LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA
Produzido pela Ri7a – a Inteligência Artificial do R7

Caitlin Ner nunca imaginou que a tecnologia com a qual trabalhava diariamente acabaria desencadeando um dos períodos mais difíceis de sua vida. Diretora de experiência do usuário em uma startup de geração de imagens por inteligência artificial, ela passava até nove horas por dia criando retratos seus em cenários imaginários.
Diagnosticada com transtorno bipolar, mantinha tratamento e se considerava estável, até que a rotina com as ferramentas mudou o rumo de sua saúde mental. A informação é da Newsweek.
No início, o trabalho parecia encantador. Bastava digitar uma frase para que versões hiper-realistas de si mesma surgissem na tela: como anjo, estrela pop ou exploradora espacial. O fascínio, porém, rapidamente deu lugar a uma espécie de fixação. As primeiras versões dos sistemas geravam imagens com corpos distorcidos e faces imperfeitas, o que, segundo Caitlin, começou a mexer com sua percepção física e emocional.
Com a evolução dos programas, os retratos passaram a mostrar um padrão estético idealizado. Rostos lisos, corpos mais magros e traços sem falhas criaram um contraste perturbador com o reflexo no espelho. Caitlin começou a desejar parecer com as versões artificiais de si mesma e mergulhou em uma rotina cada vez mais longa de criação, abrindo mão do sono e repetindo sem parar o ciclo de gerar novas imagens.
Essa repetição virou uma espécie de recompensa constante. Cada novo resultado trazia uma descarga instantânea de prazer e a sensação de que sempre era possível ir um pouco além. Com o passar dos meses, a fronteira entre diversão e excesso desapareceu. O que parecia criatividade se transformou em compulsão.
Foi nesse ponto que sua saúde mental entrou em colapso. Caitlin relata que acabou entrando em um episódio maníaco com psicose, perdendo a capacidade de distinguir o imaginário da realidade. Passou a enxergar mensagens escondidas nas imagens e a ouvir vozes que pareciam surgir entre a tecnologia e sua própria mente. Algumas eram tranquilizadoras, outras agressivas.
Um dos momentos mais delicados ocorreu quando viu uma imagem sua montada em um cavalo alado. A partir dali, começou a acreditar que podia voar. As alucinações a incentivavam a saltar da varanda de casa, garantindo que nada aconteceria. O risco de tragédia era real. Depois de noites sem dormir e já completamente esgotada, Caitlin entrou em colapso físico e emocional.
A retomada começou com apoio de pessoas próximas, que já conheciam seu histórico clínico. Ela deixou o emprego na startup e diminuiu drasticamente a exposição às imagens, o que ajudou a estabilizar o quadro. O tratamento, aliado a terapia intensiva, permitiu que gradualmente recuperasse o equilíbrio e reconstruísse a relação com o próprio corpo.
Hoje, Caitlin diz ter aprendido a impor limites. Continua usando inteligência artificial, mas evita sessões prolongadas e estabelece pausas obrigatórias. Mais do que isso, passou a defender mudanças estruturais nas empresas do setor, como limites de tempo, avisos sobre riscos psicológicos e orientações específicas para quem trabalha longas horas com essas ferramentas.
Para ela, a rotina que viveu mostrou como a criação constante pode acionar mecanismos de dependência semelhantes aos das redes sociais. Em pessoas vulneráveis, explica, a linha entre inspiração e instabilidade pode ser extremamente tênue. Por isso, considera urgente discutir ética e proteção emocional no ambiente tecnológico.
Caitlin afirma que não culpa a inteligência artificial em si, mas alerta para o impacto que ferramentas tão imersivas podem ter sobre a mente humana. Depois de recuperar o controle sobre a própria história, ela diz ter aprendido a aceitar imperfeições e lembra que, fora das telas, nenhuma imagem precisa ser perfeita para ser real.
Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da RECORD, no WhatsApp

