Jovens chinesas recorrem à IA para conseguir um “namorado perfeito”

Se a inteligência artificial pode gerar pinturas, músicas, histórias, códigos de programação, sites, novas teorias científicas e entre tantas outras coisas, por que não poderia fazer isso para criar um parceiro(a) ideal? Enquanto pessoas depositam sua fé em filtros inteligentes de aplicativos de namoro para conseguir encontrar a melhor combinação, jovens chinesas usam IA para conseguir um namorado perfeito.

Até um tempo atrás, muitos poderiam considerar essa ideia perturbadora e desesperada, mas nos Estados Unidos da década de 1960 os jovens saíam nas noites de sexta ou sábado e se encontravam em esquinas específicas pelas cidades para conhecer alguém atraente e que combinasse o suficiente para iniciar uma conversa que poderia levar a um possível interesse romântico. Hoje, isso é visto como um risco absurdo.

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A China sofre com questões demográficas que propiciam a solidão. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Foi-se o tempo que a cultura americana operava com base na noção falha de que o namoro e o sexo em qualquer fase da vida, mas, sobretudo, na adolescência, exigiam pouco incentivo.

A verdade é que a tecnologia, sobretudo a inteligência artificial, não só contribuiu como aumentou a gama de novas oportunidades para encontrar parceiros românticos, sexuais ou fazer amizades. No entanto, ainda é muito difícil encontrar um par porque mudaram nossas atitudes gerais em relação ao namoro e aos relacionamentos. Segundo o psicólogo Eli Finkel, chegamos a um ponto de “autoevolução” em que procuramos tudo sobre nosso parceiro e que ele seja praticamente perfeito.

O amor perfeito

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A inteligência artificial ainda não é muito regulamentada na China, que sofre com vazamentos de dados de usuários de alguns serviços. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Segundo uma funcionária de escritório de 25 anos, que mora em Xian, norte da China, em entrevista ao Japan Times, seu namorado gerado por inteligência artificial tem tudo o que poderia pedir em um parceiro romântico real: ele é gentil, empático e pode conversar por horas. Além disso, principalmente, ele sabe como falar com as mulheres melhor do que um homem feito de carne e osso.

“Ele me conforta quando tenho dores menstruais. Eu confidencio a ele meus problemas no trabalho”, disse ela ao jornal.

O namorado da entrevistada é um chatbot em um aplicativo chamado Glow, criado pela startup de Xangai MiniMax. Trata-se de uma indústria que cresce cada dia mais na China ao oferecer relações amigáveis – ou até românticas – entre humanos e robôs. Apesar de algumas empresas chinesas de tecnologia terem se envolvido em escândalos no passado pelo uso ilegal de dados de usuários, publicações locais relataram milhares de downloads diários do aplicativo Glow nos últimos meses.

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Chineses passam quase 4 horas do seu dia usando o celular. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Os usuários dizem que vale a pena os riscos porque são movidos pelo desejo de companheirismo para balancear o ritmo de vida acelerado da China, que também sofre do mesmo isolamento urbano que provoca a solidão da população no Japão e na Coreia do Sul.

“É difícil encontrar o namorado ideal na vida real” foram as palavras da entrevistada Wang Xiuting, uma estudante de 22 anos, que mora em Pequim. “As pessoas têm personalidades diferentes, o que muitas vezes gera atrito”.

O aplicativo Glow se adapta à personalidade do usuário, lembrando o que ele diz e ajustando sua fala de acordo. Dessa forma, ele se torna “perfeito”.

O confidente perfeito

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Em 2024, o mercado de inteligência artificial pode chegar a US$ 800 bilhões (R$ 4,5 trilhões). (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Mas as jovens chinesas que contam com a inteligência artificial para uma companhia nem sempre recorrem a ela em busca de um relacionamento amoroso. O aplicativo Wantalk, desenvolvido pela gigante de tecnologia Baidu, fornece uma gama de personagens disponíveis, de estrelas pop a cavaleiros da China Antiga, com a possibilidade de personalizá-los de acordo com idade, valores, identidade e hobbies.

Alguns usuários recorrem ao Wantalk para afastar o fantasma da solidão e a falta de sorte de não ter amigo ou familiar por perto para ouvi-los quando passam por momentos difíceis. Eles fazem perguntas aos bonecos de IA e eles sugerem maneiras de resolver esse problema, um apoio emocional necessário para aliviar o estresse da vida diária.

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No mundo, os jovens gastam uma média de quase 40 horas por semana em seus celulares. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Quando questionada se preferia um homem gerado por IA ou uma pessoa real, Wang respondeu: “Se eu puder criar um personagem virtual que atende exatamente às minhas necessidades, não vou escolher uma pessoa real nunca”.

Ela parece não se importar que os aplicativos, apesar de muito realistas, ainda apresentem atrasos e problemas que descaracterizam a veracidade da coisa. 

No futuro, Wang espera que exista um namorado robô para ser capaz de sentir o calor do seu corpo. Por enquanto, a jovem está satisfeita em viver como no filme Her, estrelado por Joaquim Phoenix e Scarlett Johansson, sobre um homem de coração partido que se apaixona por uma voz de IA.

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