No fim de fevereiro, Eike Batista anunciou — com evento recheado de apresentações e grandes números — seu retorno aos projetos bilionários, desta vez voltados para a produção de uma supercana-de-açúcar. E, para financiar a empreitada, uma criptomoeda que leva o nome do empresário. Agora, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), reguladora do mercado de capitais, busca esclarecimentos sobre o Eike Token.
A autarquia quer entender se existe alguma irregularidade na oferta desses tokens, que poderiam estar sendo comercializados com características similares a de valores mobiliários, informou o site Pipeline, do Valor. Ou seja, por ora, é apenas um pedido de informação, não estando ligado nem condicionado à abertura de processo.
A CVM confirma que o assunto está sendo analisado, mas não comenta casos específicos.
A versão repaginada do ex-bilionário — que fez fama e fortuna com o extinto Grupo X, que reunia empresas principalmente na área de petróleo e mineração — agora tem como foco principal ativos sustentáveis, num projeto descrito como um “unicórnio disruptivo de biotecnologia”.
A supercana, garante Eike, pode produzir o dobro ou até o triplo de etanol e de sete a 12 vezes mais biomassa que a cana-de-açúcar tradicional. Com esse volume, seria possível ter produção competitiva e evoluir para a produção de etanol, combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) e embalagens biodegradáveis, uma opção ao plástico.
Promessa de valorização
Os questionamentos da CVM miram no Eike Token, desenvolvido pela plataforma de blockchain Solana e lastreado em ativos da nova companhia e em sua ainda vindoura produção. O criptoativo tem como imagem o sol que já foi símbolo da EBX, holding do antigo império do empresário, e que passou a ícone do agora Batista Group. No centro desse sol, vê-se o rosto do ex-bilionário. Nos áureos tempos, Eike chegou a ser a sétima maior fortuna no mundo, de acordo com ranking da Forbes.
Ao anunciar o criptoativo como estratégia para financiar a empreitada com a supercana, Eike explicou que a meta é levantar US$ 100 milhões, o que representaria 10% do valor atual do negócio, que seria de US$ 1 bilhão. Cada token está sendo oferecido a US$ 1, mas com o potencial, diz o empresário, de valorizar em 63 vezes após a maturação da companhia, alcançando US$ 63 bilhões em valor.
Toda a operação da supercana está sob o chapéu de uma empresa com sede nos EUA, a EBX Digital Green. O plano é que ela tenha três subsidiárias, no país, no Brasil e nos Emirados Árabes — de onde vem o capital a ser aportado no projeto.
Eike, no entanto, não é formalmente sócio da companhia, identificando-se como o idealizador do projeto, sendo ainda o garoto-propaganda da supercana.
Com as dificuldades enfrentadas pelas companhias do Grupo X, o ex-bilionário foi denunciado por crimes contra o mercado de capitais, tendo sido condenado pela CVM. Já no âmbito da Lava-Jato, foi citado por corrupção ativa, manipulação de mercado e lavagem de dinheiro. Chegou a ser preso em duas ocasiões e assinou acordo de delação premiada. Com bens bloqueados por medidas judiciais, não ingressa como sócio em empresas.
No caso da supercana, ele explicou que, embora não seja sócio, tem direito de subscrição de ações do negócio sujeitas a performance.
O advogado do empresário, Daniel Bar, informou que a CVM “apenas pediu informações preliminares sobre a cripto a partir do que tem sido noticiado sobre o assunto. Trata-se de uma análise de caso, um procedimento absolutamente natural”. E que as solicitações serão respondidas “nos prazos regulamentares”, acrescentando que os tokens estão em fase de pré-lançamento nos EUA.