A inteligência artificial não é mais um diferencial competitivo reservado às grandes empresas. Está em aplicativos de celular, plataformas de produtividade, soluções de gestão e até na assinatura digital de um contrato. Para que cumpra sua missão, ainda é preciso ampliar acesso à tecnologia para impulsionar o pequeno negócio. Por isso, a IA precisa ser invisível para ser útil.
Quando falo em invisível, refiro-me à capacidade da tecnologia de operar nos bastidores, sem exigir do usuário uma compreensão técnica aprofundada. O pequeno varejista, que com frequência está imerso na rotina do caixa, do estoque e das contas, não pode ser obrigado a estudar como funciona um modelo de linguagem ou um algoritmo preditivo. O que ele precisa é de respostas práticas e eficientes, que vão ajudá-lo nas tarefas do dia a dia e na gestão do negócio. Por exemplo, saber que um produto está encalhado há 180 dias no estoque e que vale a pena liquidá-lo. Ou receber alertas de que o giro de caixa merece atenção.
Na Zucchetti, temos encarado esse desafio: o objetivo é simplificar o uso da tecnologia a ponto de ela ser natural, fluida, quase imperceptível, com a manutenção de seu impacto real. A complexidade da inovação deve ficar do lado de cá, com o prestador do serviço. Do lado do cliente, o que importa é o valor percebido.
Não acredito que o papel das empresas de software seja educar o mercado sobre os fundamentos técnicos da inteligência artificial. Outras instituições possuem a expertise e didática necessária para isso. Nosso dever é entregar ferramentas que funcionem e resolvam problemas de forma transparente, mas sem exigir do usuário uma curva de aprendizado que demanda tempo e recursos ainda indisponíveis para a maior parte dos pequenos negócios.
A tecnologia só se justifica quando resolve algo melhor, mais rápido ou mais barato do que era feito antes. A interface conversacional, os resumos automáticos, os alertas proativos e as recomendações preditivas não são revoluções por si só. São recursos úteis, ou não são nada.
Nesse contexto, também é importante termos em mente que à medida que a IA ganha protagonismo, também se ampliam os riscos associados ao seu uso. Privacidade de dados, enviesamento algorítmico, deepfakes e ataques cibernéticos baseados em IA são apenas alguns exemplos de ameaças reais que precisam ser enfrentadas. A governança da inteligência artificial precisa andar junto com a inovação. Na prática, isso significa envolver áreas jurídicas, compliance, tecnologia e negócio na definição dos limites éticos da aplicação da IA, comprometidos com a segurança para o usuário.
Mais do que popularizar a Inteligência artificial, precisamos torná-la funcional, confiável e alinhada às necessidades do cotidiano nos pequenos negócios. O avanço tecnológico só se justifica quando melhora processos concretos, respeita os limites éticos e contribui para reduzir desigualdades estruturais. Se aplicada com responsabilidade e clareza de propósito, a IA tem o potencial de deixar de ser uma tendência para se tornar um pilar na gestão e manutenção dos pequenos negócios.
Alessio Mainardi, CEO da Zucchetti Brasil.
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