O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) divulgou nesta quarta-feira (03/12/2025) um relatório alertando que a inteligência artificial (IA) não regulada pode ampliar desigualdades entre países, elevando diferenças econômicas, sociais e tecnológicas. O documento, intitulado “A próxima grande divergência: por que a IA pode aumentar a desigualdade entre os países”, destaca que a transição tecnológica ocorre a partir de pontos de partida profundamente distintos, dificultando a distribuição equitativa de benefícios globais.
O estudo indica que países de baixo rendimento, sem políticas inclusivas e estratégicas, podem perder avanços conquistados nos últimos 50 anos, período em que muitos reduziram a distância em relação às economias mais desenvolvidas. O relatório alerta que a ausência de governança e infraestrutura adequadas pode gerar exclusão digital, perda de empregos e aumento da desigualdade social.
Segundo o Pnud, a Ásia e o Pacífico concentram mais da metade da população mundial e já se tornaram o epicentro do desenvolvimento e adoção da IA. A região abriga atualmente mais de 50% dos usuários globais e expande rapidamente sua capacidade de inovação, podendo elevar o crescimento anual do PIB regional em até dois pontos percentuais e aumentar a produtividade em setores como saúde e finanças.
Impactos econômicos e sociais
Na Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), o impacto acumulado da IA pode chegar a cerca de US$ 1 trilhão na próxima década, segundo o Pnud. Contudo, a diretora regional, Kanni Wignaraja, alerta que a experiência asiática evidencia como rapidamente podem surgir lacunas entre países que desenvolvem IA e aqueles que apenas a recebem.
O relatório identifica que infraestruturas frágeis, literacia digital limitada e capacidade reduzida de governança tecnológica impedem que países em desenvolvimento aproveitem os benefícios da IA. Além disso, populações vulneráveis, como mulheres, jovens, comunidades rurais e indígenas, correm maior risco de exclusão, devido à sub-representação em dados usados para treinar sistemas de IA e à maior exposição a automação.
A desigualdade digital também se manifesta no acesso a tecnologias básicas: no sul da Ásia, mulheres têm 40% menos probabilidade que homens de possuir smartphone, dificultando a inclusão em serviços digitais essenciais mediados por IA.
Governança e regulamentação
Apesar dos riscos, a IA tem potencial para modernizar serviços públicos e melhorar a governança, exemplificado pelo uso da plataforma Traffy Fondue na Tailândia, que processou quase 600 mil denúncias de cidadãos, acelerando respostas municipais. No entanto, o Pnud alerta que apenas um número limitado de países possui regulamentação abrangente sobre IA.
O estudo estima que, até 2027, mais de 40% das violações de dados globais associadas à IA poderão resultar de uso indevido de ferramentas de IA generativa. O relatório reforça a necessidade de estruturas robustas de governança, políticas inclusivas e regulação atualizada para prevenir riscos sociais, econômicos e tecnológicos.
*Com informações da ONU News.
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