Especialista em Inteligência Artificial orienta uso consciente da tecnologia para evitar ciladas durante a viagem
Por Thamiris Guidoni
ChatGPT, Gemini, Copilot e outras IAs já se tornaram companheiras frequentes de quem planeja férias. Segundo pesquisa do grupo Global Rescue, o uso da inteligência artificial em viagens mais que dobrou entre outubro de 2024 e julho de 2025, fazendo parte da rotina de 24% dos viajantes, número que sobe para 40% entre os menores de 35 anos. Basta descrever o perfil da viagem para receber sugestões “sob medida” em segundos, desde passagens aéreas até roteiros detalhados dia a dia.
Um levantamento internacional sobre o mercado de IA para turismo e hospitalidade estima que o setor deve movimentar cerca de US$ 1,32 bilhão até 2029, impulsionado por aplicações como chatbots, monitoramento automático de preços e recomendações personalizadas de passeios e hospedagem. A indústria já aposta na tecnologia como uma das principais frentes de crescimento nos próximos anos.
Por outro lado, a facilidade trazida pela IA levanta uma dúvida: até que ponto é seguro delegar o planejamento de viagem a um robô?
“A IA é excelente para organizar ideias, comparar opções e ganhar tempo, mas não deve ser tratada como autoridade absoluta. Ela é o início da pesquisa, não o ponto final”, alerta Mariah Sathler, consultora em inteligência artificial formada pelo MIT e fundadora da Volura.AI.
Acertos e erros do “guia turístico” virtual
Quando usada com critério, a IA pode ser uma aliada valiosa, especialmente para quem visita um destino pela primeira vez. Foi o caso da advogada Bruna Dias, que viajou para Buenos Aires em setembro.
“Como eu não conhecia a cidade, perguntei ao ChatGPT qual era o bairro mais seguro, a média de temperatura na época e os pontos turísticos próximos a mim… As respostas foram todas certeiras e não tive problemas durante a viagem”, conta.
A publicitária Thais Peixoto, que acompanhou Bruna, também consultou o ChatGPT, mas cruzava as respostas com vídeos e informações no TikTok.
“Busquei roteiros para cada dia, com os principais pontos turísticos, e também fiz perguntas mais específicas, como ‘qual o melhor show de tango para o meu gosto’. Foi muito útil! Um recurso complementou o outro, e a experiência foi bem positiva.”
Para Mariah, essa prática exemplifica um uso maduro da tecnologia. “Elas usaram o ChatGPT como curador inicial, mas não pararam ali: conferiram vídeos, verificaram a localização. A IA ajuda a organizar possibilidades, mas a validação final ainda é do viajante.”
Nem sempre, porém, os resultados são tão positivos. Na última viagem a São Paulo, o personal trainer Christian Couto usou a IA como “GPS de texto” e se frustrou.
“Eu estava na Vila Mariana e precisava ir a um local próximo ao Parque Ibirapuera. Perguntei ao ChatGPT qual estação do metrô descer, a resposta parecia confiável, mas acabei descendo num lugar a 30 minutos de carro do destino.”
Mariah explica que IAs generativas, como ChatGPT, Gemini e Copilot, são treinadas com base em grandes volumes de dados do passado, o que pode gerar informações desatualizadas.
“Isso vale para roteiros e detalhes de deslocamento. Para dados atuais, como eventos da semana, o ideal é ativar a busca na web.”
Para trajetos, horários de transporte e distâncias reais, a recomendação é recorrer a aplicativos especializados, como Google Maps. “O Gemini tende a ser mais confiável que o ChatGPT, porque está integrado aos produtos Google, inclusive ao Maps”, acrescenta.
Como usar IA de forma segura no planejamento de viagens
Segundo a consultora, ferramentas generativas funcionam melhor em duas situações:
Pré-viagem:
- Auxiliam na elaboração inicial do roteiro, especialmente em destinos com pontos turísticos tradicionais.
- Ajudam a comparar hotéis, avaliações e preços, destacando os aspectos que mais interessam ao viajante, como vida noturna, conforto ou tranquilidade.
Durante a viagem:
- Podem atuar como guias turísticos em tempo real, utilizando câmeras e informações sobre pontos de interesse.
- Sugerem passeios menos conhecidos, complementando guias tradicionais.
“É como conversar com alguém que leu muitos guias, blogs e avaliações, mas não conhece o mundo físico. Por isso, horários, endereços, segurança e transporte precisam sempre ser confirmados em fontes oficiais”, alerta Mariah.
Cinco dicas para usar IA sem riscos
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Trate o roteiro da IA como esboço: Use sugestões para ideias de bairros, atrações e sequências de passeios, ajustando horários e prioridades com fontes confiáveis.
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Monte checklists: Mala, clima típico, transporte do aeroporto ao hotel. “A IA facilita isso, mas valores, horários e rotas podem mudar, pois a base de treinamento é sempre do ano anterior”, alerta Mariah.
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Cruze informações: Combine respostas da IA com vídeos, blogs, comentários de viajantes e recomendações de amigos. “Transcreva vídeos do YouTube e use a IA para montar roteiros com base neles”, sugere Mariah.
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Desconfie de respostas perfeitas demais: Roteiros muito “redondos” ignoram trânsito, filas e imprevistos. Ajuste conforme a realidade.
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Verifique fontes: Solicite que a IA cite origem das informações e confirme tudo em fontes confiáveis. “Use a IA para otimizar seu tempo, mas valide todas as informações ou consulte um profissional especializado”, finaliza a consultora.

