Bloomberg — No início do ano, os astros pareciam alinhados para um salto dos ativos digitais. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impulsionado por milhões de dólares em apoio de campanha vindos da indústria de criptomoedas, prometia um ambiente regulatório mais amigável. As principais instituições financeiras finalmente começavam a abraçar o setor.
Por um momento, os criptoativos entregaram o que se esperava: os preços dispararam, empresas de ativos digitais correram para abrir capital, e o setor comemorou indultos presidenciais e o arquivamento de processos judiciais contra figuras da indústria.
“Todos os medos que vinham segurando esse setor por uma década agora desapareceram”, disse Jeff Dorman, diretor de investimentos da Arca, gestora especializada em criptoativos. “Não vai ser banido, vai ser usado em uma parte relevante do sistema financeiro, e você não vai mais para a cadeia por participar do mercado cripto.”
“Com exceção do preço”, afirmou ele, “este foi provavelmente o ano mais positivo da história das criptomoedas.”
Leia também: JPMorgan avalia negociação de criptos para clientes institucionais, diz fonte
Sobre os preços: o bitcoin acumulava queda de cerca de 6% no ano até meados de dezembro, enquanto a maioria dos outros tokens recuava ainda mais, o que deixava alguns dos nomes mais proeminentes do setor menos ricos do que no início do período.
Outros também viram suas empresas listadas em bolsa perderem fôlego em meio ao aumento da concorrência e ao ceticismo em relação a seus modelos de negócios.
A seguir, a Bloomberg News apresenta um panorama de quem conseguiu se manter de pé — e de quem não conseguiu — no ano irregular para o setor cripto, segundo o Bloomberg Billionaires Index.
No máximo um bilionário é incluído por empresa, com exceção dos gêmeos Winklevoss. Todos os valores são de 16 de dezembro. Salvo indicação em contrário, os listados recusaram comentar para a reportagem da Bloomberg News ou não responderam aos pedidos de comentário.
Os vencedores
Jeremy Allaire, Circle Internet Group
Patrimônio líquido: US$ 1,7 bilhão
Variação desde o primeiro cálculo do patrimônio (4 de junho de 2025): 149%
Variação desde o pico (23 de junho de 2025): -68%

A USDC, stablecoin da Circle, sediada em Nova York, é a segunda maior do mundo, com circulação superior a US$ 77 bilhões, segundo a CoinMarketCap.
Embora bem abaixo da rival Tether, cujo stablecoin USDT soma US$ 186 bilhões, o desempenho foi suficiente para gerar entusiasmo entre investidores e levar a empresa à bolsa, com uma avaliação de US$ 6,9 bilhões após um IPO que superou a oferta inicial.
Apesar de estarem bem abaixo das cotações máximas de junho, as ações ainda acumulam alta de 168%, e a empresa registrou lucro líquido de US$ 214 milhões no terceiro trimestre, crescimento superior a 200% em relação ao ano anterior.
Allaire fundou a Circle em 2013.
Giancarlo Devasini, Tether
Patrimônio líquido: US$ 13,2 bilhões
Variação desde 1º de janeiro: 60%
Variação desde o pico (17 de setembro de 2025): -4%
Outra emissora de stablecoin, a Tether aumentou em mais de 15% a circulação de seu USDT neste ano e distribuiu mais de US$ 10 bilhões em dividendos a seus acionistas, incluindo Devasini, que é presidente do conselho.
A fortuna do italiano ainda pode crescer de forma expressiva. Em setembro, a Bloomberg News informou que a empresa discute uma captação de cerca de US$ 20 bilhões, a uma avaliação que pode chegar a US$ 500 bilhões. Isso tornaria Devasini a pessoa mais rica do universo cripto, com patrimônio líquido próximo de US$ 225 bilhões.
Mike Cagney, Figure Technology Solutions
Patrimônio líquido: US$ 2,1 bilhões
Variação desde o primeiro cálculo do patrimônio (10 de setembro de 2025): 46%
Variação desde o pico (8 de outubro de 2025): -19%

Cagney é fundador da Figure Technology, uma instituição financeira baseada em blockchain que abriu capital em setembro com avaliação de US$ 6,6 bilhões. Ele é um empreendedor veterano das fintechs e também cofundou a SoFi Technologies.
Mike Novogratz, Galaxy Digital
Patrimônio líquido: US$ 6,7 bilhões
Variação desde 1º de janeiro: 32%
Variação desde o pico (21 de outubro de 2025): -35%

Novogratz é fundador da Galaxy Digital, empresa de serviços financeiros focada em ativos digitais. Ex-banqueiro do Goldman Sachs, ele foi um dos primeiros a apontar o pico do movimento de empresas que mantêm criptomoedas em tesouraria, dizendo, em teleconferência de resultados do segundo trimestre, que novos entrantes provavelmente “teriam mais dificuldade para respirar”.
Ainda assim, a Galaxy se beneficiou da proliferação dessas empresas, ao receber taxas de administração por supervisionar as reservas cripto de pelo menos 20 delas. A receita bruta do terceiro trimestre, de US$ 28,4 bilhões, cresceu mais de 200% em relação a um ano antes.
Andando de lado
Barry Silbert, Digital Currency Group
Patrimônio líquido: US$ 3,1 bilhões
Variação desde 1º de janeiro: 27%
Variação desde o pico (15 de outubro de 2025): -28%
O ano marcou o retorno de Silbert à liderança da Grayscale, subsidiária da DCG e maior gestora de ativos digitais do mundo, após ele ter deixado o cargo no fim de 2023 em meio ao escrutínio regulatório ligado ao colapso da Genesis, empresa de crédito cripto.
A controvérsia não desapareceu: a DCG e Silbert ainda enfrentam processos judiciais relacionados à quebra da Genesis. A Grayscale agora busca abrir capital, embora documentos indiquem queda de receita à medida que a concorrência no mercado de ETFs de criptomoedas se intensifica.
Em outubro, Silbert lançou a Yuma Asset Management para investir em projetos de infraestrutura de inteligência artificial por meio da rede blockchain Bittensor.
Brendan Blumer, Bullish
Patrimônio líquido: US$ 1,8 bilhão
Variação desde o primeiro cálculo do patrimônio (12 de agosto de 2025): 17%
Variação desde o pico (14 de agosto de 2025): -42%

Blumer é cofundador da Bullish, uma corretora e formadora de mercado cripto voltada a clientes institucionais, que abriu capital em outubro com avaliação de US$ 5,4 bilhões. Ele também cofundou a Block.one, empresa de cripto apoiada por Peter Thiel e Mike Novogratz, que captou US$ 4,2 bilhões com a venda do token EOS, cujo valor posteriormente despencou.
Com sede nas Ilhas Cayman, a Bullish obteve licença para operar em Nova York em setembro e começou a oferecer serviços nos Estados Unidos no mês seguinte.
Blumer cresceu em Iowa, mudou-se para Hong Kong em 2005 e abriu mão da cidadania americana em 2020. No início do ano, comprou uma vila na Sardenha por cerca de US$ 200 milhões, uma das maiores transações residenciais já realizadas na Itália.
Brian Armstrong, Coinbase Global
Patrimônio líquido: US$ 11 bilhões
Variação desde 1º de janeiro: 2%
Variação desde o pico (18 de julho de 2025): -38%

A Coinbase realizou neste ano vários movimentos estratégicos em mercados como negociação de ações, mercados de previsão e ativos tokenizados, além de ter sido incluída no índice S&P 500.
Ainda assim, as ações da plataforma cripto, sediada em Nova York, são negociadas perto do nível de início do ano, e o patrimônio do cofundador Armstrong quase não mudou.
Donald Trump e família, World Liberty Financial
Patrimônio líquido: US$ 6,5 bilhões
Variação desde 1º de janeiro: 1%
Variação desde o pico (9 de setembro de 2025): -17%

Embora a fortuna do presidente termine o ano próxima de onde começou, isso mascara as grandes mudanças ocorridas em seus interesses no setor cripto. No início do ano, nenhum ativo digital fazia parte do patrimônio de Trump no índice de riqueza da Bloomberg. A família, porém, abraçou as criptomoedas com entusiasmo e agora tem uma série de participações financeiras em projetos como a World Liberty Financial, a American Bitcoin Corp., listada em bolsa, e a memecoin Trump.
Um token emitido pela World Liberty recua cerca de 50% desde o pico; a American Bitcoin caiu 82%; e a memecoin Trump despencou aproximadamente 90%, prejudicando tanto investidores quanto a própria família.
Essas perdas, embora bilionárias no papel, em grande parte não entram no cálculo da fortuna dos Trump por causa de restrições à liquidez de suas participações.
Ainda assim, os empreendimentos acabaram adicionando centenas de milhões de dólares ao patrimônio líquido neste ano, compensando perdas em outros negócios, como o Trump Media & Technology Group Corp.
Changpeng Zhao, Binance
Patrimônio líquido: US$ 50,9 bilhões
Variação desde 1º de janeiro: -5%
Variação desde o pico (3 de fevereiro de 2025): -17%

Embora o patrimônio de Zhao tenha permanecido relativamente estável, o ano foi triunfal em outros aspectos. Em outubro, ele recebeu indulto do presidente Trump por sua condenação anterior por violações relacionadas à lavagem de dinheiro, crime ao qual havia se declarado culpado e pelo qual cumpriu quatro meses de prisão.
A Binance construiu laços comerciais com Trump, incluindo um investimento de US$ 2 bilhões de uma empresa ligada ao governo de Abu Dhabi, denominado em uma stablecoin emitida pela empresa cripto de Trump, a World Liberty Financial, além de apoio tecnológico a essa companhia.
Questionado sobre o indulto, Trump disse não saber quem Zhao era, mas que “ouviu dizer que foi uma caça às bruxas do Biden”. A empresa agora planeja relançar suas operações nos Estados Unidos.
Chris Larsen, Ripple Labs
Patrimônio líquido: US$ 14,6 bilhões
Variação desde o primeiro cálculo do patrimônio (5 de novembro de 2025): -5%
Variação desde o pico (10 de novembro de 2025): -11%

O ano trouxe a conclusão de uma longa disputa judicial entre a Ripple e a Securities and Exchange Commission (SEC), sobre acusações de venda de valores mobiliários não registrados, com a Ripple pagando uma multa civil sem admitir irregularidades.
Larsen, cofundador da empresa de pagamentos em cripto, detém mais de US$ 5 bilhões em tokens XRP vinculados à Ripple, segundo o índice de riqueza. Embora o XRP hoje seja negociado perto do nível do início do ano, Larsen entrou para a lista de bilionários em novembro depois que a Ripple levantou US$ 500 milhões a uma avaliação de US$ 40 bilhões.
“A Ripple encerra seu ano mais forte já registrado”, disse Larsen em comunicado por e-mail. “Com a SEC definitivamente para trás e ventos regulatórios globais favoráveis ganhando força, estamos no ataque.”
Justin Sun, Tron
Patrimônio líquido: US$ 10,3 bilhões
Variação desde o primeiro cálculo do patrimônio (11 de agosto de 2025): -16%
Variação desde o pico (6 de outubro de 2025): -29%

Desde que a SEC suspendeu um processo por fraude contra ele, Sun se tornou um dos defensores mais visíveis das criptomoedas, aparecendo em conferências, jantando com o presidente Trump e fazendo uma breve viagem ao espaço em um foguete da Blue Origin.
Sua rede Tron se tornou parte importante da infraestrutura por trás das stablecoins, movimentando mais de US$ 20 bilhões por dia, e seu token agora conta com uma empresa de tesouraria cripto listada em bolsa, a Tron Inc.
Mas também houve conflitos. Em setembro, memecoins de Trump que ele havia comprado — e que lhe renderam um jantar presidencial — foram congeladas após especulações de que ele estaria vendendo sua posição.
A queda no patrimônio de Sun reflete principalmente a desvalorização de outros tokens atribuídos a ele pelo Bloomberg Billionaires Index. (Sun processa a Bloomberg LP por cobertura anterior relacionada a ele; o caso segue em andamento.)
Feridos e machucados
Michael Saylor, Strategy
Patrimônio líquido: US$ 4 bilhões
Variação desde 1º de janeiro: -37%
Variação desde o pico (16 de julho de 2025): -59%

A Strategy, de Saylor, é a empresa pioneira de tesouraria cripto, responsável por popularizar a estratégia de captar recursos via ações e dívida — muitas vezes a um prêmio sobre o valor líquido dos ativos — e usar o dinheiro para comprar bitcoin, no que alguns observadores chamaram de um “bug infinito de dinheiro”.
O sucesso, porém, atraiu imitadores, corroendo o prêmio da Strategy e deixando a ação atrás do desempenho do próprio bitcoin neste ano. Saylor manteve sua estratégia: a empresa comprou cerca de US$ 2 bilhões em bitcoin até meados de dezembro.
Cameron e Tyler Winklevoss, Gemini Space Station
Patrimônio líquido: US$ 4,8 bilhões
Variação desde 1º de janeiro: -59%
Variação desde o pico (6 de outubro de 2025): -70%

Os gêmeos Winklevoss pareciam destinados ao sucesso neste ano. Tornaram-se favoritos do presidente Trump após doarem milhões para ajudá-lo a retomar a Casa Branca, e sua corretora cripto, a Gemini, estava pronta para abrir capital.
Mas os documentos mostraram que o negócio era muito menor que o da concorrente Coinbase e dependia de empréstimos feitos pelos próprios irmãos.
As ações da empresa acumulam queda de cerca de 60% desde o IPO de setembro, enquanto o recuo do bitcoin reduziu o valor de seus investimentos pessoais.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Moody’s vai classificar risco de liquidez de stablecoins em mercado crescente
Bitcoin deu adeus à era da ambiguidade, segundo o Barclays. É hora do próximo passo
Magnata cripto é condenado a 15 anos de prisão por fraude com prejuízos de US$ 40 bi
© 2025 Bloomberg L.P.
Como servidor público há mais de 16 anos, vejo que o setor cripto tem se mostrado cada vez mais promissor. Em 2025, vemos surgir novos bilionários nesse mercado, mas também aqueles que perderam fortunas. É importante estar atento às oportunidades e riscos que esse cenário apresenta. Como podemos aproveitar ao máximo as possibilidades de obter renda extra e diversificar nossas fontes de recursos financeiros? Vale a reflexão.

