Há duas semanas, estive no Vale do Silício. Na maioria das empresas que visitei, o assunto foi o mesmo: o impacto que a inteligência artificial (IA) está causando nos profissionais em começo de carreira.
Entre 2019 e 2024, o fundo de venture capital SignalFire registrou queda de 50% na contratação de profissionais com menos de um ano de experiência em empresas de tecnologia. Já as vagas de entrada nos Estados Unidos diminuíram 35% desde janeiro de 2023, segundo a consultoria Revelio Labs. E para jovens de 22 a 25 anos, os empregos de nível inicial despencaram 13% desde a popularização da IA generativa, de acordo com Stanford.

Dados apontam que as vagas iniciantes diminuíram em 35% desde 2023 nos EUA Foto: Jelena /Adobe STock
Recentemente, o CEO da Fiverr – marketplace global de freelancers com valor de mercado próximo a US$ 1 bilhão – enviou um e-mail aos seus colaboradores que viralizou pela franqueza. O texto começava assim: “Aqui está a verdade desagradável: a IA atingirá os seus empregos. Na verdade, atingirá o meu também. Este é um wake-up call, um alerta para você acordar de verdade… O que antes era tarefa fácil, não existirá mais; o que era considerado tarefa difícil, será o novo fácil; e o que era considerado tarefa impossível, será o novo difícil.”
O “nível de entrada” atual exige competências mais avançadas. E isso pressiona os recém- formados a aprenderem por conta própria o que antes se aprendia no primeiro emprego. Mas há um paralelo histórico e positivo: quando internet e e-mail se tornaram habilidades corporativas essenciais, os jovens estavam bem-posicionados para preencher os requisitos das vagas da época porque já usavam esses recursos nas escolas e universidades. O mesmo vale agora para a IA. A chave será como cada um aproveitará o potencial dessa tecnologia para se destacar.
Não é à toa que várias universidades já inseriram a IA na experiência cotidiana dos alunos. A Duke University, por exemplo, oferece acesso ilimitado ao ChatGPT para estudantes e professores. A California State University disponibilizou o ChatGPT Edu – versão personalizada do ChatGPT para instituições educacionais – a mais de 460 mil estudantes e 63 mil docentes. E a China foi além: desde 1º de setembro desse ano, o ensino de IA é obrigatório nas escolas de ensino fundamental e médio do país, com carga mínima de oito horas anuais sobre o tema.
A tecnologia está redesenhando as trajetórias profissionais. Para os recém-formados, dominar a IA já não é apenas uma opção. É necessidade. Afinal, um futuro promissor dificilmente aguarda quem ignora a realidade.

