As perspectivas para o emprego são “assustadoras” graças a inteligência artificial, afirmou Howard Marks, o cofundador da Oaktree Capital Management, em seu mais recente memo.
“Um dos principais impactos da AI será o aumento da produtividade, e consequentemente a eliminação de empregos,” escreveu Marks. “Essa é a origem da minha preocupação.”
Para ele, é incerto o que ocorrerá com as pessoas cujos empregos vão se tornar desnecessários.
“Os otimistas argumentam que ‘novos empregos sempre surgiram após avanços tecnológicos.’ Espero que isso se confirme no caso da AI, mas a esperança não é lá grande coisa, e tenho dificuldade em imaginar de onde virão esses empregos,” disse ele.
Outro argumento dos otimistas, afirmou Marks, é que a AI tratará ganhos de produtividade que causarão “uma enorme aceleração no crescimento do PIB”.
“Aqui, tenho algumas ressalvas,” ponderou.
O papel da AI no aumento da produtividade significa que serão necessárias menos horas de trabalho – ou seja, menos trabalhadores – para produzir os bens de que precisamos.
“Ou, visto de outra perspectiva, talvez o aumento da produtividade signifique que muito mais bens poderão ser produzidos com a mesma quantidade de mão de obra,” escreveu. “Mas se muitos empregos forem perdidos para a AI, como as pessoas poderão comprar os bens adicionais que a AI possibilita produzir?”
Para Marks, é difícil imaginar um cenário em que não haja perda de vagas.
“É provável que a AI substitua muitos trabalhadores iniciantes, pessoas que processam documentos e advogados juniores que vasculham livros de direito em busca de precedentes,” afirmou. “Talvez até mesmo analistas de investimento juniores que criam planilhas e compilam materiais de apresentação. Dizem que a inteligência artificial consegue interpretar uma ressonância magnética melhor do que um médico comum. Dirigir é uma das profissões mais numerosas nos EUA, e os veículos autônomos já estão chegando. Onde encontrarão emprego todas as pessoas que atualmente dirigem táxis, limusines, ônibus e caminhões?”
Na opinião de Marks, os governantes provavelmente responderão com políticas de renda básica universal. Isso, entretanto, traria outros desafios — em primeiro lugar, de onde sairá o dinheiro.
Para Marks, contudo, uma questão existencial é ainda mais relevante.
“Um emprego dá às pessoas um motivo para se levantarem de manhã, estrutura o seu dia, proporciona-lhes um papel produtivo na sociedade e autoestima, e apresenta-lhes desafios cuja superação lhes traz satisfação,” escreveu. “Como essas coisas serão substituídas?”
Tendo a história recente como exemplo, Marks lembrou que há muitas pessoas que recebem auxílios de subsistência e passam o dia ociosas.
“Preocupo-me com a correlação entre a perda de empregos na mineração e na indústria manufatureira nas últimas décadas e a incidência de dependência de opióides e a redução da expectativa de vida,” escreveu.
O investidor listou outro possível desafio. “Se eliminarmos um grande número de advogados, analistas e médicos juniores, onde encontraremos os veteranos experientes capazes de resolver problemas complexos que exigem discernimento e reconhecimento de padrões aprimorados ao longo de décadas?”
Marks fez taambém um alerta sobre as prováveis consequências políticas.
“Tenho a preocupação de um pequeno grupo de bilionários altamente instruídos, residentes nas regiões costeiras, seja visto como criador de uma tecnologia que deixa milhões de pessoas desempregadas,” escreveu. “Isso promete ainda mais divisão social e política do que a atual, tornando o mundo um terreno fértil para a demagogia populista.”
E encerrou a argumentação com uma pequena provocação: “Os otimistas poderiam explicar por que estou errado?”
Os comentários sobre os efeitos da AI no mercado de trabalho estão na verdade em um longo post scriptum do memorando, cujo tema central é se existem ou não uma bolha de investimento em AI.
Para Marks, não há dúvidas de que existe um entusiasmo exagerado. “A questão é se esse entusiasmo é irracional,” escreveu. “Dado o vasto potencial da AI, mas também o grande número de incógnitas, creio que praticamente ninguém pode afirmar com certeza.”
O gestor sugeriu aos investidores manter posições moderadas, seletivas e prudentes.
“Como ninguém pode afirmar com certeza se isso é uma bolha, aconselho que ninguém invista tudo sem reconhecer o risco de ruína caso as coisas corram mal,” afirmou. “Mas, da mesma forma, ninguém deve se manter totalmente fora e correr o risco de perder um dos grandes avanços tecnológicos.”
Marks fez comentários também sobre a sua especialidade, o mercado de crédito.
“Considerando o volume de dívidas que atualmente financiam a construção de data centers para AI, acho improvável que essa seja a primeira tecnologia transformadora que não seja superdimensionada e que não sofra uma breve e dolorosa correção,” sentenciou.

