A chamada “Crypto Week” — semana decisiva para a regulamentação de ativos digitais no Congresso dos Estados Unidos — começou da melhor maneira possível para os entusiastas das criptomoedas. Ainda na madrugada desta segunda-feira (14), o bitcoin (BTC) renovou a máxima histórica ao ser cotado em US$ 123.091,61, segundo dados do CoinMarketCap.
O rali da maior criptomoeda do mercado teve início na quarta-feira passada (9), quando o BTC ultrapassou os US$ 112 mil. Desde então, o ativo vem desafiando resistências técnicas e psicológicas, embalado por fatores que, juntos, formam o que analistas chamam de uma verdadeira “tempestade perfeita”.
No centro da movimentação positiva da última semana estão os Estados Unidos.
O país sustenta três pilares do atual otimismo no mercado de criptomoedas: sinais de resiliência econômica, mesmo diante das novas tarifas anunciadas por Donald Trump; a entrada de grandes empresas no ecossistema cripto; e uma agenda legislativa decisiva em andamento no Congresso.
O movimento do bitcoin também impulsionou outras criptomoedas, que registraram altas de até 26,97% nos últimos sete dias.
Confira o desempenho atualizado das dez maiores criptomoedas do mundo nesta segunda-feira (14), por volta da 14h45 (horário de Brasília):
# | Nome (Símbolo) | Preço (USD) | 24h | 7d | YTD | Market Cap (USD) |
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1 | Bitcoin (BTC) | US$ 119.938,55 | 0,96% | 11,04% | 28,42% | US$ 2,39 tri |
2 | Ethereum (ETH) | US$ 3.007,67 | 0,43% | 18,76% | -9,71% | US$ 363,07 bi |
3 | XRP (XRP) | US$ 2,94 | 3,43% | 26,97% | 41,43% | US$ 173,95 bi |
4 | Tether (USDT) | US$ 1,00 | -0,05% | -0,02% | 0,19% | US$ 159,51 bi |
5 | BNB (BNB) | US$ 691,89 | 0,14% | 5,02% | -1,30% | US$ 96,37 bi |
6 | Solana (SOL) | US$ 163,68 | 0,79% | 9,02% | -13,50% | US$ 87,76 bi |
7 | USDC (USDC) | US$ 1,00 | -0,02% | -0,01% | -0,02% | US$ 63,45 bi |
8 | Dogecoin (DOGE) | US$ 0,20 | -0,63% | 19,08% | -36,88% | US$ 29,91 bi |
9 | TRON (TRX) | US$ 0,30 | -1,01% | 5,18% | 18,54% | US$ 28,55 bi |
10 | Cardano (ADA) | US$ 0,74 | -0,75% | 26,79% | -12,69% | US$ 26,07 bi |
Bitcoin e o alinhamento dos astros
Guilherme Fais, head de Finanças da NovaDAX, aponta uma série de vetores por trás da valorização.
“A valorização do bitcoin nesta segunda-feira reflete uma combinação de fatores que criaram uma ‘tempestade perfeita’: forte entrada de capital via ETFs, expectativa de avanços regulatórios, sinalizações pró-cripto nos EUA e o cenário global de incertezas que reforça o apelo do ativo como proteção”, afirma.
Somado ao fluxo de notícias, o mercado também acompanhou um volume significativo de entradas em fundos.
De acordo com a CoinShares, os produtos de investimento em criptoativos registraram aportes líquidos de US$ 3,7 bilhões na última semana, a segunda maior marca da série histórica. No ano, o acumulado já chega a US$ 22,7 bilhões.
Tony Sycamore, analista da IG, avalia que o movimento ainda pode continuar:
“Há vários ventos favoráveis no momento”, diz. “Tem sido um movimento muito, muito forte nos últimos seis ou sete dias, e é difícil ver onde isso vai parar agora. Parece que pode facilmente buscar o nível de US$ 125 mil”.
Com alta de 28% no acumulado de 2025, o BTC tem sustentado também a valorização de outras criptomoedas nas últimas sessões.
Gracie Lin, CEO da OKX em Cingapura, destaca a mudança de perfil entre os investidores:“O que achamos interessante e estamos observando de perto são os sinais de que o bitcoin agora está sendo visto como um ativo de reserva de longo prazo, não apenas por investidores de varejo e instituições, mas até mesmo por alguns bancos centrais”.
O que está em jogo no Congresso dos EUA
A expectativa sobre os preços também reflete o início da “Crypto Week”, período que concentra votações e audiências sobre três projetos de lei relevantes para o setor nos Estados Unidos:
- Genius Act: Cria diretrizes para o mercado de stablecoins, busca maior transparência para emissores locais e retira o setor da jurisdição da SEC. O projeto já foi aprovado e segue para sanção do presidente Donald Trump.
- Clarity Act: Define as fronteiras regulatórias entre commodities digitais — como o bitcoin — e valores mobiliários, delimitando as atribuições da SEC e da CFTC. O texto busca oferecer mais previsibilidade jurídica ao setor.
- Anti-CBDC Act: Proíbe o Federal Reserve de emitir uma moeda digital oficial. O texto não afeta diretamente os preços, mas é defendido por parte da comunidade cripto como uma proteção à privacidade financeira.
Confira o calendário da semana cripto no congresso dos EUA aqui.
Comprar agora ou deixar para depois?
O cenário para o investidor brasileiro exige atenção adicional. A alta do BTC em dólares, combinada com a valorização do câmbio, já elevou a cotação da criptomoeda para mais de R$ 680 mil no mercado local.
Segundo Thiago Fagundes, diretor de negócios do Mercado Bitcoin, os fundamentos de médio e longo prazo seguem relevantes, mas o investidor deve considerar o contexto.
“Para novos investidores, o cenário macroeconômico e a presença institucional são os fatores mais relevantes, pois apontam para um movimento estrutural de médio e longo prazo. O comportamento dos traders, por sua vez, influencia no curto prazo e adiciona volatilidade.”
A política comercial dos EUA é um dos elementos que influencia esse ambiente. As novas tarifas anunciadas por Trump — de 50% sobre importações brasileiras e 30% sobre Europa e México — ampliaram o temor de inflação e instabilidade global.
Fais, da NovaDAX, observa esse efeito sobre a demanda por ativos alternativos:
“Grandes empresas alocando bitcoin em suas reservas de tesouraria, consolidando o ativo como uma forma de ‘reserva digital de valor’ e o contexto geopolítico com novos anúncios de tarifas feitas por Donald Trump […] intensificaram a procura por ativos alternativos, como o bitcoin, visto como proteção (‘hedge’) contra políticas inflacionárias”.
A incerteza sobre os próximos passos do governo norte-americano é o nome do jogo agora. Parte do mercado já considera a hipótese de recuo do presidente dos EUA em algumas medidas — movimento informalmente conhecido como Taco Trade (“Trump Always Chicken Out” ou Trump sempre amarela).
Enquanto o desfecho não vem, o bitcoin segue no radar de investidores institucionais, fundos e governos, com novos recordes alimentando o apetite pelo ativo.
*Com informações do Money Times e Coindesk