De forma bastante repentina, houve uma mudança de humor em torno da inteligência artificial, a tecnologia que hipnotizou Wall Street e inspirou uma devoção quase religiosa no Vale do Silício nos últimos três anos.
E embora seja muito cedo para declarar agosto de 2025 como o início do inverno da IA, ou a correção da IA, ou o estouro da bolha da IA, ou qualquer metáfora de desaceleração que você preferir, é inegável que uma série de tropeços do setor está fazendo investidores, empresas e clientes pensarem duas vezes.
Entre eles, estão:
- A Meta, que recentemente desembolsou US$ 100 milhões em bônus de contratação para talentos em IA, instituiu um congelamento de contratações e, segundo relatos, está considerando reduzir sua divisão de IA;
- Sam Altman, CEO da OpenAI e o maior divulgador do setor, está usando a palavra “bolha” em entrevistas à mídia;
- O ChatGPT-5, anunciado pela OpenAI como uma revolução no nível de doutorado, é um fracasso;
- A Coreweave, uma empresa de computação em nuvem apoiada pela Nvidia, perdeu quase 40% do seu valor em pouco mais de uma semana;
- Pesquisadores do MIT publicaram um relatório mostrando que 95% dos programas de IA generativa lançados por empresas não conseguiram cumprir seu objetivo principal: gerar mais receita;
- A Anthropic e a OpenAI fecharam acordos para fornecer seus produtos ao governo dos Estados Unidos por quase nada — mesmo estando gastando muito dinheiro e sem demonstrarem um caminho claro para a lucratividade.
Tudo isso tem levado investidores a correrem para comprar “puts de desastre” — opções que funcionam como uma espécie de seguro para quando o mercado cai — caso estejamos prestes a reviver o estouro da bolha das empresas ponto com do final dos anos 90.
Segundo a Bloomberg, os investidores não estão apenas se preparando para uma retração, mas se protegendo para uma queda livre.
“Suspeito que isso levará a uma correção maior”, disse-me Mike O”Rourke, estrategista-chefe de mercado da JonesTrading, observando que o fato da Meta oferecer pacotes de compensação dignos da NFL para atrair engenheiros de IA era “um sinal de que os gastos estavam indo longe demais.”
As ações de tecnologia que vinham sustentando todo o mercado, incluindo Nvidia, Microsoft e Palantir, despencaram esta semana.
Claro, Wall Street está pesando muito mais do que apenas algumas manchetes ruins para o setor de tecnologia.
Há também tarifas, resultados mistos do varejo e, não menos importante, a campanha do presidente dos Estados Unidos para instalar aliados no Federal Reserve.
Esse drama do banco central acumulou ainda mais atenção para o discurso desta sexta-feira (22) do presidente do Fed, Jerome Powell, que mesmo em tempos normais pode mover mercados com apenas um franzir de sobrancelha.
Era possível ouvir um alfinete cair em Wall Street enquanto os investidores sintonizavam no discurso.
Para alguns investidores, a retração da tecnologia é “apenas uma pausa que pode renovar o fôlego enquanto os investidores se reorganizam e repensam como querem posicionar seus dólares em tecnologia”, disse Rob Haworth, diretor sênior de estratégia de investimentos do US Bank Asset Management Group, ao meu colega John Towfighi esta semana.
Talvez. Mas as altas e baixas do mercado são apenas uma medida do impacto da IA, e mesmo alguns dos maiores críticos da IA dizem que a queda não acontecerá da noite para o dia.
“O estouro da bolha nunca seria um único evento, mas uma série de mudanças de sentimento contra uma tecnologia que nunca provou seu valor além do hype especioso”, disse-me Ed Zitron, escritor de tecnologia e apresentador do podcast Better Offline.
“De qualquer forma, já se passaram três anos, e em algum momento teria que haver algum tipo de prova de que tudo isso valia a pena… A narrativa está saindo do controle, e a única maneira de consertá-la é mostrar retornos reais, o que nenhuma dessas empresas tem.”
Tradução revisada por André Vasconcelos

