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As causas da podridão cerebral: entenda os sintomas e tratamentos

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No ano passado, 2024, a Oxford University Press, editora do Oxford English Dictionary, elegeu “brain rot”, ou “podridão cerebral”, como a palavra do ano. Ela partiu da constatação de que o uso contínuo de aplicativos de mídia social vicia as pessoas em vídeos curtos, comprometendo seus cérebros, que parecem virar mingau.

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Verifica-se uma crescente desconfiança da Academia em relação ao impacto da IA – Inteligência Artificial na aprendizagem. Nos Estados Unidos, assim como no Brasil, há nítido declínio de leitores. Em 2025, as notas em leitura entre crianças no final do ensino fundamental e do Ensino Médio, baixaram novos recordes mínimos.

Desde a pandemia, perdeu-se tempo na educação, roubado pelas telinhas. E isso chega à Universidade. Um estudo realizado pelo famoso MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts, apurou que ferramentas como o ChatGPT, da OpenAI, podem afetar a forma como as pessoas escrevem.

Educandos foram divididos em três grupos, todos solicitados a escrever uma redação entre 500 e 1000 palavras. O primeiro foi autorizado a fazer buscas pelo ChatGPT; o segundo, a consultar o Google; o terceiro, a não se utilizar de ferramenta alguma. Basear-se exclusivamente em sua memória. Todos foram munidos de sensores para medir a atividade elétrica em seus cérebros.

Quem recorreu à IA apresentou a menor atividade cerebral. E isso não surpreende: o trabalho foi transferido para o chatbot. Mas o mais importante: depois de um minuto da entrega das redações, todos foram convidados a reconstituir o que haviam escrito.

A grande maioria dos usuários do ChatGPT – mais exatamente 83% – não conseguiu se lembrar de uma única frase. Já os que usaram o mecanismo da busca do Google conseguiram citar algumas partes e os que não se serviram de qualquer tecnologia conseguiram se lembrar do conteúdo de seus textos. Alguns alunos chegaram a recompô-las na íntegra e com exatidão.

Como confiar na IA para treinar profissionais cujas funções requerem retenção de informações? Pense-se num piloto, num controlador de tráfego aéreo, num cardiologista ou cirurgião que necessitam de dados precisos?

Proibir o uso dos celulares em sala de aula não resolve. Quanto tempo permanece o aluno dentro dela? E quando sai? A restrição continuará, ou ele se voltará com volúpia ainda maior, para as suas telinhas?

Não há dúvida de que a dependência às redes sociais é algo que compromete o desempenho cognitivo. Todos os estudos evidenciam que isso acontece e não poderia ser diferente. Quem abdica de ler e apreender o que está lendo, para se contentar com figuras animadas, onomatopeia e som, nas breves mensagens veiculadas incessantemente, declina de elaborar um pensamento. Daí a vulgarização de expressões como “tipo”, para conceituar uma série de conceitos indescritíveis para a indigência verbal de quem não lê e acha isso normal.

O uso saudável da IA e das redes sociais é algo a ser resolvido no âmbito doméstico. Mediante diálogo paciente e, mais do que isso, do exemplo. De que adianta proibir o uso do celular, castigar com o sequestro da bugiganga, se os pais são os primeiros a perder tempo precioso consultando seus smartphones?

A esquecida lição dos antigos é muito bem-vinda: um grama de exemplo é mais importante do que um barril de vinagre. No caso, o uso racional da tecnologia pelos pais é mais eficiente do que discursos, perorações e comportamento errático e tão viciado quanto o da prole que se pretenda corrigir.

A IA pode ser auxiliar valiosa para obtenção de bons produtos da mente. Ou pode nos trazer a podridão cerebral. Compete-nos escolher.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo 

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