Antes de entrar nas previsões para 2026, vale um ajuste de contas com 2025. No fim de 2024, quase todo mundo da tecnologia apostava que 2025 seria “o ano dos agentes”. Eu preferi ir por outro caminho: achei que a realidade seria mais bagunçada, com avanços importantes nas áreas de IAs de raciocínio, vídeo e robótica.
O balanço do ano acabou indo nessa direção. As IAs de raciocínio, de vídeo e a robótica aceleraram num ritmo difícil de ignorar. As IAs agênticas também apareceram, mas ainda estão numa fase inicial, mais promissora do que transformadora, com um impacto bem menor do que 2024 sugeriria.
IA com visão de mundo e IA cientista: o que esperar da inteligência artificial em 2026
Vêm aí algoritmos que aprendem as regras do mundo e fazem novas descobertas.
Se 2025 foi o ano em que a inteligência artificial (IA) ficou impossível de ignorar, 2026 tem tudo para ser o ano em que ela vai começar a ficar impossível de enquadrar. Não por causa de uma novidade chamativa, mas por dois avanços que elevarão a IA para um novo patamar.
A primeira mudança é a IA cientista. Até aqui, a IA tem sido ótima em acelerar o que já fazemos em ciência: resumir literatura, sugerir hipóteses e ajudar no desenho de experimentos. Para 2026, a expectativa é outra. Começarão a surgir casos em que algoritmos farão descobertas científicas relevantes sem uma supervisão humana direta. Vai ser raro e barulhento, mas basta uma descoberta de fato importante para começar a mudar o mundo.

Em 2026, começarão a surgir casos em que algoritmos farão descobertas científicas relevantes sem uma supervisão humana direta Foto: Pedro Kirilos/Estadão
A segunda mudança é a IA com visão de mundo. Hoje os algoritmos já veem imagens, ouvem sons e descrevem cenas. Em 2026, o salto é que vão começar a entender o funcionamento do mundo físico ao integrar física, visão, áudio e som de forma coerente.
É entender que um copo cai, que uma superfície tem atrito, que o som muda quando um objeto bate, que uma ação tem consequência e que o tempo importa. Em 2026, quando os modelos começarem a incorporar essa compreensão do mundo, a robótica vai se tornar mais confiável e as simulações muito mais realistas.
Esses dois grandes avanços terão uma consequência inevitável. Durante 2025, o debate sobre a inteligência artificial geral (AGI, em inglês) ficou sério, com muitas tentativas de definir onde está a fronteira de uma inteligência generalizável. Em 2026, muita gente vai concluir que já chegamos lá. A maioria das pessoas vai terminar o ano dizendo que a inteligência artificial geral foi atingida e, logo depois, vai minimizar o debate que parecia tão relevante em 2025.
Enquanto isso, o ciclo de notícias seguirá seu roteiro habitual, decretando mensalmente que a ‘IA é uma bolha’. Como pesquisador e professor da área desde 2015, minha recomendação continua a mesma: ignore o ruído.
Essas previsões alarmistas costumam servir mais como um tranquilizante para quem teme a mudança do que como uma análise. Até aqui, a realidade tem sido bem pouco gentil com os céticos. E em 2026, quando a IA começar a agir e a descobrir por conta própria, o abismo entre o ceticismo e a prática ficará ainda mais evidente.
