Máquinas Inteligentes era o título original, mas tornou-se mais abrangente ao incorporar o conceito de “inteligência artificial”.
Olá, Robot! — A Inteligência Artificial no Teu Dia a Dia começa com descrições breves de acontecimentos e lendas do passado num tom bem-disposto, a lembrar que “desde sempre os seres humanos se sentiram fascinados com a ideia de construir máquinas inteligentes”. Exemplo: “1495 — Leonardo da Vinci projetou um cavalheiro robótico capaz de fazer vários movimentos, como sentar-se e mexer os braços, o pescoço e o maxilar. Não se sabe se Da Vinci tentou construir a sua invenção, mas as reconstruções que se fizeram a partir dos seus esboços mostraram que o cavalheiro era plenamente funcional.”
Referências a livros, peças de teatro e filmes em que ao longo dos anos se imaginaram autómatos, robôs humanizados e, mais recentemente, um mundo dominado pela inteligência artificial introduzem o leitor numa leitura dinâmica e diversificada.
O movimento do olhar é guiado por uma expressão gráfica eficaz, com “flashes” em algumas páginas com o título “Importante”, como no caso do tema dos acontecimentos e lendas: “Os relatos de ficção sobre máquinas inteligentes desempenham um papel fundamental na construção dos nossos medos e esperanças em relação a elas.”
Com o avançar do livro, os conteúdos vão-se tornando mais específicos e problematizam aquilo que parece ser unicamente positivo. “É muito útil que nos recomendem coisas de que poderíamos gostar porque nos ajuda a navegar entre a enorme quantidade de informações que existe na internet”, lê-se na entrada “a bolha”.
“Desde sempre os seres humanos se sentiram fascinados com a ideia de construir máquinas inteligentes”
Ana Seixas
Mais adiante, fala-se de Eli Pariser e do seu alerta para os riscos de receber apenas informações personalizadas, criando o termo “filter bubble” (filtro bolha). Ali se observa que, “se ficarmos muito fechados dentro da nossa bolha, perdemos a oportunidade de abrir a nossa mente a outros pontos de vista”. Para concluir: “A diversidade é necessária e enriquece-nos!”
Capítulos com nomes sugestivos como “Amigos sem carne e ossos”, “Quem nos ouve?”, “É possível que saibam como nos sentimos?”, “As tecnologias inteligentes do dia a dia”, “Que vício!” ou “Quem muda quem?” convidam à reflexão e à cautela perante tantas novas possibilidades de comunicação e interacção.
Parque temático para os olhos
Quem ilustrou “algo tão presente, mas ainda tão pouco visível” foi Ana Seixas, que contou ao PÚBLICO via email, meio através do qual também recebeu o convite para este trabalho: “Li-o com curiosidade e entusiasmo. Sempre gostei de dar imagem a livros de divulgação científica — e este tema, que começava a ganhar destaque, parecia-me uma aventura visual e conceptual interessante: como ilustrar algo tão presente, mas ainda tão pouco visível?”
O livro foi publicado em 2023, mas recebeu o conteúdo em bruto em 2021, com páginas em branco, acompanhadas só de texto ou de esquemas, dupla a dupla. “Essa estrutura deu-me liberdade total para explorar formas, cores e maneiras de representar máquinas e pessoas sem amarras”, recorda.
E descreve: “Como o livro tem uma dimensão histórica e aborda também conceitos mais abstractos, quis que fosse visualmente dinâmico, quase como um parque temático para os olhos: páginas cheias, ricas em detalhes, que pedissem ao leitor para voltar a elas. E, claro, com humor. Ilustrei pessoas, robôs com traços humanos, aspiradores com olhos e animais com alma.”
“Hoje em dia, as máquinas consideradas inteligentes estão em todo o lado”
Ana Seixas
Manteve contacto com as autoras do texto, da CosiCosa, sempre à distância (as “máquinas inteligentes” a funcionar…), através da editora. “Recebi muitos materiais — textos, gráficos, sugestões — e o retorno foi sempre positivo, o que me deu confiança para arriscar visualmente.”
Para se documentar, a ilustradora, que vive no Porto e estudou Design em Aveiro e Ilustração em Barcelona, pesquisou bastante, viu filmes como Blade Runner e Ex Machina e tentou imaginar “como gostaria de ver este tema ilustrado… se ainda tivesse 8 anos”.
Aproveitou para mergulhar a fundo no tema da inteligência artificial, “até então algo tão difuso” para ela e para muitos de nós. O que não a impediu, antes pelo contrário, de viver bons momentos: “Diverti-me imenso!”, revela. Nós também.
