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Demissões em 2025: apenas 55 mil atribuídas à inteligência artificial, apesar do discurso de substituição de trabalhadores

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 Nos últimos anos, a inteligência artificial deixou de ser vista apenas como uma ferramenta de apoio e passou a ocupar o centro do debate sobre o futuro do trabalho. Em meio a anúncios de automação, assistentes inteligentes e promessas de ganhos de produtividade, cresceu também o medo de que máquinas estejam tomando o lugar das pessoas. Em 2025, um ano marcado por demissões em massa, esse temor voltou com força — mas os dados mostram um cenário bem mais complexo.

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Um ano de cortes em larga escala

Em 2025, empresas ao redor do mundo eliminaram cerca de 1,1 milhão de postos de trabalho, o maior volume de demissões desde o auge da pandemia de COVID-19. O número, por si só, chama atenção e alimenta narrativas alarmistas sobre o impacto das novas tecnologias no emprego.

No entanto, associar automaticamente esse movimento à inteligência artificial não reflete a realidade. De acordo com um levantamento da Challenger, Gray & Christmas, apenas cerca de 55 mil demissões foram oficialmente atribuídas ao uso de IA em 2025. Isso representa menos de 1% do total de cortes registrados no período.

A distância entre o discurso e os dados

A ideia de que a IA estaria provocando uma onda generalizada de desemprego ganhou espaço principalmente no discurso público e nas redes sociais. Em muitos casos, qualquer reestruturação corporativa, corte de custos ou mudança estratégica passou a ser explicada como consequência direta da automação.

Os números, porém, indicam que a maior parte das demissões teve outras origens. Reorganizações internas, desaceleração econômica, fusões e aquisições, pressão por redução de gastos e mudanças nas prioridades de negócios continuam sendo os principais fatores por trás dos cortes.

A própria consultoria responsável pelo levantamento destaca que a IA ainda é usada, majoritariamente, como uma ferramenta de apoio — e não como substituta direta de trabalhadores em larga escala.

Por que a IA virou bode expiatório

Parte da confusão vem da expectativa criada em torno da inteligência artificial nos últimos anos. Desde a popularização de modelos generativos e sistemas capazes de produzir textos, imagens e códigos, difundiu-se a ideia de que muitas funções se tornariam obsoletas quase da noite para o dia.

Na prática, a adoção da IA costuma ser gradual, desigual entre setores e limitada por fatores como custos, regulamentação, infraestrutura e necessidade de supervisão humana. Mesmo em empresas que investem pesado em automação, a tecnologia tende a reorganizar tarefas, e não simplesmente eliminar cargos inteiros.

Ainda assim, quando uma empresa anuncia demissões ao mesmo tempo em que divulga projetos de IA, a associação se torna quase automática — mesmo sem comprovação direta.

O papel real da inteligência artificial no trabalho

Isso não significa que a IA não esteja transformando o mercado de trabalho. Ela está, sim, mudando a forma como muitas atividades são realizadas, exigindo novas competências e reduzindo a demanda por algumas tarefas específicas, sobretudo as mais repetitivas.

Mas os dados de 2025 sugerem que essa transformação ainda não se traduziu em substituição em massa de trabalhadores. Em vez disso, o que se observa é um período de transição, marcado por incertezas, ajustes e experimentações por parte das empresas.

Especialistas apontam que, em muitos casos, a IA tem sido usada como argumento para acelerar cortes que já estavam planejados por outros motivos, funcionando mais como justificativa do que como causa real.

Implicações para o debate público e as políticas de emprego

A discrepância entre a percepção popular e os números concretos levanta um alerta importante. Superestimar o impacto da inteligência artificial nas demissões pode desviar o foco de problemas estruturais do mercado de trabalho, como a fragilidade de certos setores, a falta de políticas de requalificação profissional e a concentração de poder econômico.

Além disso, uma narrativa distorcida pode dificultar a formulação de políticas públicas eficazes, ao tratar a IA como inimiga inevitável, em vez de uma tecnologia que precisa ser regulada, orientada e integrada de forma responsável.

Um cenário mais nuançado

Os dados de 2025 mostram que, apesar do barulho em torno da inteligência artificial, ela ainda está longe de ser a principal responsável pelas demissões em massa. O desafio, daqui para frente, não é apenas conter os efeitos negativos da automação, mas compreender melhor como a tecnologia está sendo usada — e como garantir que seus ganhos de produtividade não venham acompanhados de precarização ou exclusão.

Em um mercado de trabalho em constante transformação, simplificar o debate pode ser tão perigoso quanto ignorar a mudança.

 

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