(Foto: Agência J.Somensi)
“O problema é o insumo para aplicarmos tecnologia. É a partir disso que possibilitamos a transformação de empresas e pessoas.” Foi com essa positividade que Guilherme Brasil, Diretor Executivo de Tecnologia (CTO) da Softplan, deu início às palestras do segundo dia do Construsummit 2024, falando sobre a revolução dos dados na construção e o impulso da inteligência artificial.
Entre muitas plenárias, trilhas e mentorias, a gestão de dados na construção civil tem sido um tópico recorrente entre os debates. Quando relacionada à inteligência artificial, a discussão é ainda mais profunda. O cenário exige uma transformação digital que garanta variedade de informações passível de integração, e, para possibilitar a produtividade a partir disso, as ferramentas de inteligência artificial se mostraram uma grande aliada para o setor.
Na palestra, Guilherme Brasil identificou três problemas que norteiam a aplicação da ferramenta na indústria: a digitalização (em especial, a variedade de dados e fontes em nuvem), a integração (considerando que essas informações estão em uma cadeia super fragmentada) e a industrialização, já que cada obra acontece em um universo distinto e com adversidades ímpares.
Esses três pontos refletem os resultados de um estudo feito em 2015, pela consultoria de gestão global McKinsey&Company, que coloca o setor da construção civil em penúltimo lugar no ranking de digitalização de indústrias.
Hoje, no entanto, o cenário não é mais o mesmo. Ao longo dos dez últimos anos, ao investir em tecnologia, o setor criou mais de 65TB de dados, além de mais de 350M de transações de integração (as APIs) — números contabilizados somente nas plataformas do Sienge (sistema da Softplan para a construção civil).
Com a evolução, Brasil aponta os passos seguintes. “Nosso próximo desafio é dar um salto de produtividade. E, para isso, a Inteligência Artificial (IA) é uma aliada perfeita”, comenta o CTO.
Mas o que é inteligência?
Antes de seguir com a aplicação das soluções, o diretor executivo de tecnologia provoca a plateia com a pergunta: “o que é inteligência?”.
Para humanos, é a capacidade mental de aprender, raciocinar, resolver problemas, pensar abstratamente, compreender ideias complexas e adaptar-se a novas situações. E, ainda assim, ela é particular — às vezes mais linguística, às vezes mais matemática, às vezes mais artística.
Para as ferramentas de inteligência artificial, o conceito é ainda mais complexo. Trata-se de sistemas computacionais, desenvolvidos ao longo de décadas, que simulam uma fração da inteligência humana — usando tecnologias como machine learning, redes neurais, visão computacional, processamento de linguagem natural, robótica, big data, agentes inteligentes e sistemas especialistas (hiper automação), sistemas de recomendação e deep learning.
Humana ou artificial, é fato: as inteligências têm o mesmo processo de aprendizado. O primeiro passo é a captação de dados (no caso de seres humanos, utilizando de cinco sentidos diferentes). Uma vez estruturados e combinados, cria-se uma informação. Essa informação, quando contextualizada, gera conhecimento.
“É por isso que eu digo: na IA, tudo depende de contexto! Quanto mais contexto, mais eficiente é a ferramenta”, Brasil comenta. “Todos os dias, quando olhamos para o ecossistema do Sienge, procuramos dar mais contexto, para sermos mais eficientes.
Nossos sensores são as plataformas de gestão; os softwares conectados (primeiro de digitalização e, depois, de integração); o BIM, por ser uma fonte de dados que conecta toda nossa rede de informações com o elemento final, ou seja, a obra; e, claro, a internet das coisas”.
Para exemplificar uma aplicação simples de inteligência artificial nos canteiros de obras, o CTO usou o reconhecimento de padrões faciais. Entre as muitas utilidades, a alternativa pode fazer o balanço de trabalhadores e garantir que estejam devidamente trajados com equipamentos de segurança, como capacetes.
“Qual meu recado para vocês aqui? Não negligenciem, sob nenhuma hipótese, a construção e estruturação dos seus dados e a conexão com o seu cliente. Porque, se nós não tivermos isso, nenhuma técnica de IA, por mais avançada que seja, conseguirá nos ajudar”, diz o palestrante.
Ele continua. “Talvez tenha chegado a hora de todas as empresas da construção civil deixarem de ser empresas que usam tecnologia, para se tornarem empresas de tecnologia que constroem. Como disse o Ionan Fernandes, na plenária de ontem, a IA não vai substituir as pessoas…, mas quem usar IA vai substituir quem não usa”, finalizou.