Sínodo: por um governo da Igreja mais colaborativo, mais equipa

A poucos dias do início da segunda sessão do Sínodo, a jornalista Sónia Neves, diretora do jornal “Correio de Coimbra”, assinala a importância de decidir em comunidade exercitando a escuta e o discernimento.

Rui Saraiva – Portugal

Já são poucos os dias que nos separam do início da segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos bispos que trata o tema “Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão”.

O processo iniciado em 2021 decorrerá proximamente, de 2 a 27 de outubro, mas os dias 30 de setembro e 1 de outubro serão lugar de retiro. Destaque muito especial para a celebração penitencial de dia 1 na qual vão ser escutados testemunhos de pessoas que sofreram o pecado dos abusos, da guerra e da indiferença.

Para já, existe uma certeza: o processo não terminará em 2024. O texto do Instrumentum Laboris (instrumento de trabalho) desta sessão assinala que este processo sinodal “não terminará no final de outubro de 2024”, pois as sessões destes dois anos, 2023 e 2024 “fazem parte de um processo mais amplo”.

“Estamos ainda a aprender como ser Igreja sinodal missionária, mas é uma missão que experienciámos poder empreender com alegria”, diz o texto.

O documento destaca especialmente a importância da metodologia sinodal da Conversação no Espírito, no caminho percorrido até ao momento.

Por tudo isto e após 3 anos de caminho que uniu as dioceses de todo o mundo, com conclusões de diagnóstico muito semelhantes, é grande a expectativa para os dias que a Igreja se propõe percorrer no próximo mês de outubro.

Igreja mais aberta ao diálogo

Fomos ouvir a opinião da jornalista Sónia Neves, a nova diretora do jornal “Correio de Coimbra”, o semanário daquela diocese.

P: Quais as suas expectativas para esta sessão do Sínodo?

R: “Esta sessão do Sínodo dos Bispos pode levar a uma reflexão mais profunda sobre a forma como a Igreja se pode tornar mais inclusiva, participativa e aberta ao diálogo. O foco é ouvir as diferentes vozes dentro da Igreja, incluindo os leigos, as mulheres e as comunidades marginalizadas, as periferias. Acredito que possa ser debatido o papel da mulher em papéis de liderança na Igreja, a atenção a novas formas de evangelizar e uma maior escuta dos desafios contemporâneos, por exemplo a justiça social e o meio ambiente.”

“O Papa Francisco tem reforçado a importância de uma ‘Igreja em saída’, comprometida com a missão pastoral de estar próxima das pessoas. Essa expectativa se alinha com o desejo de que o Sínodo seja um espaço de discernimento e escuta, e que assim se passe a experimentar o valor de viver em comunidade, de decidir em comunidade e de caminhar na fé em comunidade.”

Rede Sinodal pode ser ponte com paróquias e dioceses

P: Sendo que já se sabe que o Sínodo ainda vai continuar com as comissões que foram criadas, genericamente, o que prevê como conclusões e que papel pode ter a Rede Sinodal em Portugal no pós-Sínodo?

R: “As conclusões do Sínodo ainda estão em aberto, há que dar espaço para o discernimento de todos os que lá vão estar e ao Espírito Santo que, acredito, vai agir. Posso dizer que gostava de ver um governo da Igreja diferente, mais colaborativo, mais equipa, e onde as responsabilidades fossem divididas; vejo mais sensibilidade nos diferentes contextos, sejam familiares, culturais, sociais; é de reforçar a valorização do papel da mulher na Igreja e que os leigos possam assumir papéis de liderança, num caminho onde possa haver ajuda mútua.”

“Em relação à Rede Sinodal gostava de a ver mais ativa e a ser usada por todos para os fins a que se comprometeu: sensibilizar para os assuntos sinodais, ser um espaço de escuta e diálogo. Mas também olho para a Rede como espaço de esclarecimento, através de outras iniciativas que possam surgir.”

“Assim, posso partilhar a ideia da Rede Sinodal em Portugal como uma ponte entre as conclusões do Sínodo e a sua implementação concreta, garantindo que o espírito sinodal não termine com a reunião, mas continue a ser vivido nas paróquias, nos e nas dioceses do país.”

Sónia Neves iniciou as suas funções como diretora do Correio de Coimbra neste mês de setembro. Como referia nesta curta entrevista, a Rede Sinodal em Portugal pode vir a ser uma ponte entre as conclusões do Sínodo e a sua implementação no concreto dos tempos que se seguirão.

O site redesinodal.pt tem como missão abrir um espaço de informação sobre o Sínodo, apresentando num mesmo lugar o entusiasmo de quem está em movimento fazendo caminho juntos, na pluralidade e diversidade, promovendo o método sinodal em diálogo com o mundo.

Esta plataforma foi anunciada a todos os bispos e dioceses de Portugal e respetivas comissões sinodais, colocando-se ao seu serviço. Publicou em março de 2024 uma síntese sobre o pulsar do Sínodo em Portugal e promoveu cinco encontros presenciais em cinco diferentes dioceses: Aveiro, Coimbra, Porto, Guarda e Lisboa.

Recordemos que este projeto nasceu inspirado pelo livro coletivo “Não temos medo”, que publicou reflexões de várias personalidades portuguesas sobre a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 e o caminho sinodal.

E a segunda sessão do Sínodo está quase a chegar e na sua organização há grande atenção para os momentos de oração e espiritualidade. Destacamos aqui algumas atividades especiais:

– a 11 de outubro, na data dos 62 anos da abertura do Concílio Vaticano II, será organizada pela Comunidade de Taizé, uma vigília ecuménica;

– nos dias 9 e 16 de outubro haverá fóruns teológico-pastorais sobre temas como o papel da autoridade do bispo numa Igreja sinodal e a relação entre igreja-local e igreja-universal;

– a 21 de outubro será de novo tempo para retiro espiritual implorando ao Senhor os seus dons para a elaboração do documento final do Sínodo.

Laudetur Iesus Christus

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