A avaliação do governo Lula nas capitais segundo as últimas pesquisas Quaest

Além de medir as intenções de votos dos candidatos a prefeito, a primeira rodada de pesquisas Quaest para as eleições das capitais, feita no fim de agosto, reforça que, apesar da aposta do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na área econômica para ampliar sua popularidade e das tentativas de acenar a segmentos mais bolsonaristas, como evangélicos e o agronegócio, a percepção do eleitorado sobre a gestão federal ainda esbarra no quadro de polarização observado nas eleições de 2022. Levantamento do GLOBO, com base nos resultados da avaliação do petista em 23 capitais com dados já divulgados, indicam que a atuação de Lula 3 é vista de forma mais positiva em municípios nos quais o hoje presidente venceu no segundo turno do último pleito, enquanto é mais mal avaliada naquelas em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) conquistou mais votos.

Nas capitais com pesquisas já feitas e divulgadas, o governo Lula tem avaliação positiva superior à negativa em apenas quatro delas (Teresina, Recife, Salvador e Fortaleza), todas localizadas no Nordeste, tradicional reduto do PT. Em 11 cidades — todas capitais em que Bolsonaro teve mais apoio que o petista em 2022 —, há o inverso: a fatia do eleitorado que vê a gestão de forma negativa é maior que aquela que a aprova. Em outros oito municípios, por fim, o cenário é de empate técnico na margem de erro.

Avaliação de Lula — Foto: Arte / O Globo
Avaliação de Lula — Foto: Arte / O Globo

— Ainda temos uma sombra de 2022. A avaliação do governo está informada pelo fato de que o eleitorado ainda segue o comportamento da eleição passada. Quem votou em Bolsonaro em via de regra avalia a gestão como ruim ou péssima, sem nem pensar — afirma o cientista político Carlos Ranulfo, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que considera a avaliação dentro do esperado. — Não podíamos ter a expectativa de que Lula repetisse os números de aprovação dos dois primeiros mandatos. A situação mudou totalmente. O cenário econômico é pior e o quadro de polarização ainda se faz presente.

Entre as cidades em que há empate na margem de erro entre os dois polos, estão São Paulo e Porto Alegre, duas capitais em que Lula teve mais votos que Bolsonaro há dois anos. Na maior cidade do país, 31% veem o governo como positivo e 35% como negativo, enquanto 32% consideram sua atuação regular. Na capital gaúcha, marcada pela recente tragédia climática, os números são idênticos: 31% para cada lado, e 36% de regular. Nas duas cidades, o presidente se empenha na eleição dos aliados Guilherme Boulos (PSOL) e Maria do Rosário (PT), que tentam conquistar as prefeituras em meio a disputas acirradas.

No Recife, em Teresina e em Fortaleza, os índices de avaliação positiva somam 41%, para as duas primeiras, e 40%, para a terceira. Em Salvador, são 37% os que consideram o trabalho de Lula dessa forma. Apesar do bom desempenho nessas cidades, ele ainda não tem se traduzido em uma vantagem para candidatos do PT ou aliados em boa parte das disputas municipais. Se em Recife Lula apoia o favorito nas pesquisas, o prefeito João Campos (PSB), que tem 80% das intenções de votos, nomes do PT enfrentam dificuldade em Teresina e Fortaleza, enquanto Geraldo Júnior (MDB), aliado do presidente em Salvador, aparece bem atrás do prefeito Bruno Reis (União).

No outro extremo, está Boa Vista, capital em que Bolsonaro teve sua maior votação em 2022 (79,5% dos votos válidos), onde hoje 51% dos eleitores consideram o governo Lula negativo. A capital de Roraima é seguida por Curitiba, cidade em que 48% avaliam a gestão negativamente, e Porto Velho, onde esse índice chega a 44%.

Outra cidade em que há dificuldade para Lula é o Rio, uma das capitais mais visitadas pelo presidente no atual mandato. Na capital fluminense, Bolsonaro teve mais votos no pleito presidencial. O governo do petista é considerado positivo por apenas 24% dos eleitores, segundo a Quaest, contra 39% que o classificam como negativo. Para outros 34% dos moradores do Rio, a gestão é regular.

Apesar de apoiar Eduardo Paes (PSD), que possui 60% das intenções de votos, Lula não tem sido figura presente na empreitada à reeleição do prefeito. Paes, inclusive, vem se esforçando para evitar a “nacionalização” da campanha carioca, enquanto o aliado de Bolsonaro, o deputado Alexandre Ramagem (PL), que tem 9% das intenções de votos, busca associar o prefeito ao petista.

O cientista político Josué Medeiros, coordenador do Observatório Político e Eleitoral (OPEL) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também defende que os dados mostram poucas variações em relação às eleições e à polarização eleitoral, mas ainda vê espaço para o governo Lula melhorar seu desempenho

— Neste momento, tanto governo quanto oposição ficam de olho no regular, que é a parte mais volátil. As avaliações positivas e negativas estão fidelizadas, então é no regular que o governo mira — acrescenta.

Medeiros considera que, apesar do resultado estagnado, “as notícias são boas para o governo”. O cientista político avalia que bons números da economia, em especial o crescimento acima do esperado do PIB, divulgado ontem, podem refletir na conquista da fatia com visão de que o governo é regular nas pesquisas, o que pode fazer a diferença no segundo turno das eleições de 2024 e, principalmente, no pleito de 2026. Antes estimado em 0,9%, o PIB teve alta de 1,4% no segundo trimestre.

Já o jornalista Thomas Traumann, coautor do livro “Biografia do abismo”, sobre a polarização política no Brasil, defende que os dados expressam a dificuldade para a gestão de Lula conquistar adesão nas grandes cidades.

— A série de pesquisas aponta um problema grave para a popularidade do presidente Lula nas capitais. Em 2022, Lula venceu porque superou Bolsonaro em grandes centros urbanos, notadamente São Paulo, que foi decisiva na vitória. Esta série de pesquisas, contudo, mostra uma reeleição difícil. O governo tem dez capitais com diferença de mais de dez pontos percentuais na avaliação negativa em relação à positiva, incluindo Rio e Belo Horizonte — lembra o jornalista

Traumann destaca a dificuldade do governo federal em “contar sua versão dos fatos” mesmo diante de números positivos, como a alta histórica do emprego (taxa de desemprego ficou em 6,8% no trimestre móvel encerrado em julho, a menor para o período desde 2012, início da série histórica da pesquisa), o recorde da massa salarial e o crescimento do PIB:

— A percepção da sociedade, como mostram as pesquisas, apresenta um governo apoiado por uma média na casa de um terço do eleitorado. É óbvio que existe uma dificuldade do governo em contar sua versão dos fatos para a população e isso só tende a piorar quanto mais perto se chegar ao período eleitoral de 2026.

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