Tersandro Vilela (*)
A inteligência artificial atravessou 2025 como poucas tecnologias na história recente: sem alarde, mas com impacto profundo. Ao longo do ano, deixou de ser apresentada como novidade para se tornar parte da infraestrutura invisível que organiza decisões, fluxos de informação e relações sociais. O futuro prometido chegou e já começa a envelhecer.
A IA passou a operar como linguagem e está nos sistemas que priorizam conteúdos, nas ferramentas que organizam dados públicos, nos mecanismos que orientam escolhas de consumo, crédito e políticas. Não se trata apenas de automação, mas de uma nova gramática que estrutura o modo como o mundo é interpretado e administrado. Quanto mais eficiente, menos perceptível.
Esse avanço, porém, trouxe à superfície dilemas não técnicos, mas políticos e éticos. Algoritmos não são neutros e reproduzem padrões, amplificam vieses e refletem interesses de quem os projeta e controla. A concentração de poder tecnológico, sobretudo em grandes empresas globais, passou a disputar espaço com Estados nacionais e instituições democráticas, redesenhando a noção de soberania.
Em 2025, a discussão sobre regulação deixou de ser periférica, tornando-se central. Governos, organismos internacionais e a sociedade civil passaram a confrontar uma questão incontornável: como garantir transparência, responsabilidade e direitos em sistemas que aprendem, decidem e operam em escala massiva?
O desafio não é conter a tecnologia, mas evitar que ela avance sem mediação social. A IA não pensa, não sente, não responde por si. Ela simplesmente executa. O risco maior não é a autonomia das máquinas, mas a transferência silenciosa de decisões humanas para sistemas opacos.
Ao final deste ano, fica evidente que a IA já não é apenas um tema de futuro. Pode-se afirmar que é um campo de disputa no presente, e o modo como será governada dirá muito sobre a sociedade que escolhemos construir.
(*) Jornalista – MTB 1801 PI


