Inteligência Artificial: oportunidades, profissões a serem extintas e o risco da IA para as próximas gerações

Inteligência artificial é um tema que está em alta e não é só por conta do Chat GPT, lançado em novembro de 2022. Esse está sendo o principal tema do Brazil Week 2024, que está acontecendo no mês de setembro em várias cidades na Austrália.
Já sabemos da presença da inteligência artificial em várias áreas da nossa vida, desde os algoritmos até a utilização de equipamentos que fazem o uso de um sistema de inteligência artificial. Mas quais seriam os riscos e possibilidades que haveria nesse setor e as parcerias que Brasil e Austrália poderiam ter em conjunto?
Paulo Borges, Cientista pesquisador principal na área de IA e robótica, para a CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation), atua no ramo de robótica móvel “quando a máquina se move do ponto A para o ponto B, executando funções no mercado de agricultura, manufatura, mineração, transporte e meio ambiente”, explica o cientista.
A inteligência artificial está muito relacionada com robótica, mas ela vai muito além das máquinas que conhecemos. Paulo faz o paralelo entre os termos ‘Machine Learning’, ‘algoritmo clássico’ e inteligência artificial.

Machine Learning:

Chat Bot Service Concept - Enhancing Customer Experience with Virtual Assistant

Machine Learning (ML) é um ramo da inteligência artificial (IA) e da ciência da computação que se concentra no uso de dados e algoritmos para permitir que a IA imite a maneira como os humanos aprendem, melhorando gradualmente sua precisão. Source: Moment RF / xia yuan/Getty Images

“Machine Learning é um subconjunto de sistemas usando a inteligência artificial, mas a IA vai além do Machine Learning. Por exemplo, o Chat GPT é um exemplo de Machine Learning… uma técnica de estatísticas para treinar o computador ou sistema para executar funções.”

Treinando o algorítmico com vários exemplos de uma informação, o computador aprende a identificar ou replicar aquilo que é solicitado. Por exemplo, com um banco de dados com o maior número de rostos possíveis, o sistema baseado em machine learning consegue identificar rostos, recriá-los ou formar um rosto com o conjunto de características pré-descrito.
As redes sociais e os aplicativos de interação com IA utilizam o sistema de Machine Learning, onde o computador vai aprendendo o comportamento do usuário através do banco de dados mais a repetição de conduta do consumidor daquele sistema. Esse processo é utilizado para gerar recomendações de conteúdos e propagandas nas redes sociais, e o diálogo com os aplicativos de IA interativo.

Algoritmo Clássico:

Get Smarter and Safer in Home Automation Technology. A child girl looked excited is switching on a robot vacuum to auto cleaning on a hardwood floor in the living room while her parent is controlling the vacuum device via a mobile app.

Um algoritmo clássico (ou não quântico) é uma sequência finita de instruções, ou um procedimento passo a passo para resolver um problema, onde cada etapa ou instrução pode ser executada em um computador clássico, como limpar uma superfície. Source: Moment RF / Nitat Termmee/Getty Images

“Algarismo clássico que não seria o Machine Learning, seria um conjunto de comandos pré-determinados para situações. Como para treinar um computador ou robô para uma função pré-definida, como uma ferramenta como cortar ouro”, exemplifica Paulo.

Outro exemplo de algoritmo clássico são os robôs de limpeza de casa, programados a se locomover em um espaço e reconhecer o que dever ser limpo, portas automáticas e outros equipamentos ou sistemas de funções previamente definidas e limitadas.
Oportunidades e preocupações na área profissional:

Quando questionado sobre quais seriam as profissões que estariam próximas de suas extinções e se devemos temer o famoso “as máquinas vão ocupar o lugar dos humanos”, Paulo se vê otimista nesse cenário.

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Paulo Borges, Cientista pesquisador principal na área de IA e robótica, para a CSIRO.

Temos a própria história para afirmar que essa preocupação é desnecessária. Desde o início da Revolução Industrial, tivemos dezenas, centenas e milhares de profissões que deixaram de existir devido à criação de novas tecnologias, como operador de telégrafo ou escritor de cartas. A extinção de uma cria oportunidade para outras. O ser humano é adaptável.

Paulo Borges, Cientista pesquisador na área de IA e robótica

Profissões ligadas a repetições de ações, como operadores de máquinas, ou revisores de texto, tradutores, designs gráficos menos personalizados, e até motoristas estariam com seus dias contatos.
Improve Automate Workflows and Streamline Software Testing with Machine Learning in Software Development. An Asian female software developer coding or debugging code on a computer at her desk in the tech office.

Profissões técnicas, mesmo na área de humanas como revisores de texto, tradutores, designs gráficos menos personalizados estariam com seus dias contatos. Source: Moment RF / Nitat Termmee/Getty Images

Setores de maior risco de vida para humanos, como mineração ou a própria agricultura, vêm cada vez mais se automatizando. E isso pode refletir na redução drástica de empregos atuais mais braçais. Por outro lado, a gestão destes trabalhos ainda fica muito a cargo da mente humana.

Futuristic Concept: Stylish Japanese Businessman Riding on a Back Seat of an Autonomous Self-Driving Zero-Emissions Electric Car. He is Riding on the Highway in the City of the Future.

Conceito Futurista: Empresas de tecnologia estão cada vez mais investindo em carros elétricos autônomos de Direção e Emissões Zero. Source: iStockphoto / gorodenkoff/Getty Images/iStockphoto

Artes e comunicação também são áreas onde a IA está cada vez mais presente, desde a criação de músicas e desenhos, ou escrevendo textos completos. No mais, Paulo pensa que “no futuro, eu acho que a função dos pintores, artistas e escultores vão continuar sendo bem valorizadas, apesar do que tem se sentido pelas pessoas na área. O trabalho original de um artista profissional será mais valioso que de uma máquina que produz em escala.”

AI no sistema jurídico brasileiro:
Luciano Vieira de Araújo, professor da USP na área de sistema de informação e coordenador do projeto Smart cities BR, veio do Brasil para a Austrália para participar dos debates sobre inteligência artificial do Brazil Week 2024.

O professor coordena a iniciativa do uso de IA para a agilização do sistema jurídico brasileiro. O projeto desenvolvido no Brasil com o judiciário usa a inteligência artificial generativa no auxílio processamento do volume de dados que existe no Brasil.

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Luciano Vieira de Araújo, professor da USP na área de sistema de informação e coordenação projeto Smart cities BR.

Hoje, o Brasil tem mais de 83 milhões de processos ativos, e a cada mês mais de 2 milhões de processos novos chegam até o judiciário. E preciso desse apoio tecnológico para poder acelerar as análises.

Luciano Vieira de Araújo, professor da USP de sistema de informação.

O sistema atuaria na leitura dos processos, organização de informações, categorização dos processos e sugestões sobre possíveis resoluções baseadas no banco de dados de processos já julgados anteriormente.
O professor da USP lembra que “a ideia é dá ao suporte para que tarefas repetitivas como checar documentação, significar uma série de informações em diferentes documentos, validar a legislação citada, verificar se aquela causa já foi julgada por tribunais superiores como STJ Superior Tribunal de Justiça no Brasil o Supremo Tribunal Federal STF, gerar relatórios, e outras funções mecânicas que hoje depende de agentes para serem executadas e catalogadas.”
E também enfatiza que, “o juiz é quem determina até onde vai à análise da IA no processo. A decisão ainda fica a cargo do judiciário.”
O professor Luciano, com a organização do Brazil Week 2024, vem visitando universidades na Austrália para estabelecer parcerias dentro da área de atuação do projeto Smart Cities BR.

Paulo reconhece que ainda há vários pontos da IA que devem ser debatidos, como o acesso a conversas particulares, quando, por exemplo, se fala que gostaria de começar se exercitar, e quando abre as suas redes sociais ou provedores de pesquisa, várias propagandas de tênis, empresas fitness, ou perfis de pessoas nesse ramo aparecem, mesmo sem que você tenha pesquisado sobre o assunto no digital.

Cropped shot of young Asian woman using smartphone on social media app during meal in restaurant. Viewing posts, giving like, love, comment, making friends on pages in the city. People engaging in networking with technology. Social media addiction concept

As redes sociais e os aplicativos de interação com IA utilizam o sistema de Machine Learning, onde o computador vai aprendendo o comportamento do usuário. Source: Moment RF / d3sign/Getty Images

“Isso é realmente um problema. Tem alguma configuração do celular que pode diminuir essa coleta de dados quando não estamos utilizando o aparelho, e apenas conversando próximo a ele, mas não sei até que ponto elas são realmente eficientes, e esse é um ponto que muita gente tem levantado o debate na área de IA.”

Outro lado obscuro da inteligência artificial é a utilização desse recurso para produção de fake news, deepfake, e o quanto o online influência diretamente no offline. Protestos podem surgir a partir de uma notícia falsa, conflitos sociais e problemas psicológicos podem ser derivados de uso indevido da imagem de outras pessoas.

Hoje em dia, todo mundo já viu algumas fake news e, quando não sabemos o que é mentira, porque essa se parece com uma verdade, como montagens feitas com inteligência artificial podem causar vários conflitos.

Paulo Borges, Cientista pesquisador principal na área de IA e robótica, para a CSIRO.

Isso ressalta a necessidade das pessoas checarem a fonte de informação, os veículos de comunicação, ou perfis propagadores dessas mensagens.

O último problema que o cientista pontua nessa era das inteligências artificiais é a redução do uso da inteligência humana.

E aí eu acho que o outro problema é dependência dos recursos online. A gente está ficando um pouco mais ‘burros’, onde não precisamos pensar muito para executar várias funções que as máquinas podem fazer.

Paulo Borges, Cientista pesquisador principal na área de IA e robótica, para a CSIRO.

Paulo ainda complementa. “É só lembrar dos nossos pais. Meu pai dizia que as calculadoras deixavam as coisas muito fáceis, que ele tinha que fazer contas complexas de cabeça. Eu hoje vendo as super calculadoras e programadores de sistema nas universidades, e penso como meu pai que na minha época a gente tinha que pensar muito mais.”

Child watching video on digital tablet at night.

O rápido avanço da inteligência artificial generativa (IA) gerou debates sobre seu impacto na inteligência humana. Credit: nazar_ab/Getty Images

Em resumo, a inteligência artificial não substituirá a inteligência humana, mas o ser humano está ficando dependente de utilizar a inteligência artificial em vez de usar a sua própria, e isso, sim, pode ser um problema para as próximas gerações, porque o cérebro é um músculo, que precisa ser exercitado.

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