Bloomberg — Os principais líderes da China intensificaram os esforços de caráter urgente para reavivar o crescimento do país, com promessas de apoiar os gastos fiscais e estabilizar o setor imobiliário. Haverá novas medidas de estímulo destinadas a deter a desaceleração da segunda maior economia do mundo.
A reunião do presidente Xi Jinping com os 24 membros do Politburo – o comitê executivo do Partido Comunista – foi concluída com a promessa de adoção de esforços para atingir as metas econômicas anuais do país, informou a agência oficial de notícias Xinhua nesta quinta-feira (26).
As autoridades prometeram tomar medidas para fazer com que o mercado imobiliário “pare de declinar”, em sua promessa mais forte de estabilizar o setor crucial, depois que os preços das casas novas caíram em agosto em relação ao mês anterior no ritmo mais rápido desde 2014.
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O governo limitará estritamente a construção de projetos de casas novas, disse o Politburo, como parte dos esforços para diminuir o excesso de oferta residencial. Não foram fornecidas informações específicas sobre o tamanho dos gastos fiscais, e é provável que as agências forneçam os detalhes nos próximos dias e semanas.
Segundo fontes disseram à Bloomberg News, o governo considera uma injeção de 1 trilhão de yuans (US$ 142 bilhões) em bancos estatais para que possam suportar a economia, o que, se confirmado, seria a primeira medida nesse sentido desde a crise financeira global de 2008.
A leitura do Politburo foi notável por sua linguagem específica sobre cortes de taxas, por exemplo, em comparação com suas declarações tipicamente abrangentes – ou genéricas.
Essa mudança ressalta a necessidade de as autoridades falarem diretamente com os mercados, dias depois que o banco central lançou uma poderosa abordagem de política monetária que fez com que o índice de ações de referência registrasse a maior alta desde 2020.
As instruções sobre o setor imobiliário marcaram “a primeira vez desde o início da desaceleração que o Politburo visou explicitamente uma recuperação do mercado”, disse Julian Evans-Pritchard, chefe de economia da China na Capital Economics, em uma nota.
A leitura do Politburo foi feita horas antes do normal, logo no início das negociações da tarde. Após sua divulgação, o índice CSI 300 da China – um indicador das ações chinesas onshore – ampliou os ganhos para 4,2%, apagando as perdas do ano, enquanto um indicador de desenvolvedores imobiliários monitorado pela Bloomberg saltou 15,9%.
O rendimento dos títulos de 10 anos da China subiu 3 pontos-base, para 2,06%, com a alta das ações. O yuan se fortaleceu 0,2%, sendo negociado a 7,02 por dólar no mercado onshore, às 16h20 no horário local.
O foco na economia na reunião do Politburo deste mês – a primeira vez desde 2018 – foi incomum e demonstra o desejo das autoridades de acalmar a crescente ansiedade econômica depois que o crescimento da China desacelerou para o pior ritmo em cinco trimestres.
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Busca para restaurar a confiança
Os líderes pediram “calma” para lidar com os atuais desafios econômicos, ao mesmo tempo em que pareciam reconhecer que era hora de mudar de marcha. As autoridades receberam instruções claras para “enfrentar as dificuldades, fortalecer a confiança e aumentar seriamente o senso de responsabilidade e a urgência de realizar bem o trabalho econômico”.
De modo geral, os economistas veem o anúncio como um pivô – ou ponto de inflexão – em relação à abordagem fragmentada anterior das autoridades para impulsionar a economia, mesmo que a extensão de qualquer estímulo fiscal ainda não esteja clara.
“Esse pacote de estímulo endossado pela reunião de hoje do Politburo representa uma mudança estratégica na política macroeconômica”, disse Bruce Pang, economista-chefe da Jones Lang LaSalle para a Grande China.
“Se houver apoios fiscais mais substanciais e um aumento nos gastos do governo, isso provavelmente será suficiente para impulsionar uma reviravolta na confiança das empresas, no sentimento do mercado e nas atividades econômicas.”
Em um sinal de que o governo está cada vez mais preocupado com o mal-estar econômico, o Politburo prometeu reforçar a ajuda às pessoas com dificuldades para encontrar emprego e aos grupos de baixa renda. No dia anterior, o governo do país disse que ofereceria uma ajuda única em dinheiro aos residentes que enfrentam dificuldades e prometeu mais benefícios para desempregados.
O Politburo também pediu às autoridades que “emitam e façam bom uso” dos títulos soberanos especiais ultralongos e das notas especiais locais para impulsionar o investimento.
Os governos locais aceleraram a emissão de títulos desde agosto, depois de manterem um ritmo lento nos meses anteriores, pois tiveram dificuldades para encontrar projetos de qualidade para investir e, ao mesmo tempo, tentam reduzir os riscos da dívida.
A leitura poderia levar a uma maior expansão dos setores nos quais as autoridades locais podem investir para facilitar o uso da ferramenta, disse Ding Shuang, economista-chefe para a Grande China e o Norte da Ásia do Standard Chartered. Uma maneira eficaz seria permitir que os governos locais comprassem casas não vendidas com uso de fundos obtidos com a venda de títulos especiais, disse ele.
Exceção rara na reunião do Politburo
O órgão decisório normalmente dedica apenas suas sessões de abril, julho e dezembro a discussões sobre a situação econômica atual.
A última vez que uma reunião desse tipo ocorreu fora desses meses foi em março de 2020, de acordo com as leituras oficiais, quando a China – e o mundo – sofria com os impactos mais agudos do começo da pandemia de Covid-19. Nos últimos quatro anos, as sessões de setembro se concentraram principalmente nos temas de disciplina do partido ou no trabalho interno.
O Politburo também pediu a implementação vigorosa de cortes nas taxas de juros e nos requisitos de reserva para os bancos, medidas de flexibilização anunciadas pelo banco central chinês nesta semana.
Apesar disso, as ameaças à economia continuam. A crise imobiliária que se arrasta há anos e que dizimou uma riqueza estimada em US$ 18 trilhões das famílias esmagou o apetite por gastos e levou a China à sua mais longa série de deflação desde 1999. As tensões comerciais com os EUA e a Europa sobre as alegações de excesso de capacidade chinesa estão lançando uma nuvem sobre o motor da fábrica, que continua sendo um raro ponto positivo.
A recente série de medidas de estímulo ajudou a reduzir, até certo ponto, as preocupações de que a China não atingirá sua meta de crescimento anual de 5%.
Anteriormente, economistas de bancos de Wall Street, incluindo o Goldman Sachs, cortaram suas previsões para o PIB do ano inteiro, na esteira dos dados econômicos mais fracos de agosto, que mostraram que a produção, o consumo e o investimento esfriaram de forma generalizada.
“A frequência e a magnitude das implementações de políticas excederam nossas expectativas”, escreveram em uma nota os economistas do HSBC, incluindo Jing Liu. “A maré mudou; esteja preparado para iniciativas mais proativas.”
— Com a colaboração de Ocean Hou, April Ma, Fran Wang e Paul Abelsky.
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