O boom de investimentos em inteligência artificial começa a entrar em uma fase considerada “perigosa” por parte do mercado financeiro. O alerta vem da Bridgewater Associates, uma das maiores gestoras de hedge funds do mundo, diante da crescente dependência das big techs de capital externo para sustentar os altos custos da corrida pela IA.
Em nota a investidores, o co-CIO da Bridgewater, Greg Jensen, afirma que há uma “probabilidade razoável” de o mercado caminhar para uma bolha. Segundo ele, o ritmo atual de gastos supera a capacidade de financiamento via fluxo de caixa das próprias empresas, o que tem levado companhias de tecnologia a buscar fontes externas de recursos para manter seus planos de expansão.
O alerta reflete um maior nervosismo entre investidores, que passaram a questionar se o volume de recursos direcionado à inteligência artificial é sustentável no longo prazo. Embora a tecnologia já esteja profundamente integrada à economia, cresce a preocupação com a capacidade de esses investimentos se converterem em lucros concretos no médio prazo.
Segundo relatório do UBS divulgado no mês passado, o financiamento de projetos e data centers de IA somaram US$ 125 bilhões até novembro deste ano, ante US$ 15 bilhões no mesmo período de 2024. O salto evidencia a dimensão da infraestrutura exigida para acompanhar a crescente demanda por poder computacional.
Parte da tensão recente ganhou força após a Oracle divulgar projeções fracas de vendas e lucro para o terceiro trimestre. As ações da companhia chegaram a cair 16,5% na quinta-feira (12), segundo a CNN. Um dia antes, a empresa, que vem recorrendo a dívidas para financiar investimentos em IA, havia alertado que seus gastos de capital no ano fiscal de 2026 devem ficar US$ 15 bilhões acima do estimado em setembro.
No início de dezembro, o Bank of England alertou para uma possível bolha em ações de IA, impulsionada por trilhões de dólares em dívida voltada à infraestrutura. Segundo a instituição, uma eventual correção de preços pode gerar riscos sistêmicos. O relatório também aponta para a crescente interdependência entre empresas de IA e os mercados de crédito, o que amplia as vulnerabilidades do sistema financeiro global.
De acordo com a Reuters, Greg Jensen, da Bridgewater, destacou em sua carta que atender à demanda por computação exigirá uma expansão física sem precedentes de data centers, processo que enfrenta diversas limitações, como disponibilidade de energia e gargalos de infraestrutura. Ainda assim, o executivo reconhece a forte valorização dos ativos em todo o ecossistema de IA, com valuations em alta, além da crescente concentração da economia norte-americana em torno dessa tecnologia.
O recado da gestora, portanto, não é um freio imediato à inovação. A corrida pela liderança em inteligência artificial segue acelerada, mas cada vez mais dependente de capital externo – um fator que pode se tornar um risco caso os retornos demorem a aparecer.