Cada vez mais, empresas têm compreendido que os dados são a base estratégica dos negócios modernos e que eles são responsáveis por impulsionar a inteligência de mercado, a personalização de produtos e o aumento da eficiência operacional. No campo da Inteligência Artificial (IA), essa característica se intensifica: dados de qualidade, com governança e proteção adequadas são essenciais para treinar modelos de larga escala, evitar vieses e sustentar decisões mais precisas.
Mas duas perguntas urgentes precisam ser feitas: estamos preparados para essa explosão no uso da IA? Qual será o seu custo energético? Segundo a Agência Internacional de Energia, até 2027 o aumento do consumo global de eletricidade será equivalente ao surgimento de um novo Japão a cada ano – um dado que chama a atenção.
Enquanto o mundo avança tecnologicamente, os impactos ambientais ficam cada vez mais visíveis. Tive recentemente a oportunidade de passar uma semana com a Comunidade Quilombola Vão do Moleque, em Goiás, onde pude refletir sobre essa dualidade entre progresso e preservação.
O Cerrado, onde essa comunidade está localizada, é o segundo maior bioma do Brasil e uma das savanas mais biodiversas do planeta. É impossível não se encantar com sua riqueza: são mais de 12 mil espécies de plantas, 850 espécies de aves, 250 de mamíferos e 480 de répteis e anfíbios. Além disso, ele é conhecido como a “caixa d’água do Brasil”, por ser a origem de oito das doze principais bacias hidrográficas do país.
Porém essa biodiversidade está em risco. O Cerrado é hoje o ecossistema brasileiro que mais perde vegetação nativa. Em 2023, foram mais de 7.800 km² desmatados, superando inclusive a Amazônia.
Felizmente, há sinais de esperança. Um exemplo inspirador é o projeto “Cerrado de Pé”, que conheci de perto. A iniciativa apoia cerca de 240 famílias por meio da coleta de sementes nativas para recuperação de áreas degradadas. As mulheres representam 77% dos coletores, promovendo inclusão, geração de renda e revitalização do ecossistema.
E, onde entram a IA e os dados nesse cenário?
A tecnologia é um pilar estratégico na transição de uma postura reativa para uma gestão ambiental proativa, baseada em inteligência e capaz de alimentar centros de processamento com consumo energético responsável.
Um exemplo dessa abordagem é a expansão do projeto Sem Fogo, com o qual o Distrito Federal utiliza IA e visão computacional. O objetivo não é apenas ampliar o monitoramento do Cerrado, mas criar uma capacidade preditiva para otimizar a alocação de recursos e neutralizar ameaças de incêndio antes que se escalem.
Já em escala nacional existem sistemas como o PRODES, DETER e DEGRAD, que utilizam sensoriamento remoto por satélite para monitorar desmatamento, uso da terra e cobertura florestal. Essas ferramentas são vitais para políticas públicas, ações de conservação e iniciativas como o REDD+.
Mais do que nunca, dados e IA devem ser aliados estratégicos na luta ambiental. No Brasil, uma cultura orientada a dados já se destaca como diferencial competitivo não só para reduzir custos e aumentar a produtividade, mas também para enfrentar os desafios climáticos de forma estruturada e inteligente.
A intensificação dos desastres naturais, incêndios florestais e eventos extremos exige que governos, empresas e sociedade civil atuem juntos, com base em políticas embasadas e modelos preditivos.
Aqueles que construírem estratégias baseadas em dados integrados, Inteligência Artificial responsável, governança sólida e planejamento ambiental estarão mais preparados para liderar a transição para uma economia sustentável e regenerativa. E para proteger o futuro do Brasil.
Andrea Fodor, CEO da Hitachi Vantara Brasil.


