Experimentar inteligência artificial (IA) e inteligência artificial generativa (GenAI) como um fim em si mesmo não é mais prioridade para as empresas quando recorrem à Deloitte. Os pedidos de apoio estão mais sofisticados e integrados à estratégia. “Hoje, as questões variam entre ‘como eu posso usar a IA para prestar melhores serviços’ e ‘como eu posso usar a IA para criar uma vantagem competitiva acessando segmentos de clientes que eu não conseguia atender antes’”, afirma Heather Stockton, líder global das áreas de consulting services e de technology & transformation na Deloitte.
Durante visita ao Brasil, Stockton e Nitin Mittal, líder global de AI da Deloitte, destacam o papel emergente dos agentes de IA na transformação dos negócios. Esses agentes são vistos como a próxima grande onda de inovação. “Estamos criando agentes de IA em uma infraestrutura e pilha de IA soberana que funcionarão como uma força de trabalho digital”, diz Mittal. Segundo ele, o diferencial não está apenas na criação de ferramentas capazes de pensar e agir autonomamente, mas na capacidade de integrá-las harmonicamente à força de trabalho humana. “Isso é muito mais importante do que apenas a capacidade de usar, aplicar e implementar a tecnologia”, complementa.
Transformação cultural para a real implementação da IA
A principal barreira para a adoção efetiva da IA, segundo os especialistas da Deloitte, não é tecnológica — é cultural. Embora executivos de alto escalão estejam conscientes da urgência de se adaptar e as novas gerações entrem no mercado já imersas em tecnologia, o grande desafio está na camada intermediária das organizações. “São os profissionais em nível de gerência, que cresceram quando o paradigma era se tornar especialista em um assunto”, diz Stockton. “Agora, acham que o espaço deles vai acabar ou que ainda têm tempo antes de o paradigma mudar, em contraste com trabalhar com tecnologia para gerar um impacto maior.”
Vencer a resistência cultural, de acordo com a executiva, exige atenção das empresas. É necessário tornar esses profissionais mais fluentes no uso da tecnologia e confortáveis com os ganhos de produtividade proporcionados pela inteligência artificial. “Eles precisam se acostumar à ideia de que os humanos farão uma parte do trabalho, em vez de planejar e executar tudo”, afirma. Além da cultura, o custo e a viabilidade econômica figuram entre os principais entraves à adoção da IA.
Outro ponto crucial destacado por Mittal é a gestão de riscos. A adoção da IA exige novas estruturas de governança e estratégias para gerar confiança. “Como você avalia os riscos? Quais sistemas de governança implementou? Qual nível de confiança vai estimular através desses sistemas?”, questiona.
O Brasil, segundo os executivos, ocupa posição promissora nesse novo cenário global. Para Heather Stockton, o país tem a chance de usar a IA tanto para transformação social quanto para avanço nos negócios. “É uma grande oportunidade porque todos os países entram em nível de igualdade nesse novo mundo tecnológico”, afirma. Mittal vai além e enxerga a tecnologia como um grande igualador de oportunidades. “Todo mundo pode acessar a IA no seu celular. Não importa se é um agricultor em Botswana ou na Nova Zelândia”, diz.
Estratégias ao redor do mundo
A IA soberana também vem ganhando relevância, impulsionada por questões geopolíticas e culturais. Para Mittal, países têm buscado criar sua própria infraestrutura de IA como estratégia de proteção e independência tecnológica. “Meramente aplicar a tecnologia dos outros provavelmente não é uma estratégia geopolítica inteligente”, alerta. Outro fator é a preservação da identidade cultural. “Se cada modelo no mercado for a tradução de um sistema originalmente criado em inglês, nada do seu próprio acervo cultural estará codificado nesse modelo. Seria como terceirizar a forma de pensar, de uma nação para outra”, afirma.
Para responder a demandas tão variadas, a Deloitte reformulou sua estrutura global criando núcleos especializados de agentes em diferentes geografias e conectando conhecimentos locais com uma rede de soluções escaláveis. “Algo construído para um setor e uma geografia pode beneficiar todos os outros, sem comprometer a confidencialidade necessária”, diz Stockton. A lógica da colaboração global é uma das forças da empresa. “Temos acompanhado o impulso e a trajetória da inteligência artificial, bem como o potencial da tecnologia para os negócios. Desenvolvemos uma excelente compreensão de onde estão as oportunidades para que as empresas promovam mudanças significativas. Quando combinamos isso com a capacidade de simular todos os caminhos possíveis para o futuro, oferecemos profundidade e riqueza aos nossos clientes”, complementa Mittal.
Os líderes da Deloitte defendem uma abordagem baseada em ecossistemas para a adoção da IA. Não se trata apenas de escolher uma tecnologia, mas de combinar fornecedores, estratégias e consultorias. “Não existe um único provedor de tecnologia capaz de oferecer todas as respostas”, observa o executivo. “É importante trabalhar com consultorias, como a Deloitte, para reunir todas as partes e fazer funcionar, aproveitando plenamente o potencial da IA para impulsionar resultados de negócios e inovações.”