Em janeiro de 2025, a sonda Einstein Probe (EP), missão da Academia Chinesa de Ciências (CAS) em parceria com a Agência Espacial Europeia (ESA) e o Instituto Max Planck de Física Extraterrestre (MPE), da Alemanha especializada na detecção de fenômenos breves e intensos no Universo, captou um raro sinal de raios-X — o mais próximo já registrado relacionado com a explosão estelar conhecida como Supernova. Batizado de EP 250108a, o evento é um exemplo do que os cientistas chamam de transiente rápido de raios-X (FXT, na sigla em inglês).
Ao acompanhar a evolução desse fenômeno, pesquisadores descobriram que ele está ligado à explosão de uma estrela muito massiva, mas com uma peculiaridade: o jato de energia gerado pela supernova não conseguiu escapar da estrela, como ocorre nas chamadas explosões de raios gama (GRBs). Isso indica que o evento observado é uma espécie de “explosão fracassada”.

- Marcado com uma seta laranja, o ponto azul representa o transiente rápido de raios X EP 250108a e a supernova que o seguiu – Crédito: Observatório Internacional Gemini / NOIRLab / NSF / AURA
“Essa descoberta revela que explosões de raios-X, conhecidas como ‘explosões fracassadas’, podem acontecer no evento de morte de uma estrela e serem mais comuns do que imaginávamos, como os eventos mais energéticos, as explosões de raios gama”, explica Clécio Roque De Bom, tecnologista do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). “É um avanço importante para entendermos a diversidade desses eventos cósmicos extremos”.
O Laboratório de Inteligência Artificial para a Física do CBPF, coordenado por De Bom, participou ativamente da análise. “Utilizamos nossa infraestrutura em conjunto com os telescópios T80 e SOAR para analisar as curvas de luz iniciais. Depois, colaboramos com o time que usou o telescópio Gemini. Os dados do Gemini foram essenciais para identificar que se tratava de uma supernova, e os do SOAR ajudaram a medir o pico de brilho dias depois — o que permitiu estimar a massa da estrela que explodiu.”
Os resultados podem ser vistos em dois artigos complementares, “The kangaroo’s first hop: the early fast cooling phase of EP250108a/SN 2025kg” e “EP 250108a/SN 2025kg: Observations of the most nearby Broad-Line Type Ic Supernova following an Einstein Probe Fast X-ray Transient” – o segundo foi aceito no Astrophysical Journal Letters com a participação de De Bom. Os estudos reforçam a ideia de que supernovas podem produzir diferentes tipos de jatos: os GRBs, quando o jato consegue atravessar a estrela, e os FXTs, quando ele falha ou fica aprisionado.
Sobre os laboratórios
O Observatório Internacional Gemini é composto por dois telescópios localizados em Maunakea, no Havaí, e Cerro Pachón, no Chile. É fruto de parceria internacional que inclui: a Fundação Nacional de Ciência dos EUA (NSF); o Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá (NRC); a Comisión Nacional de Investigación Cientifica y Tecnológica (Anid) do Chile; o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil; o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação da Argentina e o Instituto de Astronomia e Espaço da Coreia (Kasi).
O SOAR está situado no Cerro Pachón, no Chile, a uma altitude de 2.700 metros acima do nível do mar e a cerca de 400 m do Observatório Gemini Sul. É um projeto conjunto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações do Brasil (MCTIC/LNA), NSF NOIRLab, Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill (UNC) e Michigan State University (MSU).
Mais informações:
Gemini: https://www.gemini.edu/
SOAR: https://noirlab.edu/public/programs/ctio/soar-telescope/
Einstein Probe: https://ep.bao.ac.cn/ep/
Artigos:
EP 250108a/SN 2025kg: Observations of the most nearby Broad-Line Type Ic Supernova following an Einstein Probe Fast X-ray Transient: https://arxiv.org/abs/2504.08889
The kangaroo’s first hop: the early fast cooling phase of EP250108a/SN 2025kg: https://arxiv.org/abs/2504.08886


