2025 ficará marcado como o ano em que a inteligência artificial deixou de ser coisa de nerd ou de novidade tecnológica, para ocupar um lugar muito importante no nosso cotidiano. Ela escreve textos, cria imagens, produz vídeos, responde perguntas, organiza rotinas e influencia decisões.
É uma ferramenta superpoderosa, essencial no mundo de hoje, e justamente por isso, cheia de riscos e oportunidades nos negócios, na política, no jornalismo, enfim, em diversos seguimentos. Mas, para mim, o grande desafio e as maiores oportunidades da utilização da inteligência artificial estão na educação. Como professora, quando penso nesse cenário, algumas perguntas insistem em surgir.
- O que mudou?
- O que ainda vai mudar?
- Como fica o papel do professor?
- E do aluno?
Essas perguntas não são teóricas. Elas já estão dentro das salas de aula, dos trabalhos acadêmicos, das avaliações e das conversas entre professores e estudantes. E, recentemente, dois livros me ajudaram a organizar essas inquietações e a enxergar possíveis caminhos.
Um deles, Inteligência Artificial e Educação Superior: Caminhos Estratégicos para um Futuro Ético e Inovador, reforça a ideia de que a inteligência artificial é uma ferramenta educacional que redefine a própria experiência de aprendizagem. O outro, Docência Aumentada: Um guia para o ensino superior na Era da Inteligência Artificial Generativa, traz o conceito de docência aumentada, e lembra que a tecnologia só faz sentido quando está a serviço do aprendizado humano, nunca como substituta do pensamento.
A inteligência artificial deixou de ser um tema distante ou restrito à ficção científica. Embora o termo tenha sido cunhado oficialmente em 1956, os estudos sobre algoritmos e máquinas capazes de simular processos humanos de pensamento vêm de muito antes, ainda nos anos 1930, com Alan Turing (lembram do filme??). O que muda agora é a escala, a velocidade e o impacto.
Esse avanço tecnológico escancarou algo que já vinha dando sinais de esgotamento: o modelo educacional baseado apenas na transmissão de conteúdo, na memorização e em avaliações padronizadas. A inteligência artificial não criou esse problema, ela apenas tornou o problema impossível de ignorar.
Se hoje uma ferramenta é capaz de responder perguntas, resumir textos, escrever redações e resolver exercícios em segundos, precisamos encarar uma pergunta incômoda: o que exatamente estamos ensinando e avaliando quando pedimos apenas esse tipo de atividade aos alunos?
Isso não significa que a educação perdeu o sentido. Significa que ela precisa evoluir.
Quem estudou antes da internet certamente lembra das pesquisas na Enciclopédia Barsa. Era preciso ir à biblioteca, consultar volumes pesados, ler com atenção, selecionar informações e, principalmente, escrever com as próprias palavras. Copiar ipsis litteris nunca foi aprender. O exercício estava justamente em interpretar, organizar ideias e dar um toque pessoal ao conhecimento. A inteligência artificial muda o meio, mas não deveria mudar esse princípio. Trocar a Barsa por um algoritmo não autoriza a terceirização do pensamento.
É aqui que o papel do professor se transforma de forma definitiva. O docente deixa de ser apenas transmissor de conteúdo e passa a ser mediador, orientador e designer de experiências de aprendizagem. Cabe a ele provocar perguntas melhores, acompanhar processos, estimular o pensamento crítico e orientar o uso ético e responsável da tecnologia. A chamada docência aumentada não substitui o professor, ela amplia sua atuação, desde que haja intencionalidade pedagógica.
A inteligência artificial pode ser uma grande aliada ao reduzir o tempo gasto com tarefas repetitivas e administrativas. Isso libera espaço para aquilo que nenhuma tecnologia substitui: o diálogo, a escuta, o acompanhamento individual e a construção coletiva do conhecimento.
Para o aluno, o desafio é igualmente grande. Usar inteligência artificial não pode significar copiar respostas prontas. Pelo contrário: exige ainda mais responsabilidade intelectual. Aprender, daqui para frente, passa por saber perguntar, analisar respostas, identificar inconsistências, reconhecer vieses, refinar ideias e assumir autoria. A IA pode até sugerir caminhos, mas não substitui a capacidade humana de interpretar, relacionar, contextualizar e tomar decisões.
Os desafios são muitos. Há riscos de superficialidade, plágio disfarçado, perda de autoria, dependência tecnológica, além de questões éticas relacionadas à privacidade de dados, transparência e desigualdade de acesso. Por isso, o debate não pode ser nem ingênuo, nem alarmista.
As oportunidades, no entanto, são igualmente grandes. A inteligência artificial pode apoiar uma aprendizagem mais personalizada, ajudar estudantes com diferentes ritmos, estimular projetos interdisciplinares, fortalecer a colaboração e liberar o professor de tarefas mecânicas. Assim como a Enciclopédia Barsa ampliou o acesso ao conhecimento em seu tempo, a IA pode ampliar as possibilidades de aprender desde que não seja tratada como substituta do pensar.
Diante disso, as instituições de ensino têm um papel central. É fundamental que adotem códigos de boas práticas para professores e alunos, invistam em capacitação contínua e construam um verdadeiro pacto de utilização da inteligência artificial, baseado em ética, responsabilidade, transparência e aprendizagem crítica.
No fim, a inteligência artificial continuará avançando. E a pergunta mais importante talvez não seja o que a inteligência artificial pode fazer pela educação, mas que tipo de educação estamos dispostos a construir a partir das escolhas que fazemos agora. E, diferente da época da Barsa, não teremos décadas para decidir.
Referências
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