“A tecnologia não vai revolucionar desse jeito que muitos dizem, e o computador não vai tomar emprego das pessoas” – Lu Lacerda |

Em qualquer roda de conversa atualmente, um assunto é certo: tecnologia. Principalmente os relacionados à Inteligência Artificial e seus desdobramentos. Mesmo que você ignore qualquer expressão em inglês, vai se pegar falando um “AI” (artificial inteligence), um blockchain (banco de dados avançado), e assim vai.

Ela controla nossa vida e toda uma estrutura social; por exemplo, quando você clica na Amazon para procurar um produto, quando rola o seu feed do Instagram ou do Facebook, e aparece um anúncio do Google, está sendo usada inteligência artificial para tentar tornar tudo mais atrativo baseado nas suas buscas recentes.

A IA é uma ferramenta, da mesma forma que as pessoas sempre tiveram tais ferramentas de atração de consumo, só que agora tudo muito mais eficiente. No entanto, ela não age sozinha e, embora muitos pensem, não é um ser maquiavélico separado da humanidade e, se usada com propósitos claros, pode ser aliada.

 O empresário Alberto Pittigliani, nome destacado nesta área, é um expert em tecnologia e está há 40 anos nesse ramo. É diretor de operações e sócio da Q13, com mais de 30 anos de experiência no mercado de redes e telecomunicações, uma integradora de soluções em tecnologia, com escritórios no Rio, São Paulo, Brasília, Curitiba e Serra, no Espírito Santo.

Aqui, principalmente no tema inteligência artificial e seus desdobramentos.
 

1 – Como aconteceu o interesse pela tecnologia?
Sou formado em Engenharia e trabalho com tecnologia há 50 anos, então peguei essa revolução desde o primeiro computador pessoal até hoje. Sempre gostei do assunto, e fundamos a Q13, empresa que é tipo uma integradora, uma espécie de empreiteira — quando você quer construir uma ponte, chama uma empreiteira para administrar tudo. Nós fazemos isso em soluções de informática. Quando você quer montar uma rede muito grande para um cliente, por exemplo, a Volkswagen ou o Governo do Estado, você precisa ligar os computadores a uma rede, a um servidor. Estou sendo simplista, mas, como somos integradores, acabamos lidando com muitas tecnologias diferentes, como cibersegurança e IA.

2 – Hoje, só se fala em IA. Acredita que ela seja superestimada?  

Na minha opinião, o termo está sendo muito usado sem o devido cuidado; então, vamos só voltar um pouco atrás. Antigamente, o computador funcionava rodando um programa, uma sequência de instruções — se chover, você abre o guarda-chuva; assim é que um programa funciona. Há muitos anos venho pesquisando uma outra maneira de desenvolver esses programas e, em vez de desenvolver uma sequência de instruções, você usa algo muito parecido com o seu cérebro, que, no fundo, é uma matriz de neurônios, uns ligados nos outros, são bilhões. Quando você vê a imagem de uma bola, essa imagem estimula os seus olhos, e isso corre pela sua rede neural lá e sai um resultado que o seu cérebro interpreta como uma bola. Estou tentando usar algumas analogias. Então se pensou em não usar a programação, mas treinar algoritmos para, por exemplo, reconhecer uma bola. O que você faz? Pega um algoritmo desse de rede neural, coloca um monte de bola na frente dele e um monte de quadrado e treina para ele distinguir o que é a bola. Isso se chama de machine learning (aprendizado de máquina). É isso que está sendo usado hoje em dia. A inteligência artificial é uma nova maneira de você construir aplicações, só que elas vão ficar muito mais poderosas. A IA é uma ferramenta, assim como é o WhatsApp. Vivemos a vida toda sem ele; antigamente, você tinha que ligar e pegar o telefone para falar, e hoje a gente resolve com áudio e mensagens.

 2 – Quando você ouviu falar em inteligência artificial e acredita que ela possa substituir os humanos?

Ouvi falar quando eu ainda estava na faculdade. Falava-se em redes neurais, em como nosso cérebro funciona, mas, àquela época, não tinha computador suficiente para emular um negócio desses; hoje em dia, tem. As soluções baseadas em IA vão ser superinteressantes, vão abrir novas janelas para certos tipos de programas, mas a minha opinião particular é que não vai ser o que estão dizendo que vai ser. As pessoas estão com muita expectativa de que vai revolucionar. Claro, acho que sim, mas nada substitui, obviamente, o humano. Os algoritmos de aprendizagem de máquinas já existem há muito tempo. O que aconteceu foi que, em 2022, liberaram o ChatGPT para uso geral, e começou o auge da IA. E mesmo que exista um programa de IA que faça algo melhor que aquele profissional, a sociedade não vai deixar isso acontecer porque, senão, todo mundo perderia seus empregos e fica só olhando para o computador.

3 – Acredita que um dia ela chegue à perfeição?

A IA tem dois estágios. Ela já existia, já funcionava; quando liberaram o ChatGPT para uso geral, ficou esse auge. Se você treinar um programa o suficiente, ele pode até conversar informalmente com você. Hoje, por exemplo, eu poderia pegar um braço robótico e fazer uma análise detalhada do quadro da Mona Lisa, pegar o mesmo tipo de tinta que o Leonardo da Vinci usou, o mesmo tipo de tela e pintar um quadro idêntico. Mas ficaria a mesma coisa? Não. Então, ela veio  como um meio para chegar aos resultados.

4 – E as leis e regulamentações pra isso tudo?

Elas existem, porque qualquer coisa que tenha sido escrita através de um software, criada através de um programa, vai ter que ser dito que foi criado assim, como os direitos autorais de uma imagem, por exemplo, você tem que dar os créditos. As discussões obrigatórias em qualquer seminário sobre inteligência artificial é a regulamentação. O Brasil não está atrasado, porque driblar a segurança – e não estamos falando de golpes ou de manipulação de vídeos e imagens, mas de redes macros – é preciso muito conhecimento e muito dinheiro. E não tenho a menor dúvida de que vá ter uma regulamentação eficiente — no Congresso Nacional, são mais de 50 projetos de lei para regulamentar o uso de IA no Brasil, que estão tramitando na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

5 – Existem muitas discussões éticas, como uso indevido de imagens de pessoas que já morreram?

Muita gente usa apenas programação de computador para manipular imagens e falam que é IA para conseguir mídia. Se você tem um poder computacional, isso é feito há anos com um programa normal sem ser baseado em IA, como o Adobe Illustrator, qualquer programa sofisticado que consegue fazer. Tanto que qualquer ficção científica de alguns anos atrás você usava edição de imagem, como na franquia do filme Guerra nas estrelas, por exemplo, pura computação gráfica, passando por toda tecnologia de Matrix, só que hoje tudo está muito mais aprimorado na chamada Computer Graphic Imagery, ou seja, imagens geradas por computador. Ficou mais fácil, e o acesso está maior.

6 – O que você diria a um leigo hoje?

Tanto para um trabalho quanto para um golpe, os computadores estão muito mais poderosos do que há cinco anos, mas eu diria para as pessoas não se assustarem. A tecnologia não vai revolucionar desse jeito que muitos especialistas dizem, e o computador não vai tomar emprego das pessoas. Ele vai facilitar várias tarefas, principalmente as que lidam com grandes volumes de dados.

7 – Quais os empregos do futuro?

Antigamente existiam as telefonistas; hoje, isso mudou com as atendentes virtuais, nem sempre muito eficientes. Mas basicamente, indicaria uma formação em analista de dados, em todas as áreas: segurança, saúde, comunicação, sustentabilidade, inteligência de negócios, engenharia de robótica, especialistas em transformação digital, e assim vai.

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