Por Nilo Maia, Riacho Consult, e Celso Tacla, CEO Valmet Brasil.
O avanço da inteligência artificial generativa (IAGen), como o ChatGPT, tem levado empresas de diversos setores a repensar suas estratégias. Uma pesquisa da Bain & Company mostra que o uso é especialmente alto em mercados emergentes como Brasil e Índia — e o brasileiro, em particular, tem forte apetite por novidades. Por aqui, a adoção já é realidade em larga escala. Ao transformar modelos operacionais, a IA generativa impulsiona ganhos de eficiência e abre novas possibilidades de crescimento. Segundo a mesma consultoria, empresas que a implementam têm observado um aumento de 14% na produtividade e crescimento de 9% nos resultados financeiros.
Essa nova realidade traz discussões ainda em aberto no ambiente corporativo. Uma das decisões mais críticas é definir se o acesso à IA deve ser amplamente liberado — permitindo que líderes, analistas, engenheiros, especialistas e parceiros de negócio a utilizem livremente — ou restrito a um grupo seleto, treinado e autorizado.
A seguir, exploramos as vantagens, desvantagens e riscos dessa decisão estratégica, considerando tanto os impactos imediatos quanto as possíveis consequências estruturais.
Vantagens do acesso irrestrito
Eficiência e velocidade: talvez o benefício mais evidente no curto prazo. Colaboradores economizam tempo ao cruzar, validar e processar dados. Mesmo sem domínio de ferramentas como Excel, conseguem gerar análises em grande volume e profundidade, com rapidez.
Inovação acelerada: equipes diversas combinam perspectivas e experiências, gerando soluções mais rapidamente.
Inclusão e empowerment: o acesso democratizado permite que colaboradores de diferentes níveis contribuam efetivamente. A IA se torna um especialista disponível a qualquer momento.
Menor uso clandestino: o uso oficial da IA reduz o “Shadow AI” e os riscos associados.
Cultura data-driven: a facilidade de acesso, pesquisa e simulação de cenários promove o uso crescente de dados nas decisões.
Atração de talentos: empresas que investem e democratizam a IA são vistas como inovadoras. Isso atrai profissionais interessados em tecnologia e desenvolvimento contínuo.
Desvantagens e desafios nas empresas
Segurança e compliance: o uso de ferramentas externas pode levar ao vazamento de informações sensíveis. Compartilhar, por exemplo, um Plano de Negócios com uma IA pode representar risco, já que os dados podem ser armazenados, analisados e reaproveitados.
Perda de habilidades humanas: a delegação excessiva pode reduzir o pensamento crítico e a precisão. A facilidade de uso, aliada à pressão por prazos curtos, pode gerar dependência e “preguiça intelectual”.
Qualidade da saída: erros, vieses e “alucinações” podem ser aceitos sem questionamento, especialmente por usuários inexperientes. Como validar análises feitas por essas ferramentas?
Sobrecarga para TI: uma adoção acelerada pode gerar maior demanda por infraestrutura, integração de sistemas e suporte técnico.
Impacto na cultura organizacional: a redução de interações humanas pode prejudicar a colaboração e a coesão entre equipes.
Riscos do não uso estruturado
Shadow AI: o uso não autorizado de IA aumenta os riscos de segurança e facilita a exposição de dados sigilosos.
Falta de governança: a ausência de políticas, padrões técnicos e processos de monitoramento pode gerar problemas imprevistos.
Vieses e decisões incorretas: a IA pode perpetuar preconceitos contidos nos dados de treinamento — ou simplesmente não identificar riscos futuros.
Ameaças externas: agentes maliciosos podem explorar vulnerabilidades da IA para revelar dados ou causar danos.
Decisões fragmentadas: informações inconsistentes ou desatualizadas podem levar a decisões erradas por usuários não qualificados, ainda que empoderados pela IA.
Colapso no pipeline de talentos: um risco estrutural
Pouco discutido, mas potencialmente grave, é o impacto da IA sobre os profissionais em início de carreira — estagiários, trainees e analistas júnior. Com a automação de tarefas básicas, essas funções tendem a desaparecer. No médio e longo prazo, isso pode resultar em:
Falta de profissionais intermediários e seniores
Perda de conhecimento tácito
Aumento da dependência da IA para decisões estratégicas
Ampliar o acesso à IA traz ganhos evidentes em inovação, agilidade e inclusão nas empresas. Mas, sem governança e visão estratégica, os riscos operacionais se ampliam — e o futuro do capital humano pode ser comprometido.
O equilíbrio está em permitir o uso com responsabilidade: acesso amplo, políticas claras, capacitação contínua e preservação de oportunidades para novos talentos. Assim, é possível colher os benefícios da IA sem sacrificar o futuro da organização.
Connect Executive Hub
Próximos encontros do Connect Executive Hub
- Dia 3 de setembro: Connect Dinner – “Histórias, Experiências e Novas Conexões”. Evento presencial em Curitiba. Mais informações e inscrições no site.
- Dia 17 de setembro: Connect Dinner. Evento presencial em Porto Alegre. Mais informações e inscrições no site.
- Dia 30 de setembro: Connect Talk – “Board Trends 2025: Insights sobre a carreira de conselheiro”. Evento online. Mais informações e inscrições em breve no site.
- Dia 22 de outubro: Connect Talks SP – “Do hype à estratégia: o real valor da IA nos negócios”, com Christian Geronasso Gloval, CRO Artificial Intelligence na SAP; Marcos Gurgel, com trajetórias por empresas como iFood e Red Ventures; e Isabelli Gonçalves, Change Management no Bradesco. Evento presencial em São Paulo. Mais informações e inscrições em breve no site.

