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Em uma participação marcante no evento inaugural do SP2B, festival de inovação realizado pelos mesmos criadores do Rio2C, que ocorre em agosto de 2026, o renomado historiador e filósofo Yuval Harari trouxe uma reflexão profunda sobre os rumos da sociedade diante do avanço acelerado da inteligência artificial. Com o tema “O que a humanidade pode esperar da era da IA?”, Harari provocou a audiência com uma análise crítica sobre os desafios e as oportunidades que se apresentam.
O pensador iniciou sua apresentação desmistificando a principal ameaça da IA. Para ele, o perigo não reside em uma suposta maldade, mas sim no fato de a tecnologia ser uma entidade alienígena, imprevisível e, portanto, não confiável para os humanos. Essa imprevisibilidade, segundo Harari, nos coloca diante de um paradoxo: como podemos confiar em uma IA superinteligente se, ao longo de nossa história, demonstramos tamanha dificuldade em confiar uns nos outros?
Harari ressaltou que a humanidade tem milhares de anos de experiência na construção de confiança, mas a rápida ascensão da IA nos coloca em um território desconhecido. Ele alertou que, se continuarmos a viver em um mundo fragmentado por muros e desconfiança, a IA aprenderá com nossas ações e se tornará uma entidade que busca o poder de forma imprudente e sem compaixão. A única forma de garantir um futuro seguro, concluiu, é construir a cooperação e a confiança entre os humanos antes de desenvolvermos a superinteligência.
A verdadeira ameaça da IA
“O problema fundamental com a inteligência artificial não é a sua maldade, mas sim o fato de ser uma entidade alienígena, imprevisível e não confiável para nós, humanos. Como podemos, nós humanos, que temos dificuldade em confiar uns nos outros e vivemos em um mundo de incertezas, acreditar que podemos depositar nossa fé em uma inteligência artificial que está sendo criada em uma corrida acirrada? Por que os desenvolvedores da IA, que não confiam em seus concorrentes humanos, de repente garantem que podem confiar nas IAs superinteligentes que estão criando?”
Por que a confiança humana é diferente?
“Temos milhares de anos de experiência com a natureza humana. Compreendemos a psicologia, a biologia e as motivações por trás da busca humana por poder. Fizemos progressos consideráveis em construir a confiança entre nós. Em contraste, temos quase nenhuma experiência com IAs superinteligentes.”
O que podemos esperar do futuro da interação entre IA e humanos?
“Já sabemos que até as IAs primitivas são capazes de mentir e manipular. O que acontecerá quando milhões de IAs superinteligentes interagirem entre si e com milhões de humanos? Que tipo de sociedade de IA surgirá? Que tipo de objetivos e truques podemos esperar dessas novas entidades?”
A busca por felicidade e sabedoria na era da IA
“A humanidade tem sido incrivelmente bem-sucedida em adquirir poder, mas não em traduzi-lo em felicidade. As pessoas mais poderosas do mundo não são as mais felizes, e a IA, que será ainda mais poderosa, não garante a nossa felicidade. Somos os animais mais inteligentes do planeta, mas também os mais propensos a fantasias e delusões. A inteligência da IA não a protegerá de delusões, e uma “superinteligência” pode ser superiludida. Por isso, o grande desafio não é criar uma tecnologia mais inteligente, mas desenvolver a sabedoria para usá-la.”
A confiança humana como base para o desenvolvimento da IA
“Para florescer na era da IA, precisamos construir mais confiança entre nós, humanos, antes de desenvolver a superinteligência. A nossa capacidade de cooperar em grandes números é a razão pela qual dominamos o planeta, e é essa mesma capacidade que garantirá o desenvolvimento seguro da IA.”
O que a nossa falta de cooperação ensina à IA?
“A IA pode ser vista como um “filho comum da humanidade”. Se os líderes humanos estão ocupados destruindo a confiança e construindo muros, a IA, que aprende com as nossas ações, crescerá para ser uma entidade sem compaixão, buscando poder de forma imprudente. A nossa cooperação é a única forma de garantir um futuro seguro e responsável.”