Pular para o conteúdo

Brasil e IA: Investimento, desafios e caminhos possíveis

Banner Aleatório

A história da inteligência artificial no Brasil começou nos anos 1980, quando universidades como USP, Unicamp e PUC-Rio, já investiam em pesquisas sobre sistemas especialistas e linguagens computacionais, muito antes até mesmo do termo “IA”. Esses primeiros passos, embora discretos, ajudaram a formar uma base técnica sólida, com centros acadêmicos respeitados e pesquisadores de referência internacional.

Banner Aleatório

Nos anos 2000, com a expansão da internet e o fortalecimento da economia digital, o país viu surgir iniciativas mais complexas. Empresas privadas começaram a explorar dados como ativos, e o setor público passou a testar automações em áreas como saúde, educação e segurança. Mesmo assim, o Brasil ainda era um coadjuvante nas discussões globais sobre IA, sendo mais consumidor do que protagonista das inovações.

Foi somente a partir da década de 2010, com o avanço das big techs no país e a explosão de startups ligadas a machine learning e automação, que o debate sobre inteligência artificial ganhou força política e econômica. A criação da EBIA – Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial, em 2021, marcou um ponto de virada: pela primeira vez o governo delineava metas, princípios éticos e setores prioritários para o uso e desenvolvimento da tecnologia em nível nacional.

Qual o cenário de investimentos global em IA?

De acordo com o Stanford AI Index 2024, os Estados Unidos lideram o ranking global, com investimentos superiores a US$ 249 bilhões em 2023. Esse volume engloba aportes públicos e privados e demonstra a busca do país por inovação, infraestrutura, pesquisa e capacitação de talentos. É nos EUA que estão as principais universidades e as maiores big techs do planeta, como Google, Microsoft, OpenAI, Amazon e Meta, todas engajadas em avançar a fronteira da IA generativa, computação quântica e IA aplicada à robótica.

Logo atrás, a China desponta como a grande rival, com aportes de aproximadamente US$ 95 bilhões, segundo estimativas da McKinsey. O governo chinês mantém um plano nacional ambicioso para liderar a computação cognitiva até 2030, investindo em chips, segurança de dados, monitoramento em larga escala e startups de deep tech. O modelo chinês é mais centralizado, com forte controle estatal e foco em aplicações voltadas à produtividade, vigilância e inovação militar.

Na Europa, países como Reino Unido, Alemanha e França figuram entre os cinco maiores investidores. Juntos, eles têm apostado em uma abordagem que combina desenvolvimento com governança ética e transparência. O foco europeu está em regulação, tecnologia confiável e soluções para áreas como saúde pública, meio ambiente e inclusão social.

O Reino Unido, por exemplo, lançou recentemente um centro de supercomputação voltado exclusivamente para sistemas inteligentes. A Alemanha, por sua vez, tem fortalecido parcerias entre universidades e empresas automotivas. Já a França aposta em programas de incentivo à pesquisa em IA, incluindo grandes modelos de linguagem.

Investimento brasileiro em IA

Apesar dos avanços recentes, o aporte nacional em tecnologia preditiva ainda está longe de competir com o ritmo das grandes potências. Até 2023, o Brasil investiu aproximadamente R$ 2 bilhões em projetos de inteligência artificial, conforme dados do BNDES e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Esses recursos foram direcionados para iniciativas públicas e privadas, abrangendo desde pesquisas acadêmicas até aplicações práticas em diversos segmentos.

O grande marco de planejamento do país é o Plano Nacional de Inteligência Artificial, que projeta um volume de R$ 20 bilhões em investimentos até 2030. Essa estratégia inclui ações voltadas para infraestrutura, desenvolvimento de especialistas, uso ético da ferramenta e incentivo à modernização em setores-chave da economia.

Atualmente, as áreas que mais fazem uso desses sistemas no país são o agronegócio, a saúde e o financeiro, segundo a ABIA – Associação Brasileira de Inteligência Artificial. No campo, algoritmos são utilizados para prever safras, analisar as condições do solo e controlar pragas de forma mais eficiente.

Na área da saúde, ferramentas auxiliam em diagnósticos médicos, na gestão hospitalar e na triagem de pacientes, otimizando processos e melhorando o atendimento. Já no setor financeiro, a tecnologia é aplicada em análises de crédito, detecção de fraudes e na oferta personalizada de produtos e serviços, promovendo mais segurança e desempenho nas operações.

Embora existam bons exemplos de aplicação e um ecossistema inovador em crescimento, o Brasil ainda enfrenta desafios como a baixa articulação entre governo, universidades e mercado, a fuga de talentos e a escassez de aplicações em infraestrutura de ponta, como supercomputadores e centros de dados dedicados exclusivamente à IA.

Gestão mais inteligente com tecnologia

Investir em inteligência artificial é uma estratégia de desenvolvimento econômico, social e geopolítico. Para o Brasil, que tem dimensões continentais, grande diversidade econômica e desafios históricos em infraestrutura, saúde e educação, a tecnologia representa uma oportunidade real de salto de produtividade.

No agronegócio, por exemplo, a IA tem a capacidade de ampliar ainda mais a competitividade, tornando as operações mais precisas e sustentáveis, com economia de recursos naturais, aumento de produção e acesso a mercados internacionais mais exigentes.

Na saúde, pode reduzir filas, melhorar diagnósticos e descentralizar o atendimento, beneficiando regiões historicamente negligenciadas. No setor financeiro, ela contribui para operações mais seguras e personalizadas, desde a análise de crédito até a prevenção de fraudes.

Na esfera pública, o uso inteligente de dados e algoritmos transforma a gestão governamental, reduzindo desperdícios, combatendo fraudes e oferecendo serviços mais ágeis à população. E, para além da produtividade, o investimento em computação cognitiva pode impulsionar a criação de empregos qualificados, reter talentos no país, estimular o surgimento de startups e atrair capital estrangeiro.

O Direito também já é beneficiado com as inovações. Isso porque ferramentas baseadas em algoritmos já auxiliam na análise de jurisprudência, redação de petições iniciais, triagem de processos e até na previsão de decisões judiciais.

Esses tipos de softwares, buscam acompanhar a modernização e, assim, escritórios e departamentos jurídicos ganham agilidade, reduzem custos e conseguem se dedicar às atividades mais empáticas. Para o sistema de justiça como um todo, a IA representa a chance de enfrentar gargalos históricos, como a morosidade e o excesso de processos.

A longo prazo, esse movimento pode reposicionar o Brasil no cenário internacional como uma potência ética e inovadora em tecnologia, não mais como consumidor de soluções estrangeiras, mas como desenvolvedor de conhecimento próprio, adaptado à sua realidade.

Oportunidade no mercado de inteligência artificial

O mercado global de inteligência artificial deve movimentar US$ 1,8 trilhão até 2030, segundo estimativas da Bloomberg Intelligence. Não por acaso, mais de 37% das empresas no mundo já adotam algum tipo de solução generativa, de acordo com pesquisa da Gartner de 2023 essa porcentagem tende a crescer rapidamente nos próximos anos.

Isso coloca o Brasil diante de um ponto de inflexão: ou seguimos como consumidores de soluções desenvolvidas lá fora, ou escolhemos investir com foco e inteligência para ocupar um espaço relevante no mapa global da IA. Nesse sentido, o que vai definir nosso lugar nesse mercado bilionário é a capacidade de moldar conhecimento em produto, dados em estratégia e talento em política pública. 

Source link

Join the conversation

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *