Pular para o conteúdo

A inteligência artificial como forma de terapia pode ajudar o paciente? SIM – 21/11/2025 – Opinião

Banner Aleatório

Psicoterapeutas com muitos anos de experiência desenvolvem um conhecimento tácito —um “sexto sentido clínico” difícil de ser transmitido por regras explícitas. Esse saber não se encontra nos livros.

Banner Aleatório

Paralelamente, há o conhecimento objetivo e formal, sistematizado em manuais, resoluções, obras especializadas, artigos científicos, cursos e até podcasts. Esse vasto acervo registrado constitui o arquivo do saber humano, já amplamente acessado pelas inteligências artificiais (IAs) de diferentes empresas. E convém não se iludir: a IA aprende, armazena e recupera informações de um modo que nenhum ser humano poderia sonhar em reproduzir.

Desde novembro de 2022, quando a OpenAI lançou o ChatGPT para o público geral, uma fração significativa da humanidade passou a utilizar a IA cotidianamente. É impressionante constatar que, em menos de três anos, cerca de 10% da população mundial já recorra a essa ferramenta. O ChatGPT é um modelo avançado de linguagem natural, treinado em larga escala, capaz de processar texto e gerar respostas contextualizadas de modo semelhante ao diálogo humano. Em termos simples, tornou-se o mais improvável e memorável dos assistentes para tarefas cotidianas, especializadas e profissionais —e, para o bem ou para o mal, relativamente acessível.

Profissionais das mais diversas áreas, em todo o mundo, utilizam o ChatGPT e outras IAs para pesquisa científica, produção de conteúdo, desenvolvimento de softwares e até aplicações clínicas. A American Psychological Association (APA), por exemplo, reconhece o potencial da IA como suporte clínico para decisões e avaliações na clínica de saúde mental. Revistas especializadas em saúde e tecnologia destacam o uso de sistemas de apoio à decisão clínica (Clinical Decision Support System) baseados em IA.

A revista Nature, líder em publicações científicas de alto impacto, apresenta estudos indicando que ferramentas como o ChatGPT podem ser um complemento acessível e qualificado à prática psicoterápica. Há, inclusive, modelos capazes de diagnosticar transtornos, como o obsessivo-compulsivo (TOC), com índices de acerto superiores aos de profissionais de saúde mental.

É fundamental lembrar que órgãos internacionais já reconhecem a IA aplicada à saúde como uma área de alto risco, exigindo supervisão humana rigorosa. Um exemplo é o AI Act, aprovado pela União Europeia, que classifica o uso de IA em saúde mental e na clínica como de impacto crítico, sujeito a regras específicas de transparência, rastreabilidade e responsabilidade. Essa norma reforça a necessidade de diretrizes éticas e de segurança e, longe de impedir o avanço da IA, estabelece bases sólidas para seu uso responsável.

O imaginário coletivo, por sua vez, costuma retratar a IA como prenúncio da ruína da humanidade: HAL 9000, Skynet e Ultron são exemplos célebres. Na realidade, porém, os perigos mais urgentes estão em outra parte. Talvez seja mais justo resgatar figuras como Data, J.A.R.V.I.S. ou C-3PO para ilustrar as inúmeras aplicações positivas e benéficas dessas ferramentas contemporâneas.

Com passos cautelosos e sob rigor ético, acumulam-se evidências de que a IA pode contribuir de maneira significativa para a psicoterapia e para os serviços em saúde mental.

Não como substituta, mas como incremento valioso ao que o profissional humano já realiza com competência e sensibilidade. A chave está em enxergar a tecnologia não como ameaça, mas como ferramenta complementar que pode enriquecer a clínica contemporânea. A IA, usada com critério e supervisão, pode ampliar o alcance e a qualidade dos cuidados em saúde mental, uma área onde a demanda é crescente e os recursos humanos especializados nem sempre estão disponíveis. Toda ajuda é bem-vinda.

TENDÊNCIAS / DEBATES

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

Source link

Join the conversation

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *