Durante o DevDay da OpenAI, o CEO Sam Altman reacendeu um dos debates mais intensos do momento: o impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho. Em uma conversa com Rowan Cheung, fundador do portal The Rundown AI, o executivo criador do ChatGPT afirmou que “a maioria dos empregos que desaparecerão com o avanço da IA talvez nunca tenham sido trabalhos de verdade”.
A declaração viralizou em poucos minutos, gerando controvérsias, memes e reflexões. Para alguns, foi uma provocação filosófica; para outros, um sinal de elitismo tecnológico. Mas, por trás da polêmica, a fala de Altman revela uma discussão mais profunda sobre o propósito real do trabalho humano e como a tecnologia redefine o papel das pessoas nas empresas.
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A tese por trás da fala de Sam Altman
A provocação de Sam Altman dialoga diretamente com teorias já apresentadas por pensadores contemporâneos, como o antropólogo David Graeber, autor do livro Bullshit Jobs. Graeber argumenta que parte significativa do trabalho moderno é composta por tarefas burocráticas e sem propósito real, criadas mais para “parecer produtividade” do que para gerar valor concreto.
Ao citar a automação por IA como uma forma de eliminar esse tipo de função, Altman parece sugerir que modelos de linguagem como o ChatGPT poderiam libertar as pessoas de tarefas mecânicas, liberando tempo para atividades mais criativas, estratégicas e humanas. Nesse sentido, a inteligência artificial generativa não seria uma inimiga do trabalho, mas uma aliada na reconstrução de sua relevância.
O que dizem os estudos sobre “empregos sem propósito”
Apesar da repercussão da fala de Altman, dados empíricos indicam que a ideia de que a maioria dos empregos é “inútil” não se sustenta. Pesquisas internacionais mostram que entre 5% e 20% dos profissionais afirmam sentir que seus empregos carecem de propósito.
Especialistas apontam que essa sensação costuma estar ligada a má gestão, microgerenciamento excessivo e processos corporativos engessados, e não necessariamente ao valor da função em si. Em outras palavras, o problema não está nos trabalhadores ou nas tarefas, mas na forma como as empresas estruturam suas atividades.
Empregos considerados “sem propósito” geralmente surgem em ambientes onde há pouca autonomia, excesso de relatórios ou controles internos redundantes. São espaços em que o trabalhador executa, mas raramente entende o impacto de sua contribuição — algo que a IA pode tanto agravar quanto resolver, dependendo de como for implementada.
O papel da IA na transformação do trabalho
Com o avanço da inteligência artificial, diversas tarefas repetitivas e burocráticas estão sendo automatizadas. Relatórios de rotina, controle de planilhas e respostas padronizadas já podem ser executados por ferramentas baseadas em IA, como o ChatGPT e outros assistentes corporativos.
Esse movimento, segundo Altman, não representa uma ameaça direta aos empregos, mas uma reconfiguração do trabalho humano. Ao eliminar tarefas operacionais, a tecnologia abre espaço para que os profissionais se concentrem em análise crítica, resolução de problemas complexos e inovação criativa.
A automação pode, portanto, redefinir o conceito de produtividade. Em vez de medir o valor de um profissional pela quantidade de tarefas concluídas, o foco poderá se voltar para a qualidade da contribuição intelectual e o impacto humano das decisões.
O futuro do trabalho: ameaça ou libertação?
O debate suscitado por Sam Altman levanta uma questão fundamental: a IA é uma ameaça aos empregos ou uma ferramenta de libertação produtiva? Essa dualidade reflete o dilema entre eficiência tecnológica e valorização humana.
Se a automação realmente reduzir o peso das tarefas repetitivas, os trabalhadores poderão se dedicar a áreas mais significativas, como educação, pesquisa, design e cuidado interpessoal. Porém, a transição exige políticas públicas e estratégias corporativas que minimizem desigualdades e preparem a força de trabalho para novas demandas.
A história mostra que inovações tecnológicas sempre geraram rupturas, mas também novas oportunidades. O desafio, agora, é garantir que o progresso da IA não amplie disparidades, e sim promova inclusão digital e crescimento sustentável.
O impacto econômico e social da automação
Especialistas em economia do trabalho preveem que, até 2030, centenas de milhões de funções poderão ser automatizadas parcial ou totalmente. Porém, o saldo final dependerá de como governos e empresas irão gerir essa transição.
Setores como finanças, logística, atendimento ao cliente e marketing digital já estão passando por profundas transformações. Modelos como o ChatGPT são capazes de gerar relatórios, analisar dados e até criar conteúdo publicitário em segundos, reduzindo a necessidade de funções operacionais.
Entretanto, novas funções surgem à medida que o ecossistema digital cresce: engenheiros de prompt, analistas de ética em IA, especialistas em treinamento de modelos e gestores de inovação são apenas alguns dos cargos emergentes. Ou seja, a automação não elimina o trabalho humano — ela o transcende.
O novo perfil do trabalhador da era da IA
Para sobreviver à revolução tecnológica, os profissionais precisarão desenvolver habilidades que as máquinas ainda não conseguem replicar. Competências como pensamento crítico, criatividade, empatia e comunicação interpessoal tornam-se diferenciais em um cenário de crescente digitalização.
A educação também precisará se adaptar. O modelo tradicional, centrado na memorização, dá lugar ao aprendizado baseado em resolução de problemas e colaboração. Plataformas de IA, inclusive, estão sendo usadas para personalizar o ensino e acelerar o desenvolvimento de talentos.
Nesse contexto, o trabalhador do futuro será menos um executor de tarefas e mais um orquestrador de inteligências — humanas e artificiais.
O dilema ético e as responsabilidades das empresas
Com o poder de transformar profundamente o trabalho, a IA traz consigo dilemas éticos. A substituição de funções deve ser acompanhada por responsabilidade social e transparência. Empresas que buscam automatizar processos precisam considerar o impacto humano de suas decisões.
A ausência de regulamentação clara ainda é um desafio. Embora países como a União Europeia já discutam marcos legais para a IA, muitas nações ainda carecem de diretrizes robustas para equilibrar inovação e proteção social.
Altman, inclusive, tem se mostrado um defensor da regulação responsável da IA, alertando que o avanço descontrolado da tecnologia pode gerar consequências imprevisíveis. Seu discurso, portanto, reflete não apenas otimismo, mas também cautela diante do poder transformador da inteligência artificial.
O ChatGPT como símbolo da nova era produtiva
O ChatGPT se tornou o exemplo mais visível de como a automação cognitiva está redesenhando a relação entre pessoas e trabalho. Empresas de todos os tamanhos utilizam o modelo para otimizar rotinas, reduzir custos e ampliar a capacidade de resposta.
O fenômeno também despertou reflexões sobre a autoria intelectual e o papel da criatividade. Se a IA pode gerar textos, imagens e códigos, onde começa e termina o valor humano na produção de conhecimento? Essa é uma questão que seguirá no centro das discussões nos próximos anos.

A fala de Sam Altman durante o DevDay não deve ser interpretada apenas como uma provocação, mas como um convite à reflexão sobre o significado do trabalho na era digital. A inteligência artificial não está apenas eliminando empregos, mas redesenhando o que significa “trabalhar”.
A extinção dos chamados “empregos sem propósito” pode representar, paradoxalmente, o início de uma era de trabalho mais consciente, criativo e humano. Mas para que isso aconteça, será preciso repensar políticas de educação, gestão e inclusão, garantindo que o futuro do trabalho não seja apenas tecnológico, mas também ético e sustentável.
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