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Burrice orgânica acompanha o culto à inteligência artificial – 21/05/2025 – Lúcia Guimarães

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Recomendar bons livros para ler nas férias é uma tradição que antecede o verão nos Estados Unidos. Com o feriado que inaugura a estação na próxima segunda-feira (26), o venerando Chicago Sunday Times publicou, no domingo (18), a lista de títulos interessantes para ler na praia.

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Infelizmente, os leitores do jornal não vão ter o prazer de descobrir a recomendação “Tidewater Dreams” (sonhos de maré), o primeiro volume de ficção climática publicado pela romancista best-seller Isabel Allende, porque a obra simplesmente não existe. Os dez primeiros títulos da lista do crítico Marco Buscaglia são produtos de alucinação da inteligência artificial.

Flagrado por uma escritora, Buscaglia disse que estava envergonhado, admitiu que usa IA para pesquisa, mas afirmou não saber como foi tão facilmente enganado. Mais de 40 anos após o “Boimate”, a gafe histórica que entrou para o anedotário jornalístico brasileiro, a escravidão sonâmbula à tecnologia tomaria o emprego de um cronista como Stanislaw Ponte Preta no século 21.

Não sou ludita. Não me canso de me surpreender com os anúncios sobre o poder da inteligência artificial de salvar vidas, proteger o meio ambiente e, quem sabe, um dia, emudecer axé music só para os meus ouvidos cada vez que eu pisar numa praia.

Toda nova tecnologia pode eliminar funções de trabalho e provocar rupturas sociais. Mas quem olha para o filho pequeno hoje e pensa “oxalá ele vai trabalhar numa mina de carvão até contrair doença pulmonar”?

A questão não é enterrar inovações, é a rendição ao poder dos oligopólios tech, cujo instinto autoritário é bloquear o debate sobre o bem-estar coletivo. Lembro que os tiranetes do Vale do Silício são notórios por mandar seus filhos para as escolas do sistema Waldorf que oferecem, ao longo das 12 séries, um ambiente offline, livre de gadgets eletrônicos.

Nos últimos dois anos, a inteligência artificial se espalhou de tal forma no sistema universitário americano que professores estão inserindo palavras-armadilha ao distribuir trabalhos de casa para flagrar estudantes entregando textos escritos por robôs. Alguns professores tentam aplicar exames orais. O resultado vai além do triunfo da desonestidade e preguiça, em textos impessoais engessados, embora com gramática correta.

O que acontece com o cérebro de adolescentes ou jovens adultos que deixaram de criar, resolver problemas e exercitar a memória? Não vamos saber a resposta a curto prazo, mas há sinais preocupantes.

Em fevereiro deste ano, um estudo da Universidade Carnegie Mellon em associação com a Microsoft concluiu que há uma correlação entre a dependência de inteligência artificial generativa e a redução da capacidade de pensamento crítico.

A partir de 2006, os testes de QI realizados nos EUA, que registravam resultados mais altos a cada geração, desde os anos 1930, começaram a reverter a tendência. Como será o QI de quem recorre a robôs desde o momento em que começa a ser educado?

No último fim de semana, pesquisando a história do Harlem para uma reportagem, recebi do chatbot do Google inúmeras informações incorretas. A inteligência artificial, no estágio atual, abate-se sobre uma geração que, por se informar quase apenas pela rede social, já tem dificuldade de distinguir fato de ficção.


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