
A presença da inteligência artificial (IA) tem crescido na rotina empresarial. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que o uso da tecnologia registrou um salto de 163% em dois anos na indústria.
No levantamento de 2022, 16,9% das empresas (1.619 entre as 9.586 analisadas) disseram usar ferramentas de IA, percentual que subiu para 41,9% (4.261 dos 10.167 participantes) em 2024. A pesquisa não incluiu o assunto em 2023.
Já um estudo da AWS Brasil sobre o potencial da IA no país afirma que, entre as companhias que adotam a tecnologia, 95% relatam aumento de receita e 96% apontam ganho de produtividade.
— Reduzir custos e melhorar fluxos com IA já são realidades especialmente em empresas com maturidade digital. Ocorre menos retrabalho em atividades administrativas, além de reduzir o tempo de resposta, o que aumenta a eficiência do processo como um todo — resume Rafael Kunst, professor do Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada da Unisinos.
Tiago Filomena, cofundador da Finor, startup que auxilia empresas e instituições financeiras em projetos de IA, faz uma diferenciação. Ele explica que existe a inteligência artificial “clássica”, usada há mais de 20 anos no mercado, e a IA generativa, como o ChatGPT, popular a partir de 2022. Os dois tipos de tecnologia são capazes de auxiliar na sustentabilidade financeira do negócio:
— Os modelos de machine learning (aprendizado de máquina) são utilizados para tomada de decisão, como análise de crédito de um banco. Já os modelos como o ChatGPT costumam ser usados para a eficiência operacional: um exemplo disso é o uso no atendimento ao cliente, que oferece uma redução no custo operacional para as empresas — diz Filomena, também professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Marco Antonio Mabilia Martins, coordenador do MBA em IA nos Negócios da Feevale, explica que atualmente é mais fácil notar que a IA ajuda a cortar custos do que observar aumento no volume de vendas dos empreendedores.
— Quem desenvolve IA está tendo mais receita. As empresas de setores de fora da tecnologia estão economizando. Ainda não há como mensurar totalmente em termos financeiros o uso da IA, mas conseguimos ver relatos e provas de que há uma economia grande — pontua.
De acordo com Martins, em alguma medida, todos os setores do mercado já são influenciados pela inteligência artificial, com destaque para o uso de chatbots – robôs de conversa – geralmente utilizados em atividades de escritório e atendimento ao cliente via virtual.
Nesse contexto, empresas que atuam com marketing e tecnologia têm sido algumas das mais beneficiadas, mas há usos que impactam até trabalhos fora do ambiente digital.
— A IA analisa histórico de vendas para entender mercados e prever o que os clientes vão comprar. Isso evita gastos com estoque parado ou perdas de vendas por falta de produto. É uma economia de bilhões de dólares para varejistas do mundo todo. Também há a manutenção que pode prever falhas em máquinas. O futuro não é competir com a IA, mas trabalhar com ela ao lado — explica Martins.
Redução de custos

Presente em 317 municípios gaúchos, a Corsan/Aegea utiliza inúmeras IAs nas rotinas de trabalho. Há aquelas adotadas no setor administrativo, como transcrição de reuniões e revisão de documentos. Já os chatbots são usados de duas formas:
— Uma é no atendimento, que ajuda o cliente a obter segunda via de conta, abrir e acompanhar pedidos de serviço. A outra é interna: nossos colaboradores podem esclarecer dúvidas sobre seu contracheque ou outros temas — conta Eduardo Mendes, diretor de tecnologia da Aegea Saneamento, controladora da Corsan.
Outro uso da IA é responsável por analisar dados de previsão de chuvas, níveis de reservatórios e consumo de água.
— Com isso, conseguimos aumentar a disponibilidade de água para a população e há um menor consumo de energia para bombeamento. Temos também algoritmos que ajudam na priorização dos serviços de campo, levando em consideração a rota, tipo de atividade e equipe disponível, o que reduz significativamente o tempo de realização dos trabalhos — comenta Mendes.
Melhorar a logística e reduzir desperdícios

A inteligência artificial é uma aliada nas negociações da Ceasa de Porto Alegre, que recebe anualmente cerca de R$ 3 bilhões em produtos hortifrutigranjeiros.
Em novembro, a empresa lançou o Ceasa Conecta, uma espécie de “vitrine digital”, para reunir produtores, atacadistas e compradores em um único local, além de digitalizar os processos.
Há, na plataforma, uma IA treinada para padronizar informações e imagens de produtos no sistema, criando uma linguagem única para os usuários. Outra função ajuda a prevenir a falta de produtos e a reduzir perdas.
— É uma ferramenta que auxilia os compradores a adaptar compras, oferecendo sugestões de trocas de produtos similares usando como critério a sazonalidade das safras e a oscilação de preços em virtude das mudanças do clima e da oferta — explica Carlos Siegle, diretor-presidente da Ceasa.
Poucos dias após o lançamento, 180 fornecedores e 2,6 mil compradores já haviam se cadastrado no Ceasa Conecta. Para a empresa, a IA ajuda a identificar o comportamento de clientes, frequência de compras e produtos mais procurados em cada época.
— Tudo isso servirá para orientar os produtores a planejar o plantio em cada safra de acordo com a maior procura dos clientes. A Ceasa terá melhores condições de antecipar tendências de mercado e a encontrar novas oportunidades de negócios com base no comportamento de compra dos clientes — argumenta Siegle.
Alguns dos principais usos de IA nas empresas, segundo os especialistas
- Análise de crédito em bancos: reduz risco de decisões financeiras equivocadas e melhora a tomada de decisão.
- Previsão de demanda e comportamento do consumidor: evita falta de produtos e excesso de estoque parado, otimizando vendas e logística.
- Chatbots no atendimento ao cliente: reduzem custos operacionais, agilizam respostas e melhoram a experiência do cliente.
- Chatbots internos para colaboradores: esclarecem dúvidas sobre holerite e outros temas internos, diminuindo retrabalho administrativo.
- Transcrição e revisão de reuniões e documentos: economiza tempo, aumenta a precisão e reduz erros administrativos.
- Sugestões de compras e ajustes baseados em sazonalidade e oferta de produtos: ajuda compradores a otimizar compras, reduz desperdícios e melhora planejamento das safras.
- Manutenção preditiva em máquinas: antecipa falhas, evita paradas inesperadas e reduz custos operacionais.

