Ao longo das últimas semanas, várias carteiras com grandes quantidades de criptomoedas (apelidadas de baleias) inativas há muitos anos registraram movimentações repentinamente. Na maioria dos casos, ativos digitais foram retirados destas wallets, o que trouxe uma preocupação ao mercado: será que os grandes investidores do início do bitcoin (BTC) estão se livrando dos seus tokens? Qual o impacto disso no mercado?
Segundo Vinicius Bazan, CEO da Underblock, em muitos casos, quando isso acontece, o mercado acaba acionando o modo de “pânico”, mas os temores costumam ser infundados. “Muitas vezes, a pressão de venda surge como reflexo de outros investidores que vêem a notícia e não do movimento da baleia em si”, afirma.
Por mais que um despejo de grandes quantidades de bitcoin no mercado realmente seja algo que possa impactar o preço da criptomoeda, essas carteiras antigas costumam mitigar seus movimentos. “Mesmo nos casos em que as baleias vendem esses BTCs, normalmente isso é feito via OTC (mercado de balcão) e pode ser realizado de forma planejada e fracionada, sem agredir os livros de ordens e sem adicionar pressão vendedora direta”, destaca.
Além disso, Bazan aponta que o aumento da demanda por parte dos investidores institucionais hoje em dia pode dar conta de absorver esta oferta adicional que surge quando os pioneiros do mundo cripto decidem embolsar seus lucros. “Seguimos vendo a demanda por parte de ETFs e empresas de tesouraria de bitcoin maior do que a pressão vendedora por ‘early adopters’. Podemos ter momentos pontuais em que as vendas superam a demanda por BTC por novos investidores mas, no saldo do ano, temos uma relação claramente positiva”, avalia.
O último grande movimento destas baleias adormecidas ocorreu em 1º de agosto, quando o perfil Whale Alert, da rede social X (antigo Twitter), publicou a informação de que uma carteira inativa há 12 anos movimentou todos os 306 bitcoins que continha.
Em 31 de julho, por sua vez, duas carteiras com 50 bitcoins cada uma também foram ativadas. No caso destas wallets, cada uma tinha 15 anos de existência. Ou seja, foram criadas pouco depois do nascimento do bitcoin. O perfil Whale Alert, na rede social X, afirmou que as wallets mineraram bitcoins no final do período em que Satoshi Nakamoto, criador do Bitcoin, ainda estava ativo. No entanto, o perfil afirmou que ‘é improvável que Satoshi tenha minerado os blocos’.
Além disso, no dia 29 outra carteira adormecida com 330 bitcoins foi ativada, transferindo todas as unidades da criptomoeda que possuía.
Todavia, o maior dos movimentos ocorreu em 4 de julho, quando uma carteira que permanecia adormecida há 14 anos moveu 10 mil bitcoins de uma só vez. Essa quantidade de criptomoeda equivale a cerca de US$ 1,2 bilhão na cotação atual da moeda digital.
Mais comum e talvez com maior pressão de curto prazo, é a realização de lucros por parte das chamadas baleias novas: carteiras com grandes quantidades de moedas digitais, mas que foram criadas há pouco tempo.
Guilherme Prado, country manager da Bitget no Brasil, diz que houve uma grande realização depois que o bitcoin atingiu sua máxima histórica, acima dos US$ 120 mil. “Análises on-chain mostram que os lucros realizados saltaram para de US$ 6 bilhões a US$ 8 bilhões no final de julho, níveis semelhantes aos picos de grandes ciclos anteriores”, destaca.
A maior parte das vendas, segundo ele, veio de carteiras que mantiveram o ativo por menos de 155 dias. “A realização de lucros foi marcada por grandes transferências para corretoras (até 70.000 BTCs em um único dia), um sinal clássico de que os ativos estão sendo preparados para venda”, comenta.
Contudo, hoje o bitcoin já demonstra sinais de recuperação, subindo de novo para perto dos US$ 120 mil. De acordo com Prado, o momento é de cautela institucional, com migração de recursos para outras criptomoedas, em especial o Ethereum e o XRP. “Indicadores e padrões históricos apontam agosto como catalisador. O fluxo se intensifica se o bitcoin consolidar ou lateralizar próximo dos suportes”, afirma.

