Como entender a transformação da inteligência artificial no leite?






Fazendas em todo o mundo buscam se tornar mais eficientes para garantir sua lucratividade. Para isso, os produtores precisam tomar decisões acertadas sobre quando inseminar, o que alimentar e quando fornecer a dieta a um animal. Em muitas fazendas leiteiras, essas decisões são baseadas em observações e experiência.


No entanto, adquirir experiência leva tempo, e observar todos os fatores em uma grande fazenda é impraticável. Com o aumento da produção de leite em grande escala e rebanhos cada vez mais numerosos, a detecção e a tomada de decisões automatizadas tornaram-se indispensáveis. Para obter mais informações sobre suas fazendas, os produtores dependem cada vez mais de dados, coletando e analisando o máximo possível através de vários tipos de sensores.


Na última terça-feira (13/08), o workshop “Inteligência artificial na produção de leite: como entender a transformação e se preparar?”, ministrado pelo Prof. João Dórea, da Universidade de Wisconsin (EUA), abordou os principais tópicos da IA na pecuária leiteira para produtores, consultores e estudantes. Os principais temas discutidos foram a transformação na gestão das fazendas, o monitoramento animal por sensores e o papel do técnico nesse novo cenário.


João Dórea em sua palestra

João Dórea em sua palestra “Inteligência artificial na produção de leite: como entender a transformação e se preparar?”. Foto MilkPoint 


De acordo com Dórea, as principais aplicabilidades da IA no setor leiteiro incluem aplicações dentro e fora da porteira. Desde o uso de aplicativos com sistemas de inteligência artificial para processamento de texto, imagens e dados em geral, até a ordenha robótica, câmeras e sensores para monitoramento da saúde, nutrição e bem-estar animal.


A IA pode, por exemplo, automatizar o monitoramento de animais em larga escala e em tempo real. Os modelos de aprendizado de máquina utilizados em muitos sistemas de IA podem aumentar a agilidade e a eficiência na tomada de decisões por parte dos produtores, técnicos, consultores e pela indústria.


Os desafios da inteligência artificial


Em parte, os desafios são semelhantes tanto para técnicos quanto para produtores. A necessidade de conectividade em algumas aplicações, a implementação de novas tecnologias em ambientes onde métodos tradicionais são adotados há muitos anos, e a integração de diferentes plataformas tecnológicas são obstáculos comuns. No entanto, alguns desafios serão específicos para cada grupo de usuários. Por exemplo, com assistentes virtuais cada vez mais customizados e precisos, o papel do técnico pode se tornar mais estratégico, permitindo que ele se concentre em problemas mais específicos.


Além disso, há um ‘delay’ (atraso, demora) entre a descoberta da tecnologia, de sua funcionalidade e a sua chegada a campo. Após a validação dos benefícios da nova tecnologia, há ainda um grande percurso até se chegar às fazendas. “A gente tem uma expectativa que a tecnologia, a inteligência artificial vá para o campo rapidamente, mas não é assim que ocorre. A indústria leva um tempo para decidir o que fazer com o produto e como fazer. Precisa de um alinhamento ao modelo de negócio e entendimento de como levar isso ao produtor.”, afirma Dórea. 


Outro grande gargalo é o escalonamento dessas tecnologias. “O pesquisador realiza o desenvolvimento da solução tecnológica, valida e mostra como funciona. Mas é outra coisa escalar isso para milhares de produtores, assessorar, treinar, acompanhar e auxiliar todos esses produtores no campo.”, pontua o pesquisador. 


O futuro da inteligência artificial


O futuro da pecuária leiteira promete ser cada vez mais digital e automatizado. A IA poderá, no futuro, fornecer recomendações precisas e personalizadas para cada animal, otimizando a produção e reduzindo custos. Mas essa não é a realidade do presente. 


“Ainda estamos na fase de implementar a tecnologia no campo, monitorar animais e educar o proprietário e o técnico no campo sobre como ela funciona e entender quais são os gargalos da tecnologia. O objetivo é chegar num momento em que a tecnologia analise os dados e diga qual a melhor ação a ser tomada, que essa decisão seja cientificamente comprovada e que de fato seja a melhor estratégia a seguir” , explica Dórea.


A quantidade de dados gerados pelas tecnologias de IA é enorme, e isso pode ajudá-la no futuro a essas tomadas de decisão mais assertivas, mas também é preciso desenvolver estratégias eficientes para armazenar e gerenciar esses dados, garantindo a privacidade e a segurança das informações. Ainda é preciso entender quanto de dados precisaremos guardar. 


Qual o papel do técnico frente a essa transformação? 


De acordo com Dórea, o técnico precisará compreender, ao menos, o básico dessa revolução tecnológica que está ocorrendo em torno das ferramentas de IA em todo o mundo. Esse conhecimento será essencial para fornecer serviços e conhecimento de maneira eficiente, além de criar valor para o produtor rural e toda cadeia produtiva. Há uma geração emergente que está crescendo com essas ferramentas e, certamente, conseguirá implementá-las com facilidade no dia a dia da fazenda, da consultoria ou da cadeia produtiva.


A inteligência artificial está transformando a pecuária leiteira, oferecendo novas oportunidades para aumentar a eficiência, a produtividade e a sustentabilidade. No entanto, a adoção dessas tecnologias exige investimentos, treinamento e uma mudança de cultura. O papel dos técnicos é um pilar fundamental para garantir a disseminação do conhecimento e a adaptação das tecnologias às necessidades específicas de cada propriedade.




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