
O cometa interestelar 3I/ATLAS atinge, nesta sexta-feira (19), o ponto de maior aproximação da Terra desde que foi identificado, em julho de 2025. Apesar da expectativa em torno da data, astrônomos são categóricos: ele não poderá ser visto a olho nu, nem mesmo com binóculos comuns, e terá observação bastante limitada a partir do Brasil.
Mesmo no auge, o 3I/ATLAS estará a cerca de 270 milhões de quilômetros do planeta, distância equivalente a quase o dobro do espaço médio entre a Terra e o Sol. Trata-se, portanto, de uma “aproximação máxima” apenas do ponto de vista astronômico, sem qualquer risco de colisão e sem espetáculo visual para o público em geral.
Ainda assim, a data é considerada decisiva para a ciência. É nesse momento que telescópios profissionais e instrumentos espaciais conseguem coletar dados mais precisos sobre a composição química, o tamanho, a perda de material após a passagem pelo Sol e o comportamento do cometa ao deixar o Sistema Solar.
Dá para ver o cometa a olho nu?
A resposta curta é não. Segundo Carlos Fernando Jung, coordenador do Observatório Heller & Jung, em Taquara, o 3I/ATLAS permanece distante demais para qualquer observação sem equipamentos avançados.
— A olho nu ninguém enxerga. É a maior aproximação, mas ainda assim está muito distante — explica Jung.
Mesmo telescópios amadores comuns não resolvem. Segundo o astrônomo, equipamentos considerados “baratos” (ou de entrada) são incapazes de detectar o objeto, e até instrumentos mais robustos encontram limitações dependendo da região do país.
— Bons telescópios conseguem ver apenas um pontinho branco, como mostram as imagens da Nasa. E, no Sul do Brasil, nem com telescópios mais caros e robustos, como o do Observatório, será possível observar — afirma.
Que tipo de telescópio seria necessário?
Para quem tenta algum registro do 3I/ATLAS, a recomendação técnica envolve telescópios amadores de médio a grande porte, com abertura acima de 150 ou 200 milímetros.
Equipamentos desse nível costumam custar a partir de R$ 2.500 e, mesmo assim, oferecem apenas uma visualização pontual do objeto, sem grandes detalhes visuais.
Além da dimensão do telescópio, fatores como posição no céu, horário e poluição luminosa pesam contra a observação.
O cometa pode ser localizado nas madrugadas próximas à sexta-feira, antes do nascer do Sol, em direção ao leste, preferencialmente em locais afastados de centros urbanos.
Por que a aproximação máxima é importante para a ciência?

Embora discreto para observadores, o momento é valioso para pesquisadores. A astrônoma Alejandra Daniela Romero, professora do Departamento de Astronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica que o 3I/ATLAS já passou pelo ponto mais próximo do Sol e agora segue em trajetória de saída do Sistema Solar.
Assim, o dia 19 marcará o instante em que ele estará relativamente mais perto da Terra, facilitando medições e comparações com observações feitas antes e depois da passagem solar. Entre os principais objetivos estão a análise da composição química, a verificação de perda de massa e eventuais mudanças na velocidade do objeto.
Segundo a pesquisadora, o cometa passará a cerca de 1,8 unidade astronômica da Terra, uma medida usada em astronomia que corresponde à distância média entre o Sol e o nosso planeta. Para efeito de comparação, Marte está a cerca de uma unidade astronômica do Sol.
O que os cientistas tentam descobrir agora?
Com instrumentos adequados, astrônomos buscam identificar gases e elementos químicos liberados após a interação intensa com o Sol. Há indícios de que o 3I/ATLAS apresente anomalias na composição, como uma proporção incomum de níquel em relação ao ferro, algo raro quando comparado a cometas do nosso Sistema Solar.
— O que tentam sempre observar é a composição química, o tamanho, se ele ficou menor, se perdeu massa ou não. Em princípio, a velocidade com que ele vai embora deveria ser igual à velocidade com que ele entrou — diz a pesquisadora.
Também são analisados possíveis jatos de material, redução no tamanho do núcleo e se a velocidade de saída do cometa permanece compatível com a velocidade de entrada, um dado importante para confirmar modelos teóricos sobre objetos interestelares.
Vale ressaltar que essas análises não dependem apenas de imagens ópticas. Telescópios espaciais e instrumentos de espectroscopia permitem identificar substâncias invisíveis a olho nu e entender melhor a origem do objeto.
O que é o cometa 3I/ATLAS?
O 3I/ATLAS é somente o terceiro objeto interestelar já identificado cruzando o Sistema Solar, depois de ‘Oumuamua, em 2017, e 2I/Borisov, em 2019. Esses corpos são considerados “forasteiros cósmicos”, formados em torno de outras estrelas e lançados ao espaço há bilhões de anos.
Descoberto por um telescópio do projeto ATLAS, no Chile, o 3I/ATLAS chegou a ser registrado por sondas que orbitam Marte, já que passou mais perto do planeta vermelho do que da Terra. Pela trajetória e pela velocidade, pesquisadores estimam que ele possa ser até 3 bilhões de anos mais antigo que o Sol.
Apesar de especulações nas redes sociais sobre possíveis origens artificiais, os dados disponíveis até agora indicam que o 3I/ATLAS se comporta como um cometa natural, obedecendo às leis conhecidas da física. As anomalias químicas observadas, segundo os especialistas, não são suficientes para sustentar hipóteses extraordinárias.
— As anomalias químicas são, de fato, anomalias, mas isso não quer dizer que a natureza não possa produzir isso. Nunca podemos ter 100% de certeza porque não conseguimos ir lá ver o que está acontecendo, mas até agora as evidências não favorecem uma explicação artificial — finaliza Alejandra.
Após emergir do outro lado do Sol, o 3I/ATLAS reapareceu no céu próximo a Zaniah, um sistema estelar triplo localizado na constelação de Virgem. Em observações anteriores, feitas antes da passagem pelo periélio, o objeto apresentava uma coloração mais avermelhada.
Agora, no entanto, o tom predominante é um verde tênue, resultado de processos químicos desencadeados pelo aquecimento do cometa ao se aproximar do Sol, um comportamento considerado esperado, mas ainda pouco compreendido em objetos interestelares.

