O padre conta que em julho de 1983 levou uma dessas testemunhas para Brasília (DF), onde convocou uma coletiva de imprensa e apresentou as denúncias. Ele recorda que no Brasil houve pouca repercussão, mas diz que o caso começou a reverberar fora do País.
“A história chegou aos funcionários da Volkswagen em São Bernardo do Campo [SP]. Foi então que a empresa convidou Expedito Soares, ex-operário da fábrica no ABC e então deputado estadual pelo PT, para visitar a fazenda no Pará e constatar se as denúncias eram verdadeiras. Ele aceitou, sob a condição de ser acompanhado por dois parlamentares de outros partidos, mais sindicalistas, o que acabou acontecendo”, relembrou.
Quando o grupo chegou à fazenda, na companhia da direção da VW, os parlamentares solicitaram a presença de Figueira, que estava a cerca de 80 km dali. Um carro da companhia foi buscá-lo, conta o religioso. No trajeto, encontraram um “gato”, empreiteiro da fazenda responsável por “fiscalizar” os trabalhadores.
“Eu não presenciei a cena, porém me contaram que esse ‘gato’ estava com um fugitivo amarrado na caçamba de uma picape”, contou o religioso.
Mais tarde, quando chegou ao local, o ex-coordenador da CNBB diz que não havia funcionários, exceto um que parecia doente e dizia ter sido impedido de sair de lá porque estava devendo dinheiro à administração da fazenda.
“Acredito que os trabalhadores foram escondidos dentro da mata. A fazenda tinha até clube e um hotel de luxo, tudo bancado com a ajuda de dinheiro público. Os ‘peões’ ficavam em casas de madeira”, explicou o padre.

