Quem aproveitou de suas habilidades para ser contratada foi Camila Signorini Perroud, 32, hoje analista de qualidade de software. Mas ela foi contratada antes de descobrir o autismo, o que aconteceu quando tinha 29 anos. “Dois fatores contribuíram para essa descoberta tardia: ser mulher e ter superdotação ou altas habilidades. Estereótipos de gênero fazem com que comportamentos autistas em mulheres passem despercebidos. Além disso, a superdotação dificultou o meu diagnóstico, pois, com a facilidade de aprender, eu rapidamente percebia quando meu comportamento destoava das normas sociais e me ajustava, mesmo que isso me causasse um grande desconforto”, conta.
Na escola, Camila sofreu bullying, chegando a ser agredida fisicamente por colegas. Essa hostilidade continuou na adolescência e na vida adulta. “O autismo, em vários momentos, colocou minha integridade física e emocional em risco. Essas experiências contribuíram para quadros depressivos, pois eu não entendia o que havia de ‘errado’ comigo”, diz. Sua dificuldade em assimilar o conteúdo em sala de aula devido a características clássicas do autismo (dificuldade de socialização e de manter rotina, rigidez cognitiva e inquietação física) atrapalharam ainda mais sua vida.
“Lembro de um professor que quis zerar minha prova porque não acreditava que uma aluna tão inquieta pudesse tirar notas altas —algo que aconteceu mais de uma vez. Eu também era muito questionadora durante as aulas, o que alguns professores viam como curiosidade e interesse, mas outros interpretavam como desafio ou afronta”, diz.
Ao crescer, diferente da maioria dos autistas, Camila não sofreu dificuldades para ingressar no mercado de trabalho. Isso porque ela aproveitou das suas altas habilidades para compensar suas dificuldades. “Na empresa que atuo, entrei como assistente no time de operações, antes de saber sobre meu autismo. O processo seletivo foi tranquilo: uma entrevista e um teste. Digo que o autismo pode tanto ajudar quanto dificultar nesse aspecto.”
Morilas ressalta que uma pessoa que tem TEA costuma ser muito detalhista e focada em algumas tarefas, com alta capacidade de realizar atividades com precisão. Essa característica pode ser bem aproveitada em uma área que exija atenção minuciosa e cuidadosa, como a checagem de defeitos de produtos em uma linha de produção ou TI, por exemplo.