Além disso, aprendemos a fazer novas amizades”, diz uma estudante do 1º ano do ensino médio.

Outros acreditam que a proibição é uma medida inútil. “O assédio não vai voltar a acontecer apenas nos colégios, pode ocorrer em casa, fora do ambiente escolar”, diz um aluno, enquanto outro admite que “há momentos que fico entediado nas aulas de ciências, então prefiro ficar no meu celular”. Já os pais, professores e diretores dos estabelecimentos de ensino são quase unânimes ao se declararem a favor da restrição dos smartphones.

O perigo do cyberbullying

Além da perda de foco, a exposição a conteúdos sexuais e violentos, os smartphones podem estar por trás da explosão de casos de cyberbullying, termo utilizado para caracterizar a prática agressiva de intimidações e perseguições no ambiente virtual.

Especialistas da área de saúde alertam que o cyberbullying pode trazer sérias consequências como o isolamento, tristeza, depressão, transtorno de ansiedade, síndrome do pânico, e em casos extremos, o suicídio. O instituto de pesquisa Ipsos revelou que o Brasil é o segundo no ranking de cyberbullying no mundo.

A Unesco afirmou, em seu último relatório global de monitoramento da educação, que o uso excessivo de telefones celulares impacta no aprendizado. De acordo com a agência da ONU, menos de um em cada quatro países do mundo adotou políticas de restrição para os smartphones nas escolas. Entre eles, França, EUA, Finlândia, Itália, Espanha, Portugal, Holanda, Canadá, Suíça e México.

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