
O otimismo desenfreado com a inteligência artificial (IA) está dando lugar a cautela aos capitalistas de Wall Street.
No centro dessa virada está a OpenAI, a criadora do ChatGPT, que passou de ícone da euforia tecnológica a símbolo de riscos crescentes.
O que começou como uma revolução promissora agora acende um “sinal vermelho” para o setor de tecnologia, impulsionado por concorrência feroz, queima de caixa bilionária e questionamentos sobre a lucratividade real da IA.
A Declaração de “Código Vermelho”: Um Alarme Interno que Ecoa no Mercado
Tudo começou com um memorando interno enviado pelo CEO da OpenAI, Sam Altman, em 1º de dezembro de 2025. Nele, Altman declarou um “código vermelho” – o nível máximo de urgência na empresa – para priorizar melhorias no ChatGPT.
O foco: acelerar personalização, velocidade e qualidade das respostas do chatbot, que Altman descreveu como enfrentando “ventos econômicos desfavoráveis temporários” e “vibrações difíceis”.
Essa medida não surgiu do nada. O lançamento do Gemini 3.0 pelo Google, em novembro, mudou o jogo.
O modelo superou o ChatGPT em desempenho, ampliando sua base de usuários de 450 milhões para 650 milhões em poucos meses.
Analistas da Morningstar notam que a Alphabet (dona do Google) agora é vista como a “construtora dominante de modelos de IA”, invertendo o favoritismo anterior à OpenAI.
A reação de Wall Street foi imediata e severa. Empresas ligadas à OpenAI – como Oracle, CoreWeave, Advanced Micro Devices (AMD), Microsoft, Nvidia e SoftBank (com 11% de participação) – enfrentam pressão vendedora intensa.
Em 2025, ações associadas à OpenAI subiram “apenas” 74%, contra 146% das ligadas à Alphabet. O Nasdaq 100, índice de tecnologia, acumula alta de 22%, mas o ceticismo cresce.
Os motivos são estruturais:
Concorrência Acirrada: Além do Google, rivais como Anthropic (com o Claude, popular entre clientes corporativos) e Meta erodem a liderança da OpenAI. O Gemini integra-se perfeitamente ao ecossistema do Google (busca, YouTube, Android), com chips TPUs personalizados que reduzem custos em comparação aos aluguéis caros de hardware da Nvidia.
Queima de Caixa Insustentável: A OpenAI projeta gastos cumulativos de US$ 1,4 trilhão entre 2022 e 2030 em data centers e chips – equivalente a mais de 60% do PIB brasileiro. Com receita anual estimada em US$ 20 bilhões, o prejuízo pode atingir US$ 115 bilhões até 2029. Analistas do Deutsche Bank alertam para três riscos “código vermelho”: crescimento lento de assinaturas, substitutos como o Gemini e o fardo de investimentos em infraestrutura.
Bolha da IA em Ebulição: Veteranos como David Einhorn chamam os gastos em IA de “extremos” e potencialmente “destrutivos de capital”. Scott Galloway, professor e analista, avisa que um colapso na OpenAI deixaria “ninguém para se esconder” no mercado, dado o papel central da IA na sustentação da economia. Um estudo do MIT reforça: a IA ainda falha em tarefas básicas, questionando retornos rápidos.
Essa virada não é isolada. Em agosto de 2025, ações de tecnologia caíram após Altman sinalizar uma “bolha da IA”.
O mercado, que viu a Nvidia valer US$ 5 trilhões em outubro antes de perder centenas de bilhões, agora precifica múltiplos elevados (25x para OpenAI, contra 8x para Alphabet).
Gestores como os da Kersmanc comparam à “era ponto-com turbinada”: hiperotimismo inicial seguido de correção dolorosa.
Para investidores, o alerta é claro: a IA é transformadora, mas não imune a realidades financeiras.
Empresas como a OpenAI precisam provar monetização além do hype, enquanto gigantes como Google, com US$ 98,5 bilhões em caixa e lucros anuais de dezenas de bilhões, ganham terreno.
Wall Street aprendeu que inovação sem sustentabilidade é risco puro. A tecnologia segue em alta – o mercado de IA deve superar US$ 400 bilhões até 2027 –, mas o caminho agora exige pragmatismo.
O sinal vermelho não é o fim da revolução, mas um freio para evitar o abismo.
Descubra mais sobre Luíz Müller Blog
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

