Apesar do contra-relógio do Amália, o “ChatGPT português” anunciado pelo Governo da Aliança Democrática, o executivo de Luís Montenegro vem agora garantir que a versão preliminar deste modelo “estará concluída no final do mês de Março”, como veicula um comunicado enviado pelo Ministério da Educação, Ciência e Inovação. No entanto, só alguns a poderão ver.
Esta quinta-feira, o Observador, citando os investigadores André Martins (Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa) e João Magalhães (da Universidade Nova de Lisboa) notava que esta versão inicial não chegará ao público. “Esta versão não vai ainda ser disponibilizada publicamente, vai ser testada pelos vários parceiros do projecto”, explicou André Martins. Portanto, ao contrário do prometido na resolução do Conselho de Ministros que guia o projecto do Amália, este modelo não vai ser disponibilizado no primeiro trimestre. O “disponibilizado” presente em todas as fases do processo pressupunha a sua partilha com o público, algo que não acontecerá como detalha o comunicado: “A versão beta estará disponível para os investigadores dos centros de investigação que fazem parte do consórcio.”
O modelo de linguagem anunciado por Luís Montenegro em Novembro, no palco da Web Summit, tem um investimento previsto de 5,5 milhões de euros e deverá estar finalizado em 18 meses. Em Março, deveria ser disponibilizado um modelo com competência para receber e interpretar instruções em texto, bem como distinguir variantes da língua.
Recuar e escolher os mesmos
Outra das dúvidas levantadas pelo PÚBLICO, na edição de segunda-feira, e que são agora desfeitas pelo Governo em comunicado é a atribuição do desenvolvimento do Amália. A 29 de Novembro, num comunicado publicado pelo Ministério da Juventude e Modernização, que lidera o processo em conjunto com o Ministério da Educação, Ciência e Inovação, lia-se que o “treino e desenvolvimento do Amália será executado por um consórcio liderado pelos centros de investigação Nova Lincs da Universidade Nova de Lisboa, Instituto de Telecomunicações e Instituto Superior Técnico”, abrindo-se ainda a hipótese de ter integrados outros centros de investigação nacionais.
Ao Observador, esta quinta-feira, André Martins negou a informação de que o Governo não tinha decidido os centros de investigação que participariam no desenvolvimento do Amália. “O projecto é liderado pela Universidade Nova de Lisboa e pelo Instituto Superior Técnico e conta com a participação de várias outras entidades académicas, conforme previsto”, diz.
“A Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) está a avaliar o envolvimento dos centros de investigação nacionais com reconhecido mérito no âmbito da inteligência artificial, onde estarão incluídos os centros mencionados no comunicado”, reiterou o Ministério da Juventude e Modernização em resposta ao PÚBLICO, em Janeiro e Fevereiro, sem nunca revelar uma mudança.
Como o PÚBLICO tinha adiantado, apesar da recusa do Governo em apontar estas instituições como as responsáveis pelo desenvolvimento do Amália, já havia contactos no sentido de manter as mesmas entidades à frente do processo – embora sem se discernirem os critérios usados para a selecção. A diferença é que, agora, ao lado destas três instituições lisboetas estarão centros das universidades de Coimbra, do Minho e do Porto.
O comunicado do ministério liderado por Fernando Alexandre, desta quinta-feira, salienta que, “tal como divulgado por altura do lançamento do Amália”, o treino e desenvolvimento estará a cargo do consórcio liderado pela Universidade Nova de Lisboa, o Instituto de Telecomunicações e o Instituto Superior Técnico. Primeiro, em Novembro, o Governo anunciou que o desenvolvimento do Amália estava atribuído às três entidades. Depois, negou essa atribuição. E agora diz que foram atribuídas às três entidades, a que se juntaram outras universidades.
Serão distribuídos 4,6 milhões de euros pelas instituições seleccionadas. A Universidade Nova de Lisboa vai ganhar quase 2,5 milhões de euros e o Instituto Superior Técnico receberá um milhão de euros. As universidades que se juntaram agora ao consórcio receberam 375 mil euros: a de Coimbra trabalhará o modelo no domínio da ciência; a do Minho na educação; e a do Porto nos média.
O comunicado enviado esta quinta-feira à noite confirma ainda um potencial conflito de interesses no Comité de Acompanhamento Especializado, que tem por missão “assegurar as melhores práticas de desenvolvimento” do Amália. O líder deste comité é Arlindo Oliveira, professor e antigo presidente do Instituto Superior Técnico, uma das instituições responsáveis pelo desenvolvimento do “ChatGPT português” e cujo fiscalizador é da própria casa.