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As barbaridades sobre a inteligência artificial

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Imagen creada por IA: Doctorados Industriales /MIdjourney

Olhem só alguns trechos do artigo “Como serão os livros do futuro com o avanço da inteligência artificial?”

“Para uns (autores), as máquinas não são um suporte passivo porque são capazes de gerar conteúdo literário de forma autônoma, sem participação criativa relevante do humano… (…) O que significa então ser original? Se os algoritmos trabalham a partir de repositórios de textos já existentes, enquanto os humanos sempre reivindicaram para si a capacidade de criar o novo, o que significa inventar em um cenário de recombinação infinita? Sempre considerei a originalidade literária um conceito mais ambíguo que evidente. (…) Talvez a originalidade não seja a ausência de repetição, mas a capacidade de dar uma leitura própria ao que já foi escrito. Se for assim, é isso que faz a IA. Cada obra algorítmica é ao mesmo tempo herança e variação”

Primeiro, não existem máquinas “capazes de gerar conteúdo literário de forma autônoma, sem participação criativa relevante do humano”. Mas aqui registro uma observação: o mal vem de longe. Há muito, os especialistas de computação vêm sequestrando palavras e conceitos da pessoa humana. Noto que fazem isso à maneira da direita, quando sequestra e tenta sequestrar palavras cuja origem vem da esquerda.  No caso da computação, há muito   se referem a “memória” das máquinas. Putz! O que é isso? Isso é chamar os dados, os arquivos do hard e soft com o nome de uma das manifestações mais dignas da espécie humana. Os dados e programas jamais deveriam ser confundidos com a memória de um escritor, por exemplo. A memória sente, vê e se põe em lugar das pessoas que evoca.  Lembro que ao falar de Soledad Barrett, numa instrução que eu dava sobre uma peça de teatro para ela, eu afirmei no restaurante: “Eu vejo Soledad entrar por aquela porta”. Verdade. Tão natural, não me assombrava que Soledad estivesse morta pela repressão bárbara da ditadura. Mas eu a vi entrando no restaurante. Era uma comunhão inescapável. Como é possível confundir o fenômeno com as características de máquina, de qualquer máquina?   

Mas nada falamos desse estúpido sequestro. E foram mais longe em seus atos bárbaros. Falam agora em Inteligência, e para melhor situá-la, acrescentaram o adjetivo Artificial. A esta altura não sabemos se para melhor elevar a inteligência. Pois bem, pois mal, acharam pouco:

“O que significa então ser original? Se os algoritmos trabalham a partir de repositórios de textos já existentes, enquanto os humanos sempre reivindicaram para si a capacidade de criar o novo, o que significa inventar em um cenário de recombinação infinita? Sempre considerei a originalidade literária um conceito mais ambíguo que evidente”.

Acredito que num ato falho o autor do texto poderia ter escrito “cemitério de recombinação”. Mas não adivinhemos suas intenções com a nossa IN, Inteligência Natural. E não nos percamos, num desvio típico de pessoas vivas. Ou seja, pelo conceito divulgado, a Inteligência Artificial seria um produto de autoconstrução, que poderia se fazer a si mesma. Uma criadora de outra inteligência. E essa reprodução não é aquela de dois espelhos frente à frente. Ela se reproduziria melhor do que se produziu, mas à margem da história. Compreendam, por favor, fora da IA: isso é mais grave que um paradoxo, pois não passa de uma abstração oca do conhecimento do fenômeno humano. Lembra mais uma projeção bárbara. À antiga divinização do homem, ao presente antropomorfismo dos deuses, põe em seu lugar uma humanização da máquina. É qualquer coisa mais que bárbaro.

Imaginemos o que seria a tal IA se conseguisse imitar pensamentos: ela seria aquela que imitasse a reflexão, o voltar ao passado, para dele extrair, ver o que antes não vira, e concluir, antever, criar e criar-se. Sentimos, neste passo, que descrevemos ações do pensamento apenas, mas a natureza mesma da imitação ainda não. Apenas descrevemos o modelo a ser copiado. Seria algo que reproduzisse o já feito? Não falo de fotografia, falo de algo que reproduzisse o processo de “fabricar” a Mona Lisa. Sejamos então mais primários: deveríamos ter um objeto que reproduzisse o processo de a partir de duas informações conhecidas gerar uma terceira até então desconhecida. Mas isso já não é mais o reproduzir, porque seria uma coordenação típica do pensamento. Então voltemos: a imitação do pensamento, para ser imitação, seria a reprodução de processos realizados fora da máquina. 

E para concluir, esta citação do texto:

“Talvez a originalidade não seja a ausência de repetição, mas a capacidade de dar uma leitura própria ao que já foi escrito. Se for assim, é isso que faz a IA. Cada obra algorítmica é ao mesmo tempo herança e variação”

Aí avançamos para o reino da chacota. A originalidade não é “a capacidade de dar uma leitura própria ao que já foi escrito”. O original faz uma criação, ou recriação. Quem faz isso é gente! Não existe obra algorítmica que seja ao mesmo tempo herança e variação. Obra? Herança? Variação? Poderíamos chamar de herança o que foi copiado do que se publica na internet? Isso é o que faz a chamada IA. Com a palavra, o fundamental cientista Miguel Nicolelis:  

“Se tudo o que você vai fazer daqui pra frente é baseado em um banco de dados do que já foi feito, você não tem futuro”. Olhem por favor o vídeo:

A humanidade é que pode tirar a chamada IA do atraso, do seu estágio de ferramenta que se tornou perigosa, mitificada e mistificada.

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