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Chat GPT: uma ferramenta inteligente que também vota

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Numa das minhas turmas de Mestrado, há uns anos, quando discutíamos a evolução tecnológica, o seu impacto e riscos, algumas alunas da China referiram que não se importavam que o governo lhes implantasse um chip, pois isso faria com que se sentissem mais protegidas. Caso lhes acontecesse algo, seriam imediatamente ajudadas. Recordo que esta postura me chocou muito, mas é também fruto da sua circunstância, do meio, da cultura e das regras onde sempre viveram. A opressão usa muitas roupagens, entre elas, a valorização de uma ilusória segurança. É que quer queiramos, quer não, viver é e será sempre arriscado.

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Por cá, em Portugal, colegas que lecionam em universidades, referem que alguns alunos, ao serem questionados acerca das eleições presidenciais, das formas de obter informações, referem que os candidatos são todos muito velhos, mais do que os pais deles. Não os conhecem, nem querem conhecer. Por isso, tencionam votar em alguém que se destaque mais, que seja conhecido, ou então, simplesmente, perguntam ao Chat GPT em quem devem votar.

Estas respostas aberrantes, vindas de quem, ao contrário das alunas chinesas, não foi formatado por uma ditadura, é um triste reflexo da nossa actualidade. A liberdade de escolha, a responsabilidade, a valorização da experiência, do saber dos outros, tudo, tudinho a ser engolido pela ignorância, pela alienação, pela preguiça mental, geradas no âmago da iliteracia, do facilitismo, do culto do vazio, das aparências. É este o pântano onde germinam e eclodem perigosos ovos de crocodilo (sem querer ofender os dignos e distintos crocodilos). Um pântano alimentado por redes sociais, tik toks, mentiras, notícias manipuladas, pela tecnologia utilizada sem critério nem ética, à qual se confere inclusive o poder de voto! Algo que tanto custou a conquistar, um direito pelo qual tanto se lutou, tanta gente perdeu a vida. Mas nada disso se sabe nem interessa saber. O passado jaz num alçapão qualquer, longe do interesse, arredado da memória.

E sim, todos sabem que há um partido que aproveita e nutre muito bem este cenário de indigência cultural e mental. É que os algoritmos favorecem os discursos de ódio, aqueles que mais gritam, mais insultam e mais alarvidades proferem. O ditado que dizia que “vozes de burro não chegam ao céu” talvez venha a precisar de ser revisto e actualizado. E, pior, dizer mal, partilhar imagens para ridicularizar também é conferir destaque. Como dizia há tempos, um conhecido humorista português, “o que importa é que falem de nós, mesmo que seja mal”.

Sobre o referido partido, escreveu o jornalista Miguel de Carvalho um livro longo, notável e esclarecedor que devia ser lido por todos (se calhar até pelo Chat GPT). Acima de tudo, importa conhecer a História e lembrar que todos os ditadores surgiram disfarçados de Messias, em tempos de profundas crises a todos os níveis, de desespero e desesperança. Uma ditadura nasce sempre travestida de uma aparente solução, contém sempre um engodo, antes de se revelar a armadilha, a lâmina que trucida.

Em suma, não duvido da utilidade das múltiplas ferramentas de Inteligência Artificial, como o Chat GPT, ou até dos chips, contudo, devem ser utilizadas da forma responsável e ética, sob pena de começarmos a viver na mais absurda distopia. É que não há tecnologia que possa aprender, pensar, sentir, amar, viver, nem votar por nós.

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