Concord tenta inspirar-se noutros jogos semelhantes, mas as personagens, gameplay e história do jogo são demasiados genéricos para justificarem um preço de 39.99€.
Que mais é possível dizer sobre Concord que ainda não foi dito? Este é sem dúvida um dos projetos mais desapontantes em toda a história da PlayStation, uma empresa que sempre nos habituou a grandes e aguardados lançamentos, e lá vou eu colocar mais um prego no seu caixão moribundo.
De facto, Concord estava destinado ao fracasso desde a sua génese: um novo shooter num dos géneros mais saturados da atualidade, apoiado por uma companhia amplamente conhecida pelas suas experiências single-player, com toques básicos de ficção científica e com uma promoção quase nula. Eis todos os ingredientes para um desastre de proporções épicas.
Como um shooter 5v5 de heróis, o funcionamento de Concord é bastante direto e sentir-te-ás em casa se jogaste outros jogos semelhantes. As comparações com Overwatch e Marvels Rivals são inevitáveis, já que temos um vasto conjunto de personagens – cada uma com look, poderes e habilidades distintas – que se defrontam num tom frenético no meio de arenas labirínticas.
Condenado ao fracasso desde o início
Analisando esta descrição, dá para acreditar que foram necessários 8 anos para desenvolver este jogo? Não consigo deixar de me questionar relativamente ao que a Firewalk Studios fez durante todo este tempo, uma vez que as 16 personagens, 12 mapas e 6 modos atualmente presentes não o justificam. Existe uma sensação genérica que paira sobre todo o jogo e, no seu estado atual, é justo apontar uma certa redundância e inutilidade.
O esqueleto de um projeto sólido está lá, mas o estúdio não conseguiu introduzir ideias suficientes para inová-lo e distingui-lo face aos mil e um outros títulos semelhantes que podes neste momento jogar. A ideia que transmite (e vou usar alguma ironia) é que alguém pediu ao ChatGPT para fazer um shooter de heróis de ficção científica e Concord foi o resultado obtido, sem qualquer elemento único que o torne uma opção viável.
Abordando concretamente o jogo, e reforçando o que foi dito anteriormente, existem várias personagens únicas (16 no total) que se adaptam a diferentes estilos de jogo: Haymar possui habilidades pirotécnicas, Vale usa uma sniper rifle para atacar os inimigos, Roka utiliza um canhão como arma principal, e poderia continuar a descrever infinitamente os heróis de Concord. Todos possuem um vasto arsenal à sua disposição e ainda poderes especiais que podem mudar o curso da batalha, obrigando-me a experimentar todos eles até encontrar os que mais se enquadravam às minhas abordagens defensivas.
Apesar de pouco memoráveis, quer em design quer em personalidade, a variedade está lá, e uma equipa bem organizada é essencial para o sucesso das missões. Todas as personagens são responsivas e, em poucos mas valiosos momentos, é possível detetar um grande grau de polimento com altos valores de produção à mistura.
Alguma diversão esporádica
O gameplay possui algumas ocasiões divertidas e existem muitas estratégias ao nosso dispor mediante o herói que escolhemos; o combate possui alguns laivos de brilhantismo aqui e acolá, e o facto de poderes escolher um herói diferente sempre que morres é um incentivo extra para regressar à arena com coragem revigorada, percorrendo os belos mapas que a equipa criou para o jogo. Ao jogares, poderás desbloquear vários itens de personalização de personagens, incluindo Variantes Freegunner, mas o embrulho é de tal maneira aborrecido que qualquer motivação amealhada rapidamente esgota.
Concord eleva a fasquia em termos visuais (caso consigas afastar da mente todas as referências mais do que óbvias à franquia Guardians of the Galaxy). As cores destacam-se, a iluminação é de cortar a respiração e há algumas paisagens genuinamente de fazer cair o queixo. Existem mapas de todas as formas e feitios, usando desertos, complexos industriais ou o que parecem ser templos exóticos como pano de fundo. Após alguns problemas iniciais que foram removidos após a instalação de uma atualização, posso revelar que o jogo funciona super bem, sem qualquer problema de performance para relatar. De um ponto de vista puramente gráfico, Concord é realmente um jogo muito bonito e o seu desempenho é excecional, algo imperativo num jogo multiplayer como este.
Os gráficos são um dos (poucos) pontos positivos
Esta beleza alastra-se às cutscenes do jogo, onde podemos ver algumas personagens a interagirem umas com as outras. O problema? A história é desarticulada e praticamente incompreensível. Continuo sem perceber quem são estas pessoas, quais os seus objetivos, como se conheceram, se existe algum vilão, entre uma dezena de outras questões que me assolaram a cabeça. Mesmo lendo o Guia Galáctico, um mapa gigantesco que revela um pouco mais sobre o lore e mundo do jogo, não cheguei a quaisquer conclusões. Espero que as próximas cutscenes anunciadas pela Firewalk expandam de forma clara o universo de Concord e lhe confiram uma dose acrescida de personalidade.
Resta-me apenas mencionar os diferentes modos de jogo presentes em Concord, divididos em três categorias principais: Luta, Invasão e Rivalidade. Todavia, dentro de cada modo, terás um objetivo distinto gerado aleatoriamente, incluindo eliminar rivais, defender zonas, colocar cargas, entre outros – nada propriamente inovador. Caso queiras um desafio extra, o modo Rivalidade é o único que não possui reaparecimento, que desbloqueias assim que atingires o nível 6. Para os novatos no género, ou para aqueles que pretendem apenas testar as diversas personagens e as suas habilidades de forma simples e segura, existem também tutoriais e campos de treino disponíveis.
Temo pelo futuro de Concord
Com um pico de 697 jogadores no Steam, temo pelo futuro de Concord. Em jeito de curiosidade, não tive qualquer problema com o matchmaking, desde que ativasse o crossplay: jogar apenas com jogadores no PC colocava-me num limbo infinito e angustiante. Isto faz-me crer que existe a possibilidade de o jogo estar com maior adesão na consola PS5 e veremos se a PlayStation partilha alguns dados nesse sentido.
Dito isso, os momentos de diversão que tive com Concord foram praticamente nulos e pergunto-me se o jogo teria tido outro destino se fosse lançado num modelo free-to-play, ao invés do seu preço atual de 39,99 €. Ver um jogo deste calibre e género sem as constantes e irritantes microtansações é deveras refrescante, mas a falta de um “gancho” singular para agarrar os jogadores foi a sua sentença letal.
Se Concord não atingiu o sucesso agora, dias após o lançamento, será quase impossível fazê-lo nos próximos tempos, a não ser que a Firewalk se comprometa a uma mudança bastante drástica. Por vezes, dava comigo a pensar se existe a possibilidade de Concord ter começado como um projeto inteiramente diferente – quiçá, um jogo de aventura espacial – mas ao longo dos anos foi despido até chegarmos ao produto final que recebemos. Aconteça o que acontecer no futuro, este será para sempre um dos lançamentos mais desastrosos para a PlayStation.
Prós: | Contras: |
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