O advento da inteligência artificial (IA) generativa tem uma série de impactos sobre a economia e o mercado de trabalho dos países. Do lado positivo, a IA generativa pode aumentar a produtividade, quando é complementar às tarefas de determinada ocupação. Pelo lado negativo, pode substituir trabalhadores e gerar desemprego.
Recente estudo do Banco Mundial (Yan Liu, He Wang e Shu Yu) buscou identificar e mensurar esses efeitos prejudiciais da AI generativa no mercado de trabalho.
Os pesquisadores usaram uma base de dados com 285 milhões de ofertas de postos de trabalho entre o primeiro trimestre de 2018 e o segundo trimestre de 2025, da plataforma Lightcast. Em seguida, agregaram essa base de dados num painel com 6,8 milhões de células definidas pelo estado americano, setor, ocupação e trimestre.
Os economistas utilizaram classificações de exposição teórica e “substitutabilidade” prática das ocupações à IA. Eles explicam que esse arcabouço bidimensional lhes permitiu isolar o canal de deslocamento de trabalho pela IA, ao manter constantes as diferenças da aplicabilidade técnica da IA e do potencial de automação pré-existente.
A partir daí, eles exploraram o lançamento público do ChatGPT em novembro de 2022 nos Estados Unidos como um choque exógeno, e empregaram a metodologia de “diferença em diferenças” e de estudo de eventos para identificar o deslocamento de postos de trabalho em função da IA generativa.
Como os autores escrevem, os resultados “demonstram um impacto negativo grande, estatisticamente significativo e crescente em intensidade da IA generativa na oferta de postos de trabalho nas ocupações mais substituíveis”.
Assim, em meados de 2025, a oferta de postos de trabalho nas ocupações com escore de possibilidade de substituição acima da mediana caíram 12% relativamente àquelas com escore abaixo da mediana. Eles conseguiram isolar o efeito da introdução do ChatGPT e demonstrar causalidade nos impactos mencionados acima.
Um detalhe importante é que o deslocamento de postos de trabalho se intensificou ao longo do tempo: de 6% no primeiro ano após o lançamento do ChatGPT para 18% no terceiro ano.
Segundo os economistas, os efeitos negativos são particularmente fortes em postos de trabalho típicos de início de carreira, que não requerem qualificação mais avançada, como pós-graduação, nem muita experiência no trabalho. Também foram encontrados efeitos mais robustos em serviços profissionais e setores de suporte administrativo.
Eles notam que esses achados indicam que a disseminação da IA generativa afeta de forma particular a trajetória inicial das carreiras, na qual o trabalhador desenvolve sua capacitação profissional.
Os autores apontam que o estudo pode ajudar a explicar tendências recentes do mercado de trabalho nos Estados Unidos, como a desaceleração na oferta de empregos de colarinho branco e a deterioração das perspectivas de trabalho de pessoas recém formadas no terceiro grau.
Eles assinalam ainda que os efeitos disruptivos da IA no mercado de trabalho estão sendo bem mais rápidos do que os de grandes inovações desestabilizadoras do passado. A IA generativa reduziu em 20% a demanda por trabalhadores nas ocupações vulneráveis em apenas três anos. No setor de suporte administrativo, aquele porcentual atingiu 40%.
Como recomendações de políticas públicas para lidar com esses efeitos negativos da IA Generativa, os autores citam em primeiro lugar a adaptação dos sistemas de educação e treinamento, com mais ênfase na capacidade criativa de resolver problemas, inteligência emocional, comunicação interpessoal e “letramento” digital e em IA.
Eles observam também que atenção especial deve ser dada aos postos de trabalho típicos de início de carreira, que são os mais vulneráveis. Reforço de programas de aprendizado, de estágios e de treinamento em empreendedorismo são uma saída para esse segundo problema. Finalmente, de forma mais geral, os economistas recomendam políticas redistributivas para mitigar os efeitos dos deslocamentos no mercado de trabalho causados pela IA generativa.
Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)
Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 3/12/2025, quarta-feira.

