Bloomberg — O governo registrará neste ano um resultado fiscal melhor do que o esperado por investidores, de acordo com o secretário do Tesouro, Rogério Ceron.
A equipe econômica cancelará parte dos R$ 40,5 bilhões em créditos extraordinários que foram excluídos da meta fiscal deste ano, segundo ele.
O valor pode chegar a até R$ 10 bilhões, o que reduziria o déficit primário, que exclui o pagamento de juros, disse Ceron, em entrevista à Bloomberg News.
O governo autorizou créditos extraordinários para a ajudar o estado do Rio Grande do Sul, que foi atingido pelas enchentes no início deste ano, e combater as queimadas em todo o país. Parte disso, no entanto, não será mais necessário.
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O cancelamento não resolve a questão estrutural, mas ameniza, afirma Milena Landgraf, sócia e CIO macro da Jubarte Capital. “Seria uma boa notícia, sem dúvida. Se de fato isso ocorrer, seria muito bom”, diz.
Os riscos fiscais representam as principais preocupações dos investidores, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está aumentando os gastos, sem realizar reformas estruturais, ao mesmo tempo em que depende mais de receitas extraordinárias.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse esta semana que o Brasil deve receber uma elevação do rating soberano pelas agências no próximo ano. Sua visão contrasta com o pessimismo dos investidores, que faz do real em uma das moedas emergentes de pior desempenho em 2024.
O país terminará o ano com um déficit primário de R$ 68,8 bilhões, de acordo com o relatório de receitas e despesas divulgado na sexta-feira.
O governo só conseguirá atingir sua meta de ter um déficit máximo de R$ 28,8 bilhões pelo abatimento de créditos extraordinários.
Segundo o secretário, o governo não desistiu de fazer uma reforma estrutural de gastos, mas isso requer uma costura política.
De qualquer forma, o Brasil não escapará de rever despesas obrigatórias e indexadas à inflação após 2026. “A conta não vai fechar”, afirma.
A dívida bruta deve terminar o ano abaixo de 78% do PIB, disse Ceron. Segundo dados do Banco Central, o montante fechou junho em 77,84% do PIB.
A dívida é impactada não apenas pelos resultados fiscais, mas também pelas taxas de juros e pelo PIB. A situação fiscal está melhorando, mas a alta da Selic compensará parte dessa melhora no curto prazo, segundo o secretário.
Isso adiciona R$ 40 bilhões à dívida, mas não é algo permanente. Os juros devem cair, porque uma taxa real de 8% não é sustentável, avalia.
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— Atualização com comentário de analista no 5º parágrafo e comentário de Ceron no 10º parágrafo.
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